Quais os motivos para a nova onda de Covid-19 no exterior e como isso afeta o Ceará?

Grupo não imunizado concentra aumento de casos e necessidade de restrições por países europeus; especialistas analisam cenário cearense

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Protesto na Áustria
Legenda: Manifestantes anti-vacina da Áustria protestam contra medidas do país para quem se recusa a ser imunizado. Os contrários à vacinação são os responsáveis pelo aumento de casos na Europa, segundo autoridades
Foto: Georg Hochmuth/AFP

Saber que países europeus estão em alerta pelo aumento de casos da Covid-19 preocupa no mesmo momento em que cearenses observam o efeito positivo das vacinas. O baixo índice de imunização e o afrouxamento de regras sanitárias são apontados como causas da nova onda no exterior.

Movimento de casos na China e depois na Europa, já observado anteriormente, serve como atenção para evitar o aumento de casos nas Américas. 

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O crescimento em países onde a vacinação não alcançou índices satisfatórios já era esperado por especialistas da saúde. “Quem está aparecendo positivo (para a doença) são pessoas que não foram vacinadas e isso só alerta para que a gente acelere o processo de vacinação”, explica o imunologista Edson Teixeira.

Desde o início da campanha de vacinação, há quase 10 meses, 5.206.212 cearenses completaram o esquema vacinal. O número corresponde a 56,66% da população, com base nas estimativas populacionais para 2021.

Parte dos países europeus observa o aumento na velocidade da infecção pela Covid-19 e buscam medidas, como aplicação de doses de reforço, além da exigência do comprovante de imunização em estabelecimentos. No Leste Europeu, a preocupação é maior.

Na região, a Romênia tem 35,8% de vacinados com as duas doses, ou dose única, e na Bulgária o índice está em 23,7%. Os dados são reunidos pela plataforma Our World in Data, usada por instituições de ensino como a Universidade de Harvard, com atualização na segunda-feira (15).

Mesmo com índices mais altos de imunização, também há movimento de contenção da doença na França (68,7%), Alemanha (67%), Áustria (63,3%) e Dinamarca (76,2%). 

“Tem alguns países com a população bem imunizada, mas existem pessoas que não receberam. A vacina protege contra os casos graves e você pode ser infectado, mesmo vacinado, o vírus continua circulando”, explica o virologista Mário de Oliveira.

Mônica Façanha, médica infectologista, explica que as vacinas protegem contra os vírus circulantes, contudo a adesão mundial precisa aumentar. “A proporção de casos graves está menor, porque existe um percentual grande de pessoas vacinadas, mas em algumas áreas se concentram pessoas não vacinadas e a doença está pior”, frisa.

Como os cearenses são impactados

Ainda não há definida uma meta de vacinação para o fim da pandemia, mas os especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste apontam 80% da população imunizada como um índice alto. Até lá, deixar de lado o uso de máscaras e o distanciamento social não faz parte de uma estratégia efetiva.

A taxa que a Alemanha está divulgando, em torno de 65%, é parecida com a que a gente tem. Então, a gente corre risco de ter muitos casos, principalmente, se tiver alguma região do Estado com bolsões de não vacinados
Mônica Façanha
Infectologista

A especialista se refere às cidades onde a adesão da vacina está baixa e a necessidade de alcançar esse público com rapidez. Em Fortaleza, por exemplo, 146 mil pessoas ainda não receberam nenhuma dose.

“Desde o início da pandemia, a disseminação da infecção tem sido essa: começam os casos na China, depois na Europa e chegam nas Américas”, detalha Mônica.

Edson Teixeira, também professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça a exigência de alcançar mais pessoas com a imunização. “O Ceará tem uma tradição vacinal muito forte e o risco é menor, mas (o aumento de casos na Europa) é um alerta para que a gente não deixe de lado a vacinação”.

Sobre o impacto de uma nova onda no País, a certeza é a necessidade de não abandonar as medidas preventivas. “A gente percebe que a pandemia começou fora e atacou o Brasil de uma maneira terrível. Esse risco existe, principalmente, agora com essa flexibilização das máscaras”, reforça Mário.

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O Ceará é o 2º estado do Nordeste com maior número de casos confirmados da doença, com 994.287 testes positivos, atrás somente da Bahia, onde são 1.249.100 casos. A análise dos estados brasileiros está disponível no IntegraSUS, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Os dados também mostram que a positividade dos exames para identificação da doença apresenta queda nos últimos meses em paralelo ao avanço da vacinação. No 2 de maio, a taxa de positividade era de 47%, enquanto no dia 31 de outubro foi de 7,4% - queda de 84,2%.

Cenário regional

Os encontros com maior número de pessoas devem acontecer com os cuidados já conhecidos para evitar aumento da transmissão.

“É uma preocupação grande, porque a gente não tem como controlar as grandes festas. É muito complicado fazer todo mundo ir de máscaras, as pessoas vão comer e beber e tiram”, pontua Mônica Façanha.

Máscara
Legenda: Medidas como uso de máscaras são eficazes para evitar aumento na transmissão
Foto: Fabiane de Paula

Análise compartilhada pelo virologista Mário de Oliveira. “Não acho interessante ter uma abertura para festas, de ano novo e carnaval, pelo que está acontecendo: basta flexibilizar, mesmo com as pessoas vacinadas, o vírus continua circulando e há crescimento de casos”

O especialista explica que o coronavírus “não demonstra sazonalidade, mas na quadra chuvosa pode haver um aumento da circulação”. Por isso a importância de aumentar o número de imunizados antes da quadra chuvosa, iniciada em fevereiro no Ceará.

Uma pessoa não vacinada não tem um esquema de proteção no corpo, o que implica dizer que essa pessoa vai produzir e expelir uma carga viral maior”
Mário de Oliveira
Virologista

Medidas com a exigência de comprovante de vacinação, válida no Ceará, contribui para evitar a transmissão da doença. "A necessidade do comprovante de vacina e isso é muito bom, porque as vacinas não evitam a transmissão, o risco é baixo", explica o professor Edson Teixeira.

As medidas como uso de máscara e distanciamento, então, devem permanecer até atingir alto nível de imunização. "De modo geral a gente aceita uma cobertura para redução quando a gente atingir 80% de pessoas com as doses, mas quem vai dizer a hora é a imunologia".

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