Sem anuência para deixarem o PDT, deputados do Ceará avaliam judicializar desfiliação do partido
Anulação do Diretório Estadual é a segunda, após uma decisão semelhante ser tomada pela Executiva Nacional em novembro
O grupo de dissidentes do Partido Democrático Trabalhista (PDT) ligado ao senador Cid Gomes, que teve as cartas de anuência para desfiliação com manutenção do mandato anuladas, já avalia entrar na Justiça para reverter a decisão tomada pela comissão provisória que dirige a sigla no estado. A informação foi confirmada por integrantes do agrupamento ao Diário do Nordeste nesta sexta-feira (26).
No total, 14 parlamentares com cadeiras na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e na Câmara dos Deputados tiveram seus documentos de anuência cancelados na noite desta quinta-feira (25). Os papeis foram concedidos pelo próprio Cid quando ainda dirigia o diretório estadual, depois de um longo conflito entre correntes internas e brigas judiciais.
Veja também
Lista de deputados que tiveram carta de anuência anulada
- Salmito Filho
- Antônio Granja
- Sérgio Aguiar
- Romeu Aldigueri
- Oriel Filho
- Marcos Sobreira
- Lia Gomes
- Jeová Mota
- Helaine Coelho
- Guilherme Landim
- Guilherme Bismarck
- Osmar Baquit
- Bruno Pedrosa
- Tin Gomes
O que dizem os políticos
Um dos políticos que foram alvo da ação recente da comissão pedetista foi o deputado estadual Guilherme Bismark, que classificou a situação como "mais um capítulo triste dessa novela". "Naturalmente será judicializado. Se eles anularam num ato interno, reconhecem que era válida. Logo questionar-se-á a legalidade da anulação. Qual o critério?", questionou. Segundo ele, o ingresso na Justiça conjuntamente ainda não foi definido.
Colega de parlamento de Bismark, Osmar Baquit afirmou haver uma equipe de defesa atuando em ações relativas ao assunto. "Já temos advogados que estão atentos a qualquer questão", pontuou o entrevistado, que disse confiar nos profissionais contratados. "Estou tranquilo", completou.
A expectativa é que, em breve, aconteça um encontro entre os cidistas envolvidos na sanção executada pela comissão provisória. Isso foi que revelou o deputado estadual Guilherme Landim. "Não conversamos ainda. Acredito que na semana que vem a gente deva se reunir para ver isso aí", comentou. "Acho que não muda nada, estão só demonstrando o que havia no partido antes", considerou.
Landim lembrou ainda de uma ação anterior, movida conjuntamente por ele e seus aliados, para o reconhecimento de uma perseguição pelo grupo próximo do presidente nacional interino do PDT e deputado federal, André Figueiredo.
Irmã de Cid Gomes e de Ciro Gomes - que faz parte da aliança com Figueiredo -, a deputada estadual Lia Gomes considerou que a questão apontada agora pela comissão provisória não é nova. "Essas alegações deles já estão nos autos do processo. Não há nenhuma novidade nisso", argumentou. "Acredito que estão tentando criar um fato novo, onde não há. O processo está na Justiça e nós vamos continuar aguardando a sua decisão", completou.
Já o líder do Governo Elmano na Alece, Romeu Aldigueri, foi crítico ao movimento dos, até agora, correligionários que compõem a direção partidária. "Essa é só mais uma atitude que demonstra a perseguição e a discriminação partidária que esse grupo de parlamentares vem sofrendo dentro da agremiação", destacou.
"O diretório estadual do PDT-CE aprovou as cartas de anuência, e agora, a nova executiva acha que pode simplesmente anular essa decisão. Eles não têm esse direito! O diretório é superior na hierarquia partidária. Isso é um absurdo, um desrespeito total à maioria do diretório que legitimamente aprovou as anuências", reforçou a liderança governista.
Antônio Granja, por sua vez, quando indagado, alegou estar distante da Capital cearense e, portanto, não sabia da anulação das cartas e iria se abster de tecer comentários. "Não tomei conhecimento", enfatizou.
A reportagem buscou os demais deputados e deputadas que tiveram o benefício cassado pelo PDT Ceará - através dos seus telefones pessoais e das equipes de comunicação –, a fim de obter uma posição sobre a questão. O conteúdo será atualizado ao ponto que outras respostas forem enviadas.
A assessoria de imprensa do senador Cid Gomes também foi procurada. E informou que o parlamentar estava em viagem e, naquele momento, incomunicável.
Revés das cartas
A entrega das cartas de anuência agora anuladas pela comissão provisória aconteceu em 8 de novembro do ano passado, depois de uma reunião da Executiva estadual. Na época, correntes internas viviam uma tensão e, antecipando de uma manobra que tentava tirar Cid da presidência do PDT Ceará, os insatisfeitos aprovaram por unanimidade a emissão dos documentos. Além dos deputados, dois vereadores de Fortaleza também conseguiram o direito de sair sem perder suas cadeiras.
Da mesma maneira que os demais políticos com mandato legislativo, prefeitos de cidades cearenses e suplentes de parlamentares demonstraram interesse em se despedir. Os primeiros fizeram o movimento de maneira simbólica, já que cargos majoritários não pertencem ao partido e, portanto, não são perdidos caso haja uma migração partidária sem anuência da sigla anterior.
A anulação mais recente não é a primeira. Em 9 de novembro, menos de 24 horas após a concessão do benefício, a Executiva Nacional da sigla anulou a decisão em um encontro realizado na sede da legenda, em Brasília. No mesmo dia, uma intervenção foi confirmada, para destituir Gomes da direção. O procedimento que interviu na estrutura do órgão, no entanto, foi suspenso no dia seguinte por força de uma liminar.
Migração para o PSB
Nesta sexta-feira (26), o diretório estadual do Partido Socialista do Brasil (PSB) marcou para o próximo dia 4 de fevereiro a filiação do senador Cid Gomes e de gestores municipais ligados ao líder político. O grupo deixa o PDT para se filiar a sigla presidida por Eudoro Santana. A informação foi divulgada pelo próprio órgão partidário.
Ao que veiculou a sigla, a "filiação do senador Cid Gomes e de um grupo numeroso de prefeitos irá projetar o PSB como uma das maiores forças partidárias do Estado". O comunicado ainda diz que a chegada do grupo fortalece "o projeto Ceará Cada Vez Mais Forte com Lula, Camilo, Elmano e Cid".
O evento de formalização da chegada do ex-governador ocorrerá na Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), no bairro da Aldeota, em Fortaleza, a partir das 9h.