Racha PT-PDT: como os partidos da base do Governo no Ceará têm se posicionado na crise
Enquanto alguns sinalizam permanecer aliados ao PDT, outras legendas já se movimentam para formar bloco próprio
A escolha do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) para concorrer ao Governo do Ceará, na última segunda-feira (18), repercutiu em todos os partidos que integram a aliança governista. Enquanto alguns já indicam que devem continuar a marchar junto com o PDT para a disputa eleitoral de outubro, outros já sinalizam o desembarque da aliança e, inclusive, com formação de bloco próprio.
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Um dos mais incisivos defensores da pré-candidatura da governadora Izolda Cela (PDT) - que foi preterida em votação do diretório estadual do PDT -, o PT Ceará lançou resolução dura contra a decisão do então aliado: "a exclusão de Izolda representou igualmente a negativa do diálogo na busca de consenso e o pouco apreço à aliança".
Um dia após a decisão do PDT, seis partidos da base aliada no Ceará se reuniram para discutir o rumo na disputa estadual. Junto ao ex-governador Camilo Santana (PT), estiveram presentes dirigentes partidários de MDB, PP, PSDB, PV e PCdoB, além do próprio PT.
Com exceção do PSDB, as outras legendas "assumiram o compromisso de estarem juntos na construção de um caminho comum para as eleições de 2022", diz texto divulgado após o encontro.A legenda tucana, apesar de ter participado da reunião, ainda não definiu com quem irá seguir na disputa estadual, informou o senador Tasso Jereissati (PSDB).
Esperança em continuidade da aliança
Presidente do PDT Ceará, André Figueiredo diz que o partido trabalha ainda "com a esperança de mantermos a coligação", mas considera que a união ficou "mais difícil" após reunião entre parcela dos partidos aliados nesta terça-feira (19). "A gente ainda espera que não haja rompimento. (...) Estamos envolvidos na manutenção desse apoio a esse projeto que vem dando certo há tanto tempo", afirma.
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O próprio pré-candidato do PDT, Roberto Cláudio, afirmou após a escolha pelo seu nome que a "prioridade seria "construir nossa unidade interna, depois disso procurar também, humildemente, todos os nossos aliados".
Antes mesmo da definição, algumas legendas já haviam afirmado que iriam permanecer na aliança independente de quem fosse o pré-candidato escolhido pelo PDT. Após a definição, algumas voltaram a reforçar o apoio ao nome do ex-prefeito de Fortaleza.
Presidente estadual do PSB, o deputado federal Denis Bezerra comentou a escolha de Roberto Cláudio e afirmou: "conte com meu apoio e dedicação para trabalhar pelo nosso Ceará".
"Nosso povo conta com a sua vitória para continuar o trazendo o desenvolvimento que a população merece, vamos juntos levar mais oportunidades de trabalho, educação, saúde de qualidade, qualidade de vida e dignidade para cada cidade do nosso amado estado".
Indefinição na federação
Dois partidos da base aliada precisam marchar juntos para a disputa estadual: PSDB e Cidadania formaram federação partidária e, por conta disso, precisam estar na mesma coligação. Presidente estadual do Cidadania, Alexandre Pereira já manifestou apoio a Roberto Cláudio.
"Nós do Cidadania não temos dúvidas que o melhor prefeito do Brasil será um dos melhores governadores do Ceará. Seguiremos até o último dia trabalhando para unirmos nossa base política", disse Pereira nas redes sociais.
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O PSDB, por sua vez, tem sido mais cauteloso quanto ao posicionamento. O presidente estadual do partido, Chiquinho Feitosa, participou da reunião com o ex-governador Camilo Santana para "ouvir os relatos e levar essas informações ao senador Tasso Jereissati".
Segundo ele, a "palavra final é do senador". Em viagem ao exterior, Tasso usou as redes sociais para manifestar posição sobre o racha da aliança na manhã desta quarta-feira (20). Ele ressaltou que "ainda não há definição" sobre o assunto na legenda.
"Persisti na busca desse consenso de forma isenta. Ainda não existe definição sobre futura aliança na sucessão estadual, e tenho a esperança de evitar o conflito e a abertura do diálogo”.
Pleito por vice
Terceiro partido com maior número de prefeituras, o PSD adotou uma postura de "neutralidade" durante todo o acirramento envolvendo a disputa entre Izolda Cela e Roberto Cláudio. Antes da definição do PDT, o presidente do PSD, Domingos Filho, assinou nota afirmando que o partido iria "respeitar as instâncias de cada partido na escolha de seus candidatos".
"Essa decisão de neutralidade, num processo que precisa de serenidade e mediação, é a mais adequada para diminuir os conflitos das disputas internas que, embora legítimas, não devem ser motivos para o encerramento da aliança que tem conseguido alavancar o desenvolvimento do Estado do Ceará".
Após a escolha de Roberto Cláudio, no entanto, o PSD ainda não se manifestou sobre a posição quanto à aliança. A assessoria de imprensa de Domingos Filho afirmou que ele não se pronunciará sobre o assunto.
Contudo, o presidente do PDT Ceará, André Figueiredo, citou o PSD junto a outros dois partidos (PSB e Cidadania) que haviam dito que continuariam junto com PDT para a disputa pelo governo estadual.
Possibilidade de candidatura própria
Do outro lado, lideranças petistas já admitem a possibilidade de candidatura própria. Vice-presidente nacional do PT, o deputado federal José Guimarães afirmou que o grupo de partidos que se reuniu nesta terça "com certeza" sai com uma candidatura própria. O bloco é composto por PT, MDB, PP, PCdoB e PV. As legendas haviam manifestado preferência por Izolda Cela para concorrer ao Governo do Ceará representando a aliança governista.
"Temos o compromisso de marcharmos juntos e buscar um caminho comum. (...) Evidentemente, ouvindo o ex-governador Camilo Santana, que é o principal maestro desta construção coletiva desses partidos", ressaltou Guimarães.
Por enquanto, ainda não há nomes postos para ser o pré-candidato deste bloco ao Palácio da Abolição. Outras reuniões devem ocorrer até o próximo final de semana para continuar o processo de definição.
Uma das principais lideranças do PP, o deputado estadual Zezinho Albuquerque participou do encontro junto com o presidente do partido, deputado federal AJ Albuquerque.
"Agora esperamos que as coisas andem mais rápido, porque nós só temos poucos dias para uma eleição. O importante é que nós tiramos uma resolução de que esses partidos estarão todos unidos", ressaltou o deputado estadual.
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Representando o senador Eunício Oliveira (MDB) no encontro, o deputado estadual Danniel Oliveira (MDB) afirmou que os partidos estão em uma "aliança, uma união para construir diante de todos os cenários expostos".
"Uma conversa não de um partido apenas, uma conversa da pluralidade, de igual pra igual para que a gente possa obviamente evoluir diante do cenário atual", completou.