MDB, PP e PT são focos de impasses para definição de candidato à sucessão de Camilo Santana em 2022
Os impasses envolvem questões nacionais e locais que precisarão ser resolvidos por lideranças do grupo governista até o ano que vem
A definição do candidato à sucessão do governador Camilo Santana (PT) em 2022 passará pela conciliação de interesses dentro da ampla base de apoio. Partidos como MDB, PP e PT apresentam impasses desde questões nacionais a problemas locais com aliados que tensionam o arco de aliança e exigirão jogo de cintura das lideranças do grupo governista para resolvê-los.
Camilo Santana foi reeleito em 2018 com o apoio de 15 partidos. De lá para cá, pelo menos dois foram para a oposição e estiveram no grupo adversário ao governista na eleição para a Prefeitura de Fortaleza em 2020.
Além disso, algumas das siglas aliadas ao governador cresceram dentro do grupo. O PDT, liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes, continua sendo o maior partido no Ceará, com 66 prefeituras conquistadas no ano passado.
Mas se fortaleceram também o PSD, com 28 prefeituras eleitas; o PL, com 13 prefeitos cearenses, e o PP, com dez. A força no cenário político estadual credencia os partidos aliados a cobiçarem espaços na eleição majoritária para governador.
Veja também
PP
Dentro do PP, comandado pelo deputado federal AJ Albquerque e pelo pai, o secretário de Cidades do Estado, Zezinho Albuquerque, que está no PDT e deve se filiar à sigla progressista, existem pontos de tensão a serem resolvidos.
O principal diz respeito às restrições a nomes do PDT cotados para disputar o cargo de governador. Lideranças do partido têm dito nos bastidores, inclusive a Cid e Ciro Gomes, que têm vetos a alguns pedetistas, por conta de desentendimentos locais.
Além disso, a proximidade do deputado federal AJ Albuquerque com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), opositor ao grupo governista no Ceará, deixa questionamentos no ar sobre a aliança no Estado, embora as chances de o partido deixar a base governista sejam remotas.
Divergências
No início deste mês, quando foi reconduzido ao cargo de presidente do PP no Ceará, AJ fez questão de enfatizar que o seu líder é o presidente nacional do partido, senador Ciro Nogueira, atual ministro da Casa Civil.
Nos bastidores, a relação de AJ com os irmãos Cid e Ciro Gomes não é das melhores. Um episódio que trouxe à tona a relação conturbada foi durante a divisão das emendas - verbas do Orçamento Federal - da bancada do Ceará em 2020, quando o deputado cearense e Cid Gomes se desentenderam publicamente.
O ponto de equilíbrio na relação do parlamentar com o grupo governista é o pai, Zezinho Albuquerque, aliado fiel de Cid e Ciro Gomes. Uma liderança do partido afirmou, reservadamente, que o "problema" não é AJ, e sim o nome a ser escolhido pelo grupo governista para disputar o Governo do Estado no ano que vem.
"Nos estados, o PP vai ter autonomia (para decidir quem apoiará para governador). Aqui, tem restrições e os líderes do Estado sabem que têm que conversar não só com o PP, como com todos os partidos (da base), e achar um nome que não traga problema para essa grande coligação".
O deputado estadual Leonardo Pinheiro, do PP, reitera o apoio do partido ao grupo governista no Ceará. No entanto, fala de preferências a nomes cotados para disputar a sucessão.
"O PP é um partido que, historicamente, está na base do Governo. Nosso entendimento é continuar na base. Sobre os nomes cotados (para a eleição de governador), obviamente, o PP tem suas preferências", disse, sem citar quais são.
MDB
Outro ponto de tensão no grupo governista é o MDB. O presidente do partido no Ceará, ex-senador Eunício Oliveira, não esconde as desavenças com Cid e Ciro Gomes, principalmente, após a derrota dele em 2018, quando disputou a reeleição para o Senado.
Naquela eleição, Ciro, então candidato à Presidência da República, teceu várias criticas a Eunício Oliveira e rechaçou uma possível aliança com o MDB. Além disso, no Ceará, Cid Gomes não apoiou formalmente a candidatura do emedebista ao Senado.
Dentro do MDB, lideranças reiteram a boa relação política de Eunício com Camilo, mas apontam dificuldades com os Ferrreira Gomes. Segundo o deputado estadual Danniel Oliveira, sobrinho de Eunício, o apoio à candidatura de um pedetista ao Governo do Estado está em aberto.
"Estamos falando de um Governo do Camilo, que é petista, porém, temos a sombra dos Ferreira Gomes, que temos uma dificuldade, obviamente, clara. Temos algumas dificuldades em relação a um nome direto do PDT, como tem nomes que podem ser discutidos".
Para o deputado estadual emedebista Leonardo Araújo, a aliança entre MDB e PDT é difícil no Ceará. Ele aponta vetos a alguns nomes da sigla pedetista para a sucessão.
"O partido entende que não deve estar na base aliada comandada por Ciro, em virtude dos ataques feitos por ele ao partido, de forma ostensiva. Vamos aguardar e ouvir o governador. Camilo e Eunício são muito afinados, mas, sem dúvida, alguns nomes (do PDT) o MDB não apoiará".
Nos bastidores, o MDB é sondado pelo grupo da oposição, liderado pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros), para uma aliança em torno de eventual candidatura dele ao Governo do Estado.
PT
Há na lista de impasses ainda o PT, outro importante partido com o qual o grupo governista precisará conciliar interesses para manter a aliança no Ceará em torno da candidatura ao Governo do Estado.
O presidente do partido no Ceará, Antonio Conin, já havia afirmado em entrevista ao Diário do Nordeste, neste mês, que o sentimento na sigla petista é de manter a aliança em torno de uma candidatura do PDT a governador, desde que o grupo apoie a candidatura de Camilo ao Senado.
Ele, no entanto, ponderou que o entendimento é de que o PDT discuta com o partido o nome indicado para concorrer à sucessão de Camilo Santana.
"O que o Cid e Camilo têm dito é que o PDT vai dialogar com a gente sobre o nome, vai ter uma consulta"
O grupo governista terá até o ano que vem para conciliar interesses com todos os partidos da base aliada e a definição do candidato a governador só deverá acontecer, como de praxe, na última hora, antes das convenções partidárias.