Partidos aliados cobiçam cargos na chapa de sucessão de Camilo Santana em 2022

A definição da chapa governista vai depender da conjuntura nacional e de consenso com a ampla base de partidos no Estado

Escrito por Letícia Lima , leticia.lima@svm.com.br
Izolda Cela, Mauro Filho e Roberto Cláudio
Legenda: Izolda Cela, Mauro Filho e Roberto Cláudio são os nomes favoritos na base governista até agora
Foto: Diário do Nordeste/Agência Câmara

Com uma ampla base de partidos aliados, a sucessão do governador Camilo Santana (PT) em 2022 já movimenta nos bastidores lideranças do grupo governista, de olho em uma vaga na chapa majoritária. Os nomes favoritos para disputar o Governo do Estado são do PDT, partido comandado pelos irmãos Ciro e Cid Gomes, mas a indicação do candidato envolve o cenário nacional e exigirá articulação com o numeroso arco de aliança em busca de consenso.

Até agora os nomes cotados no grupo governista são: o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, a vice-governadora do Estado Izolda Cela e o secretário de planejamento e gestão do Estado Mauro Filho, deputado federal licenciado. Todos do PDT.   

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Cotados do PDT

Nos bastidores, Roberto Cláudio avisa que vai disputar a eleição de 2022, só não sabe para qual cargo. Enquanto isso ele se prepara, em São Paulo, fazendo pós-doutorado voltado para políticas públicas. Ex-prefeito da Capital por dois mandatos, ele é apontado como um candidato natural do grupo. 

Apesar disso, o nome não é consenso. Reservadamente, lideranças consideram prematuro um lançamento do nome.

Mauro Filho é outro cotado para a sucessão estadual no grupo governista. Em 2014, ele figurava entre os cinco pré-candidatos a governador do Pros, partido de Cid e Ciro à época, mas Camilo Santana, do PT, foi escolhido e Mauro indicado para concorrer ao Senado. Ele, porém, não foi eleito.

A vice-governadora Izolda Cela também é cogitada para disputar o comando do Palácio da Abolição no ano que vem. Ela é vista como um nome com experiência exitosa na área da Educação, em Sobral e agora no Estado. Além disso, a pedetista não acumula desgastes. Entretanto, o perfil pouco ligado à política carrega algumas restrições.   

Os outros aliados

Contudo, o "ungido" do grupo governista pode ser outro nome fora dessa lista, como aconteceu em 2014. Pelo menos essa é a esperança de muitos que correm por fora. O nome só deve ser revelado na última hora por ser essa a tradição observada nos últimos pleitos. 

O fato é que a definição da chapa governista vai exigir da cúpula liderada pelos irmãos Ferreira Gomes e o governador Camilo Santana estratégia política e jogo de cintura para contemplar o máximo de aliados e formar consenso entre as forças da base aliada, que são muitas. 

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Para se ter noção, em 2018, o governador Camilo Santana (PT) foi reeleito com o apoio de 15 partidos. Destes, apenas dois fizeram oposição ao grupo governista na eleição para prefeitura de Fortaleza no ano passado.

Nessa ampla base governista, alguns partidos se fortaleceram no Ceará, após a eleição de 2020, com várias prefeituras conquistadas, como o PSD (28), PL (13) e PP (10). O PDT continuou sendo a sigla com maior número de prefeitos no Estado: 66.

Esse bom desempenho na disputa municipal acaba credenciando os partidos aliados a cobiçar um cargo majoritário, afinal prefeitos são cabos eleitorais importantes numa eleição para governador, senador e deputado. 

Partidos no "jogo"

O presidente do PSD no Ceará, ex-deputado estadual Domingos Filho, disse que vai reivindicar espaço na chapa majoritária, incluindo a cabeça, que é o cargo de governador.

"Um partido que não tem projeto de ter um governador não é partido, é ajuntamento de pessoas. Estamos trabalhando para chegarmos com condições, com bom senso e serenidade, colocar as pretenões e discutir com o senador Cid, o governador Camilo e todos os aliados".
Domingos Filho

Mas, nos bastidores, aliados afirmam que Domingos Filho perdeu confiança no grupo, após romper com os irmãos Ferreira Gomes em 2016 em meio à disputa pela presidência da Assembleia Legislativa. Domingos apoiou o deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT), contra a reeleição do candidato do grupo governista, o deputado estadual Zezinho Albuquerque (PDT).

Ao mesmo tempo, governistas veem força no grupo de Domingos Filho pelo número de prefeituras conquistadas, que foram são beneficiadas com recursos federais destinados pelo filho, o deputado federal Domingos Neto (PSD). Ele foi relator do Orçamento Federal de 2019 e mantém certa influência junto ao Governo Federal. 

Outro partido que está no "jogo" é o Progressistas, mais conhecido pelo nome antigo PP, que tem a segunda maior bancada da Assembleia Legislativa, com cinco deputados estaduais, e deve atrair mais parlamentares no ano que vem. 

O presidente do partido no Ceará, deputado federal AJ Albuquerque, e, principalmente, o pai, que é secretário de Cidades do Estado, Zezinho Albuquerque, filiado ao PDT, tem se reunido com os correligionários e fortalecido as bases eleitorais. 

Diante do crescimento da sigla, Zezinho cobra participação direta na definição da chapa. 

"Por que o candidato não pode ser do PP? Por que não pode sair do PDT, PSB? Se o PDT, que é maior partido lançou candidato do PT e o Camilo está fazendo um grande governo, por que (o candidato a Governo) não pode ser de outro partido", perguntou.

Aliança PT-PDT

Outro fator que vai ter um peso sobre a definição da chapa governista é o cenário nacional, em que PDT e PT, dois dos principais aliados no Ceará, sinalizam ter candidatura própria à Presidência da República, com Ciro Gomes de um lado e Lula do outro. 

A única vaga de candidato a senador do Ceará que será disputada em 2022 está em aberto no grupo governista e o PT deve reivindicá-la. A tendência é que o governador Camilo Santana seja indicado para o cargo de senador e a sigla petista vai defender essa candidatura. 

Mas essa definição passa pela manutenção da aliança entre os dois partidos no Estado. O presidente do PT no Ceará, Antônio Conin, diz que, se confirmado o cenário de candidatura de Camilo Santana a senador, o partido não deve lançar candidatura a governador e a aliança deve ser mantida.

"Não temos o objetivo de romper a aliança, mas não temos que ficar aguentando todo tipo de agressão do PDT. A manutenção da aliança vai depender se o PDT quer, se tem interesse, se vai saber distinguir a disputa nacional da local e tratar o PT como aliado. O governador vai fazer as mediações e vamos ouvi-lo muito sobre essas definições".