Saiba quais deputados e senadores cearenses já tomaram a vacina contra a Covid-19
Apesar de uma querela política inicial sobre as vacinas, todos os parlamentares da bancada federal cearense se cadastraram para a imunização
Em meio à crise da Covid-19 e ao avanço da vacinação do Brasil, 17 parlamentares da bancada cearense no Congresso Nacional (de um total considerado de 25 titulares e três suplentes) receberam ao menos uma dose de algum dos imunizantes disponíveis. Aqueles que não tomaram já estão cadastrados, aguardando apenas a convocação das autoridades públicas.
A busca pelo imunizante marca também uma mudança na postura pública de alguns parlamentares que carregavam como principal bandeira o “tratamento precoce”, mas, desde o início deste ano, passaram a defender a vacinação.
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Entre os senadores, Tasso Jereissati (PSDB) e Cid Gomes (PDT) já receberam doses do imunizante – o tucano, inclusive, já completou o cronograma de imunização com duas doses. O senador Eduardo Girão (Podemos) ainda não tomou a vacina. Segundo sua assessoria, ele deverá receber a imunização em Brasília.
Girão é um dos parlamentares que tem defendido o chamado “tratamento precoce”. O senador, no entanto, se diz a favor de vacinas, uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social.
Procurado pela reportagem, o parlamentar disse que aguarda chegar a sua faixa etária, 48 anos. “Irei me vacinar porque sou a favor da vacinação em massa e tenho convicção da importância da vacina para resguardar a saúde de todos os cidadãos em época de pandemia”, escreveu em nota enviada à reportagem.
Fila da vacina
Já entre os deputados, com média de idade menos elevada, o número dos que ainda esperam a primeira dose do imunizante é maior. Ao todo, dez parlamentares aguardam sua vez na fila da vacinação. Todos estão cadastrados no sistema Vacine Já, da Prefeitura de Fortaleza. Apenas o cadastro do deputado federal Totonho Lopes (PDT) não foi localizado. Ele também não respondeu à reportagem.
“Tomar vacinas é, antes de tudo, uma demonstração de responsabilidade com a saúde pública. Neste momento, o que se tem de prevenção é a vacina. A outra é reforçar as estruturas de hospitais e redes de saúde com a destinação de verbas parlamentares. Então, essa decisão (de tomar vacina) mostra o comprometimento com o combate à doença”, avalia o cientista político Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Ao todo, o levantamento feito pelo Diário do Nordeste buscou o cadastro de vacinação de 28 nomes (incluindo suplentes que assumiram os postos por período delimitado) da bancada federal do Ceará: três senadores, 22 deputados federais em exercício e três licenciados.
Confira a situação de cada um:
Conforme o Diário do Nordeste mostrou, o mês de março deste ano marcou uma mudança de discurso de parte dos parlamentares cearenses. Até então exaltada apenas pelo Governo do Estado e seus aliados, a chegada de vacinas ao Ceará passou a ser disputada por deputados também da oposição mais alinhada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
do total de 28 parlamentares, entre suplentes e titulares, já receberam pelo menos uma dose da vacina
Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), no caso de parlamentares que defendiam o chamado tratamento precoce, há uma diferença entre o discurso e a prática.
“Hipocrisia política”
“Nem acho que foi uma mudança de postura, penso que era mais um discurso para as bases. Vimos isso com líderes religiosos, por exemplo. Existem alguns códigos que são próprios de uma parte do eleitorado mais negacionista, conservador, anticientífico, então esse discurso é para essas pessoas. Por outro lado, os parlamentares que promovem esse discurso não são suicidas, todos vão tomar a vacina”
Segundo o cientista político, o que há, atualmente, é uma tentativa de vincular o avanço da vacinação ao Governo Federal. “Vão dizer que a vacina está chegando porque o presidente adquiriu, então reflete essa figura da liderança. Por outro lado, eles não dão publicidade a isso, alguns – como os ministros – tomam a vacina escondido. Neste caso, publicizar isso soa como uma contradição política, para não dizer hipocrisia política”, afirma.
Uma das estratégias usadas por esses parlamentares, segundo Cleyton Monte, é exaltar as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, esta produzida em parceria com a FioCruz, que é financiada pelo Governo Federal. “É uma forma de reduzir essa contradição para as bases”, conclui.
Foi exaltando o imunizante produzido pela Pfizer, por exemplo, que o deputado federal Dr. Jaziel (PL) comemorou a primeira dose da vacina. “Gratidão. 1ª dose da vacina Pfizer. Minha gratidão ao Governo Federal por estar sempre abastecendo nosso Ceará com vacinas e proporcionando a imunização aos cearenses. Obrigado, presidente”, escreveu nas redes sociais.
Discurso federal
Em março, o presidente Jair Bolsonaro passou a exaltar a vacinação. Naquele mesmo mês, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota), um dos filhos do chefe do Executivo nacional, chegou a pedir aos seus seguidores para compartilhar uma foto de seu pai com a frase: “Nossa arma é a vacina”.
“Estamos fazendo e vamos fazer de 2021 o ano da vacinação dos brasileiros”, disse o próprio presidente no início de março. Diferentemente dos parlamentares que agora já se vacinaram e exaltam os imunizantes, a postura de Bolsonaro mudou desde então, e ele voltou a questionar as vacinas.
“Eu estou vacinado entre aspas. Todos que contraíram o vírus estão vacinados, até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou vírus para valer. Quem pegou o vírus está imunizado, não se discute”
O discurso errático do presidente acaba criando um bate-cabeça em suas bases eleitorais. Há uma semana, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, virou alvo de apoiadores do Governo Federal ao publicar uma foto com um cartão de vacinação, comemorando ter recebido a primeira dose da vacina.
“Alguns poderiam seguir a postura do presidente e não se vacinar, mas ficariam restritos a um eleitorado pequeno, que é também o mais radical. Às vezes, é melhor ampliar isso, ir e vir nesse discurso. Lembrando que no próximo ano tem eleição, então se há muitas pessoas recorrendo à vacina, é mais interessante para eles legitimar o presidente como comprador de vacinas”, conclui Emanuel Freitas.