Mirando estratégia no Interior, oposição no Ceará se articula por grupo maior em 2022

Antagonistas ao atual governo querem aproveitar bons resultados nas urnas em 2020 e miram fortalecimento das bases para o ano que vem

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com.br
O senador Eduardo Girão e o deputado Capitão Wagner durante evento político
Legenda: Eduardo Girão (Podemos) e Capitão Wagner (Pros) articulam lideranças no interior mirando a Eleição 2022
Foto: Camila Lima

Após ter conseguido um resultado expressivo em Fortaleza e com a vitória de aliados em três das cinco maiores cidades do Ceará, o grupo de oposição ao Governo do Estado agora se movimenta para fortalecer as alianças regionais para as Eleições 2022 e traça estratégias para formar uma frente com atuação principalmente nas regiões Metropolitana, Norte e Cariri.  

A investida é puxada pelo deputado federal Capitão Wagner (Pros), deputado federal mais votado no Estado em 2018 e que obteve 48,31% dos votos no segundo turno da eleição municipal de Fortaleza em 2020.

Com ele, atua o senador Eduardo Girão (Podemos) também tido como um político-chave para as estratégias do grupo de oposição no próximo ano, cotado para ser candidato ao Governo do Estado.

A ideia central é montar uma chapa forte e competitiva, que tenha representantes de diferentes partes do Estado. Para isso, é fundamental organizar a base.

Para isso, Wagner e Girão já estão em campo, em visita a lideranças, e em busca de prefeitos para serem cabos eleitorais. Para eles, um dos focos é atuar no que consideram ser um “vácuo” deixado pelo bloco governista, que teria deixado lideranças municipais descontentes com uma suposta falta de apoio do governador Camilo Santana (PT). 

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Articulação no Interior

No jogo também entram empresários dispostos a engrossar o caldo da oposição. Entre eles está Gilmar Bender, que, ainda no PDT, foi preterido pelos irmãos Ciro e Cid Gomes em 2020.  

Ciro e Cid decidiram apoiar a reeleição de Arnon Bezerra (PTB) em Juazeiro do Norte, contrariando a decisão tomada pelo diretório municipal do partido, que preferiu dar apoio a Glêdson Bezerra (Podemos). 

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Bender abdicou de sua candidatura e declarou apoio independente a Glêdson, que acabou vencendo a eleição.  Em 2017, ele disputou a prefeitura de Juazeiro pelo PDT, com apoio do ex-presidente Lula (PT), mas foi derrotado por Arnon Bezerra (PTB). 

O empresário Gilmar Bender durante convenção do PDT em Juazeiro do Norte, em 2020
Legenda: Gilmar Bender anunciou apoio a Glêdson Bezerra (Podemos) durante convenção do partido, em Juazeiro do Norte.
Foto: Felipe Azevedo

Indefinição no PSDB

Um outro elemento importante na costura desse grupo é o ex-deputado e atual prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB).  

Experiente, ele mantém o trânsito junto ao empresariado. Já é certo, nos bastidores, que, caso o seu partido decida apoiar o candidato indicado por Camilo ao Governo, no ano que vem, Pessoa deve deixar a sigla e pode ir para o Pros.  

Histórico de vitórias

A atuação dos oposicionistas é baseada no cenário imposto nas últimas eleições. Eles ganharam a disputa em cidades como Juazeiro do Norte, Caucaia e Maracanaú, e isso deu fôlego para chegarem confiantes em 2022.  

Caucaia elegeu Vitor Valim (Pros) com cerca de 4 mil votos a mais do que seu adversário, Naumi Amorim (PDT). Em Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos) venceu Arnon Bezerra (PTB) com quase 3 mil votos a mais, apesar do apoio dos Ferreira Gomes.  

Já em Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB) continua liderando o grupo que governa o município. E em São Gonçalo do Amarante, o Professor Marcelão (Pros) venceu Elder Gurgel, do PDT, por mil votos a mais.  

“A gente, de 2018 pra cá, acabou protagonizando vitórias surpreendentes, como a do Girão [...] isso nos dá a certeza de que o projeto é viável. São cidades que têm grande parcela do eleitorado cearense”
Capitão Wagner
Deputado federal

O deputado, inclusive, tem atuado pessoalmente nas articulações. Na semana passada, Wagner recebeu diversos prefeitos e lideranças em Fortaleza. As reuniões trataram da consolidação e da expansão do grupo em 2022.  

O parlamentar também visitou recentemente, por exemplo, o município de Aracati, onde se reuniu com figuras do MDB e do PSB.  

Sobre um possível apoio de Jair Bolsonaro à sua eventual candidatura, Wagner diz que “logicamente é importante ter o apoio nacional, todo apoio é bem-vindo e ter apoio do Presidente da República fortalece qualquer candidatura”. 

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Interesses em comum

Um outro quadro do PSDB cearense, o deputado federal Danilo Forte, vê confluências que poderão unir ainda mais o grupo. Ele avalia que a “ineficiência da Saúde Pública, violência e empobrecimento da população” cearense são pontos de concordância no grupo de oposição.  

O parlamentar diz ainda que é justamente esse entendimento crítico acerca das ações do governo que poderá manter o grupo para que em 2022 possa atuar como uma alternativa. 

“O Wagner é uma liderança popular, assim como o Girão tem o papel importante no Senado. O trabalho que Roberto Pessoa vem fazendo em Maracanaú busca minimizar os efeitos do ponto de vista sanitário. Não é hora de nominar [apenas um], é hora de identificar pessoas que tenham a mesma visão”
Danilo Forte
Deputado federal

Política nacional x regional

Há, no setor de oposição, um prognóstico de que o gigantesco arco de aliança em torno de Camilo em 2018 não se repetirá no ano que vem. O petista foi reeleito em 1º turno com cerca de 89% dos votos, tendo 21 partidos na coligação, apoio de 128 dos 184 prefeitos e de 37 dos 46 deputados estaduais.  

“A política do Ceará tem uma série de peculiaridades: partidos estão na base do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em Brasília e no Ceará são da base do PT. Acreditamos que, ao se aproximar as eleições, as siglas vão se posicionar e, com isso, a gente pode ampliar nosso arco de aliança”, pontua Capitão Wagner.  

Exemplo do PL

Como exemplo desse cenário, está o Partido Liberal (PL), que apoia o Presidente da República em Brasília, mas no Ceará se alinha ao governo de Camilo Santana.  

Como presidente estadual do PL, o prefeito Acilon Gonçalves, do município de Eusébio, pontua que ainda não é o momento de falar em articulações políticas e que o enfrentamento à pandemia deve ser priorizado.  

O prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (PL)
Legenda: Acilon Gonçalves (PL) pondera que o momento é de pensar no combate à pandemia, mas afirma que as tratativas políticas devem ocorrer internamente em breve.
Foto: Lucas de Menezes

“Em um segundo momento, vamos organizar candidaturas para uma chapa competitiva de deputado federal e estadual. E o terceiro momento é na janela partidária, em março. Para que nós possamos conseguir quadros de qualidade e formar um partido forte”, diz o presidente.  

Em um cenário no qual, nacionalmente, a disputa poderá ser polarizada por um candidato do PT e o presidente Bolsonaro, tentando reeleição, Acilon pondera que é possível que o PL, no Ceará, continue ao lado do Partido dos Trabalhadores. 

O PL também vê na região do Cariri – a maior do Estado, com 29 municípios -, um terreno fértil para angariar lideranças. O presidente do diretório de Juazeiro, Gutemberg Campos, quer lançar dois empresários da região à Assembleia e mais um comunicador para concorrer como deputado federal. 

“Estamos conversando com todos, e o PL está aberto ao diálogo. O nosso objetivo é termos uma bancada forte para representar o Cariri”, diz o presidente do partido em Juazeiro.

Regiões estratégicas

Entre as estratégias de articulação, está a de concentrar a busca por aliados no Cariri, na Região Metropolitana e na Região Norte. No sul do Estado, Capitão Wagner lista, como principais lideranças, Glêdson Bezerra, Gilmar Bender, o ex-prefeito de barbalha Argemiro Sampaio (PSDB) e o ex-candidato a prefeito do Crato, Aloísio Brasil (Pros). 

Na Região Norte, a oposição conta com a articulação do deputado federal Moses Rodigues (MDB) e do seu pai e correligionário Oscar Rodrigues, que concorreu ao cargo de prefeito de Sobral no ano passado. 

Na Região Metropolitana, a atuação para fortalecer a oposição permanece nas figuras de Wagner e Girão.

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