Para tentar fazer frente a uma base governista em larga vantagem numérica, a oposição à direita tem atuado com ênfase em duas frentes para pavimentar caminho até a eleição de 2022 no Ceará. Não necessariamente separadas.
Em uma delas, o deputado federal Capitão Wagner (ainda no Pros) se colocou, no último sábado (29), como pré-candidato ao Governo do Estado. O anúncio ocorre em paralelo ao destaque nacional ao nome do senador Eduardo Girão (Podemos), seu aliado de primeira ordem, também como pretenso postulante.
O “lançamento” da pré-candidatura de Wagner foi feito em evento político, em Acopiara, onde ele também recebeu título de cidadão acopiarense.
Bastante fragmentada desde as duas últimas eleições para governador, quando teve como principais apostas o ex-presidente do Congresso Nacional Eunício Oliveira (MDB), em 2014, e o general Guilherme Theophilo (então no PSDB, hoje no Podemos), em 2018; a oposição à direita, hoje mais próxima do bolsonarismo, sabe que tem muito a fazer se quer garantir uma candidatura competitiva em 2022.
Capitão Wagner, em um giro por diversos municípios entre a última sexta-feira (28) e esta segunda (31), empreendeu esforços na difícil tarefa de furar a capilaridade expressiva do bloco governista no interior.
Em entrevista à rádio Sertões, de Mombaça, Wagner fez menção à disputa passada, em que o governador Camilo Santana (PT) venceu com quase 80% dos votos, em primeiro turno.
"Na eleição de 2018, eu costumo dizer que nós tivemos W.O. O pobre do General Theophilo foi colocado ali de boi de piranha, de última hora, só para dizer que existia outro candidato. O Hélio Góis (à época no PSL), um candidato completamente desconhecido. Duas pessoas extremamente qualificadas, mas que não tiveram condição de apresentar seu projeto para o Estado", disse.
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Deputado federal mais votado do Ceará em 2018 e candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2020, quando foi derrotado com diferença apertada em relação ao vencedor, José Sarto (PDT), Wagner esteve no fim de semana acompanhado de oposicionistas com capital político em bases eleitorais fora de Fortaleza.
Entre eles, o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB), o deputado federal Danilo Forte (PSDB) e o ex-vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (MDB), que foi candidato a vice em chapa com o parlamentar do Pros pela Prefeitura de Fortaleza em 2016.
Em outra frente, não tão distante, os holofotes estão sobre o senador Eduardo Girão. Ao se projetar nacionalmente na CPI da Covid, ele tem sido apontado como potencial candidato ao Governo do Estado no ano que vem.
O senador não chegou a colocar-se para a disputa – ao contrário, publicamente, rejeita que as investigações sobre omissões do Governo Bolsonaro na pandemia (e o uso de verbas federais por governadores e prefeitos para ações de enfrentamento à Covid-19) sejam usadas como “palanque político” para 2022.
Seria ingenuidade desconsiderar, contudo, que as movimentações políticas de todos os atores envolvidos no colegiado poderão ter desdobramentos na disputa eleitoral. Se não por eles mesmos, serão trazidas à tona por aliados e adversários.
Não à toa, em meio à CPI, ele chegou até mesmo a entrar em embate nas redes sociais com o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), liderança governista também lembrada com frequência nas especulações de nomes à disposição para concorrer à sucessão do governador Camilo Santana.
Na ala governista, há uma lista bem maior, diga-se de passagem.
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A esta altura, é certo que praticamente todos os movimentos falam muito mais sobre a criação estratégica de fatos políticos do que sobre a efetivação de candidaturas. Qualquer nome pode se colocar como pré-candidato. O período permite testes.
A definição de um candidato, esta sim, ainda dependerá de uma dezena de variáveis. Não só na oposição. E Wagner sabe disso: "Se em 2022 aparecer alguém melhor e mais viável, a gente abre", disse na mesma entrevista à rádio Sertões.
Apesar de as frentes oposicionistas à direita hoje serem duas, portanto, nem de longe elas podem ser vistas de forma desassociada. A busca por capital político individual existe, mas trata-se de um grupo político em aparente consolidação.
Basta lembrar que, nas eleições de 2020, Eduardo Girão atuou como importante articulador na campanha de Capitão Wagner na Capital. Desde já, os dois marcham juntos rumo a 2022.