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Crise do PDT domina sessão na Alece em meio a impasse sobre intervenção nacional no Ceará

Mesmo com a ofensiva da Executiva Nacional, lideranças estaduais contrariam decisão e mantém convocação extraordinária

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
Assembleia
Legenda: Na sessão desta terça, pedetistas divergiram, mais uma vez, sobre quem deve ficar com o comando do partido no Ceará
Foto: Júnior Pio

Em meio à indefinição sobre os rumos do PDT no Ceará, os deputados estaduais do partido na Assembleia Legislativa do Estado colocaram o assunto no centro da discussão da sessão plenária desta terça-feira (4). O novo impasse se estabeleceu após divergentes declarações de lideranças do partido.

De um lado, o presidente estadual, que tem acumulado interinamente a presidência nacional, André Figueiredo, diz que a Executiva nacional tomou para si a gestão da legenda no Estado. De outro, o senador Cid Gomes, que disputa a presidência com Figueiredo, refuta qualquer intervenção por, segundo ele, não haver base legal para isso e diz que está mantida convocação extraordinária de pedetistas na sexta-feira (7) para tratar sobre a presidência.

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Líder do PDT na Casa, o deputado estadual Guilherme Landim, que acompanhou reunião em Brasília ontem, subiu à tribuna da Alece para confrontar a intervenção da Executiva Nacional. Para ele, a medida fere o Estatuto Partidário da legenda, pois não há nenhum processo disciplinar aberto contra os correligionários que defendem Cid como presidente da agremiação no Ceará. 

Guilherme Landim
Legenda: O deputado Guilherme Landim citou partes do Estatuto do PDT para questionar a decisão
Foto: Júnior Pio

"(O Estatuto) diz: 'as executivas nacional e regionais são competentes para instaurar ou avocar para si processos relacionados à falta de ética ou disciplina de competência de instâncias inferiores'. Então, avocar processos. Não existe nenhum processo aberto no Estado do Ceará. Como você avoca um processo que não existe? (...) Ainda pergunto: vocês vão abrir processo? Porque não existe processo no Estado do Ceará" 
Guilherme Landim
Líder do PDT na Alece

Por meio da assessoria, o deputado André Figueiredo disse, nesta terça, que a Executiva Nacional decidiu "fazer uma avocação dos poderes da executiva estadual para a Executiva Nacional como forma de tentar reduzir todos os danos que estão sendo causados ao partido po conta das divisões.

"Não buscamos com essa votação fazer uma intervenção propriamente dita, mas procuramos um caminho menos traumático. Aparentemente o grupo do senador Cid está querendo chamar uma reunião, na próxima sexta-feira, para destituir a executiva legitimamente eleita e com mandato, segundo o site da Justiça Eleitoral, até 31 de dezembro. O Partido não vai reconhecer nenhuma reunião que não seja convocada pela Nacional", afirmou André Figueiredo.

Reunião mantida 

Como Executiva não apresentou o instrumento legal para embasar a decisão, a reunião do diretório cearense no dia 7 de julho está mantida, conforme Landim. O encontro foi agendado por aliados de Cid na última semana, para ser o dia em que os membros do diretório irão realizar uma nova eleição para a Executiva Estadual. O objetivo da ala é eleger o senador para o comando da legenda no Ceará, destituindo André Figueiredo. 

A crise no PDT Ceará reverbera desde as eleições de 2022, diante do racha da agremiação com o PT. Uma ala do partido liderada por Cid Gomes defende a retomada da aliança com o PT no Governo do Estado, já outra, encabeçada pelo ex-ministro Ciro Gomes e o ex-prefeito Roberto Cláudio, quer ser oposição. 

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Para o deputado Antônio Granja (PDT), a crise tem se acentuado porque alguns membros ainda não superaram a eleição de 2022. De acordo com ele, até prefeitos e parlamentares do PDT que votaram em Roberto Cláudio para governador no ano passado formaram uma comissão interna para dialogar com Lupi porque defendiam Cid na presidência.  

Na semana passada, Lupi esteve no Ceará para tentar acalmar os ânimos da crise partidária em solo cearense. 

"O Lupi veio aqui no Estado do Ceará, conversou com Cid, conversou com o Evandro (Leitão) e nós tiramos uma comissão no Estado do Ceará para conversar com ele. Dois deputados federais que votaram no Roberto Cláudio, três estaduais que votaram no Roberto Cláudio, dois vereadores que votaram no Roberto Cláudio e três prefeitos que coordenaram a campanha do Roberto Cláudio para conversar com o Lupi. Para nós, a eleição acabou. (...) Soubemos da convocação da Executiva Nacional, e essa convocação foi para destituir o PDT no Estado do Ceará, essa é a verdade", ressaltou Antônio Granja. 

Relação com PDT Fortaleza

As falas dos correligionários incomodaram os deputados estaduais Cláudio Pinho (PDT) e Antônio Henrique (PDT), que também fizeram uso da palavra na sessão da Assembleia para responder.  

Na ocasião, Antônio Henrique afirmou que ficou preocupado com colegas de partido que citam, repetidamente, que a comissão para discutir com Lupi a situação da legenda no Ceará era formada por membros que votaram em Roberto Cláudio, presidente do PDT Fortaleza. 

"É muito preocupante saber que hoje no PDT existe esses dois tipos de grupos: aqueles que votaram no Roberto e aqueles que votaram contra o Roberto. Sabemos que a comissão que eles formaram sempre trabalhou para o Roberto Cláudio, mas quer dizer que existe outros que não votaram? É isso?" 
Antônio Henrique (PDT)
Deputado Estadual

Ânimos acirrados

Na ocasião, o deputado Cláudio Pinho respondeu ao colega, alegando que "só vossa excelência que não sabe, mas todos sabem no Estado do Ceará (os que votaram e não votaram), basta ver as imagens das campanhas". 

Ainda conforme Cláudio Pinho, o grupo que "exige respeito à convocação do diretório" é o mesmo que não respeitou a decisão da convenção do PDT em 2022. 

Cláudio Pinho
Legenda: O deputado Cláudio Pinho disse que o grupo que "exige" respeito à convocação do diretório é o mesmo que não respeitou a convenção do partido em 2022
Foto: Júnior Pio

"O mesmo grupo que exige um posicionamento de respeito à convocação do diretório, quando teve uma decisão do diretório, na convenção, não foi respeitada. Só tem que ser respeitada a sua vontade. Então, eu gostaria que os ânimos baixassem para nós podermos conversar sobre o partido", ressaltou. 

Já o deputado Queiroz Filho questionou qual o sentido de tirar o André Figueiredo da presidência do PDT Ceará se o mandato dele já acaba no fim deste ano. 

"O presidente André Figueiredo, que já é reconhecido até por esse outro grupo como um legítimo representante do diretório... Qual é o objetivo de antecipar se ele tem um mandato até o fim do ano?" 
Queiroz Filho (PDT)
Deputado Estadual

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