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Como a possível fusão do DEM e do PSL pode impactar as eleições de 2022 no Ceará

Com o DEM na base governista e o PSL na oposição, possível união, caso seja efetivada, deve gerar disputa interna no Estado

Escrito por Luana Barros e Letícia Lima , luana.barros@svm.com.br
DEM e PSL
Legenda: Lideranças locais de DEM e PSL devem iniciar conversas apenas quando executivas nacionais fecharem questão
Foto: Reprodução

A fusão entre o DEM e o PSL vem sendo discutida, há algumas semanas, pelos dirigentes nacionais dos dois partidos. Com as articulações avançadas - e uma previsão de oficializar a união ainda em outubro -, a junção das duas legendas pode gerar um impasse no Ceará.

De um lado, o DEM, presidido no Estado pelo ex-deputado Chiquinho Feitosa, faz parte do arco de alianças do governador Camilo Santana (PT). Do outro lado, o PSL integra a oposição ao petista e ao grupo político comandado pelo ex-ministro Ciro Gomes e pelo senador Cid Gomes, ambos do PDT - posição reforçada após aliado do deputado federal Capitão Wagner (Pros) assumir a presidência estadual do partido.

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Parlamentares estaduais e municipais das duas siglas apontam que acordo sobre se o novo partido irá para a base governista ou para a oposição deve ser determinante - inclusive, para definir quem fica e quem sai da nova legenda a ser criada. 

Por enquanto, contudo, as discussões em âmbito estadual estão em compasso de espera: qualquer definição só irá começar a ser debatida pelas lideranças no Ceará quando o martelo for batido nacionalmente. 

A Executiva nacional do DEM aprovou, no último dia 21 de setembro, dar o pontapé inicial à união entre as legendas. Na terça-feira (28), a deliberação sobre o assunto também chegou ao PSL. A executiva nacional do partido aprovou, por unanimidade, a fusão. Agora, a decisão precisa ser aprovada por convenção conjunta, prevista para o dia 6 de outubro. 

Disputa pelo comando do novo partido

Membro da executiva nacional do PSL e presidente do diretório municipal do partido em Fortaleza, o deputado federal Heitor Freire afirma que o diálogo no Ceará deve ser iniciado após o "sinal verde" dos dirigentes nacionais. 

"O Chiquinho Feitosa é uma pessoa experiente, com quem tenho bom relacionamento. Não podemos desconsiderar. Esse diálogo vai quer que acontecer". 
Heitor Freire
Deputado federal e presidente do PSL Fortaleza

Além de Feitosa e Freire, a conversa sobre o novo partido também deve envolver Capitão Wagner. Ainda no Pros, ele assumiu extra-oficialmente o comando do PSL no Ceará. Em agosto, Rafael Rocha, aliado de Wagner, passou a ocupar a presidência estadual da legenda. 

A intenção é de que Wagner e todo o grupo político comandado por ele migrem para o PSL em 2022 - de olho na disputa eleitoral. Com a fusão, no entanto, a discussão sobre o comando da legenda precisará ser feita. 

"O PSL estabeleceu junto com DEM critérios para definir quem vai ficar com o partido em cada estado e um deles é a força política", explica Capitão Wagner.

Na semana passada, Feitosa esteve em Brasília, onde se reuniu com o presidente nacional do DEM e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. A organização do partido para as eleições esteve na pauta.

Ampliação da bancada

Parlamentares das duas legendas apontam a ampliação das bancadas na Câmara Municipal de Fortaleza e na Assembleia Legislativa como um aspecto positivo de uma possível fusão entre DEM e PSL. 

No Congresso Nacional, por exemplo, se o novo partido for concretizado, ele terá a maior bancada da Câmara, com 81 deputados, além de sete senadores e três governadores. 

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"A bancada vai ficar maior e, sendo uma fusão, outros parlamentares também podem ingressar", afirma a vereadora de Fortaleza, Cláudia Gomes (DEM). Ela é a única vereadora do DEM na Capital, enquanto o PSL também possui um representante no legislativo municipal. 

Além de dobrar a bancada, uma nova legenda também poderia atrair novos parlamentares, já que, pelas regras eleitorais, deputados e vereadores podem trocar de partido sem perder o mandato se a nova legenda escolhida for resultado de uma fusão.

Outro efeito da fusão destacado é o fortalecimento das legendas para as eleições do próximo ano. 

"Hoje, temos uma fragilidade muito grande com a proibição das coligações, para cumprir o coeficiente. Com a fusão, terá o interesse de candidatos a deputados estaduais e federais. A tendência é que haja uma migração dessas candidaturas de outros partidos".
João Jaime (DEM)
Deputado estadual

Se a união das legendas for concretizada, o novo partido terá o maior tempo de rádio e televisão na campanha de 2022 e os maiores fundos eleitoral e partidário.

Divergência de posicionamento

Vereador de Fortaleza, Marcelo Lemos (PSL) concorda com o fortalecimento da bancada como ponto positivo, mas se preocupa com qual posicionamento o novo partido pode assumir quanto à Prefeitura de Fortaleza - sob o comando de José Sarto (PDT). 

"Eu sou da base do governo e quero permanecer. Não sei como vai ficar, mas não vou deixar a base. Se for (para a oposição), vou ser obrigado a deixar o partido", afirma. 

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Cláudia Gomes também levanta a possibilidade de "atrito" por conta do assunto, mas considera que é necessário esperar a decisão nacional. "Primeiro tem que ser decidido a questão nacional, depois é que serão decididos os problemas regionais. Não adianta discutir antes da fusão", concorda João Jaime.

Heitor Freire reafirma a posição como oposição tanto dele como de Wagner, mas minimiza a possibilidade de um impasse por conta disso - apesar do DEM ser base aliada tanto em âmbito estadual como em Fortaleza.  

"Nós queremos a mesma coisa: um Ceará melhor, mais próspero, mais desenvolvido. Toda eleição é uma nova eleição e os diálogos reiniciam", afirma, ao falar sobre a possibilidade de Chiquinho Feitosa e outras lideranças do DEM no Estado quererem apoiar o candidato governista à sucessão do Governo do Estado.

Capitão Wagner, pro sua vez, já lançou a pré-candidatura ao Palácio da Abolição. "Tudo se resolve no diálogo e na conversa", finaliza. 

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