Em ano pré-eleitoral, vereadores de Fortaleza priorizam pautas da segurança pública e vacinação
Com debates a nível estadual e nacional, boa parte desses parlamentares deve tentar vaga na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados em 2022
Na expectativa da disputa eleitoral do ano que vem, vereadores de Fortaleza têm levado à tribuna da Câmara Municipal pautas de repercussão nacional e estadual, como a vacinação contra a Covid-19 e a segurança pública. Boa parte deles deve tentar vaga na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados.
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Com a estratégia de se manter em evidência do ponto de vista eleitoral, os parlamentares acabam deixando os temas municipais de lado e dando espaço para questões de responsabilidade do Governo Federal e do Palácio da Abolição. O Diário do Nordeste ouviu cientistas políticos sobre a estratégia eleitoral.
Plenário
Na sessão da última quinta-feira (23), vereadores da base e posição debateram por cerca de uma hora ações e possíveis omissões dos governos estadual e federal sobre a compra e distribuição de vacinas, e também acerca da segurança pública.
Já no último dia 17, quando o Ministério da Saúde anunciou a suspensão da vacinação de adolescentes sem comorbidades contra a Covid-19, a compra de imunizantes voltou a colocar em lados opostos os parlamentares.
O embate sobre a responsabilidade dos entes federados pela aquisição e distribuição de doses começou após o vereador Carmelo Neto (Republicanos) afirmar que o governador Camilo Santana (PT) e o prefeito José Sarto (PDT) haviam mentido sobre compra direta de imunizantes, fora do Plano Nacional de Imunização (PNI).
Na ocasião, ele foi rebatido pelo líder do governo na Casa, vereador Gardel Rolim (PDT). O pedetista salientou que a aquisição da Prefeitura havia sido condicionada à permissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão subordinado ao Governo Federal.
Estratégia
Para o professor e cientista político da Universidade Federal do Pará, Edir Veiga, esse movimento pavimenta o caminho para 2022, quando os vereadores atuarão juntos aos seus líderes políticos para eleger deputados federais estaduais, formando chapas.
Normalmente o vereador, para que tenha peso eleitoral numa disputa para deputado estadual, federal ou até mesmo como cabo eleitoral, tem que fazer justamente isso: que é demonstrar que ele é ativo na defesa dos interesses públicos
Na semana passada, ainda em meio às repercussões das manifestações dos dias 7 e 12 de setembro, vereadores protagonizaram um desses debates acalorado sobre a política nacional.
Parlamentares usaram seus tempos de fala para tratar principalmente do cenário eleitoral para 2022, no qual aparecem na disputa Jair Bolsonaro (sem partido), Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT).
“Isso o qualifica como possível candidato, uma possível reeleição em 2024, como também o cacifica para negociar troca de apoio para deputados: eu te ajudo em 2022 e tu me ajuda em 2024”, exemplifica ainda o especialista, ao pontuar o peso de atuação parlamentar frente aos líderes políticos.
Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, destaca que esse movimento joga luz ao jogo político cultural brasileiro, que é também baseado na continuidade dos mandatos.
Líderes políticos obrigam vereadores a continuar no apoio de suas lideranças. Os de baixo funcionam como mobilizadores da manutenção do poder dos estratos mais elevados. Isso ocorre na direita e na esquerda
O professor também elenca o que considera uma estratégia do grupo de vereadores bolsonaristas na Câmara. Para ele, esses parlamentares mantêm interesse em se candidatar a deputados e deputadas no ano que vem, o que se converte em críticas ao governo estadual, tanto nas redes quanto na tribuna da Casa.
Ele destaca ainda que, no caso da Câmara de Fortaleza, percebe grupos que, para além de prepararem terreno para outras lideranças no ano que vem, pacificam o próprio caminho e tratam de pautas a nível estadual na tribuna para se cacifar como candidatos a deputado no ano que vem.
Nesse mesmo sentido, Edir Veiga lembra ainda a importância das redes sociais de cada político, na qual eles têm liberdade de divulgar as participações nas sessões e os discursos na tribuna para um potencial público específico, com condições de cooptação eleitoral.
“Só tem poder de voto se ele tiver bases eleitorais consolidadas e organizadas porque o Poder Legislativo normalmente é mal avaliado pela população, que só consegue enxergar os escândalos, e a rotina é pouco percebida pelo grande público”, finaliza o professor.