No Ceará, 45% da frota têm mais de 10 anos de utilização
Seguindo cenário nacional, o Estado não tem os veículos que circulam nas rodovias locais renovados mesmo com alta nas vendas de novos nos últimos dois anos. 78% da frota do Estado têm cinco anos ou mais
O Brasil mantém um ritmo intenso, nos últimos dois anos, de retomada no emplacamento de veículos. E a mesma realidade é replicada no Estado. Mas, a alta não foi suficiente para impedir o contínuo envelhecimento da frota.
No recorte local, por exemplo, mesmo com 11,8 mil autos e comerciais leves comercializados de janeiro a março deste ano, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) revelou uma baixa de 11,96% do número de veículos com até cinco anos, comparando ao acumulado até março de 2018, significando só 22% dos 3,2 milhões dos veículos registrados no Estado até março de 2019. Por curiosidade, a maior parcela dos novos está concentrada no interior. São 404.070 contra 292.029 na capital.
A queda é refletida na revenda do seminovo. Com a oferta reduzida em modelos com até três anos, a venda nessa categoria despencou 13,6% no acumulado desse primeiro trimestre. Em compensação, a procura das opções mais antigas aumentou, como os maduros de 9 a 12 anos, que tiveram um crescimento de 28,2%. Os jovens (4 a 8) e velhinhos (acima dos 13 anos) também subiram, tendo 10% mais vendas até março de 2019, comparado a igual período do ano passado.
De acordo com Everton Fernandes, presidente do Sindicato das Revendedoras de Veículos do Ceará, os clientes migraram também com força para os zeros. Porém, visualmente não será possível ver essa transição neste ano. "Isso vai fazer com que nosso mercado a curto prazo, em um a dois anos, melhore a situação nessa questão de uso até três anos. Porque em 2018 houve crescimento dos novos e 2019 está se caracterizando por um aumento maior ainda", destaca.
A previsão, segundo a Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores), é que o mercado se desenvolva de 10 a 15% neste ano. É o que aponta Fernando Pontes, presidente da entidade seção Ceará.
"A crise fez com que as pessoas adiassem o seu desejo da compra, mas os bancos estão começando a financiar mais, há uma oferta de crédito muito grande, com taxas baixas e mais facilidades. Além disso, a inadimplência caiu. Isso tudo fez com que o mercado começasse a reagir. Não é à toa que o aumento de venda desse primeiro trimestre já é uma sinalização que iremos ter um volume bom este ano", aponta.
Enquanto isso, a maior parcela dos veículos do Ceará continua com idade de 5 a 10 anos de uso, são 33%. Atualmente, isso significa mais de 1 milhão, sendo uma alta de 5,22% comparada à realidade de março de 2018. A segunda representatividade da frota está naqueles acima dos 15 anos, com pouco mais de 900 mil e 28% da fatia total dos emplacados. Essa quantidade representa aumento de 6,95% diante dos números de março de 2018. "A frota envelheceu em função da crise que abateu o setor. Significa que, de seis a oito anos atrás, se vendia aqui no Estado em torno de 60 mil carros. Com a crise, caiu para 20 a 30 mil carros por as pessoas segurarem a compra do novo, preferindo ficar com o usado até melhorar as coisas", completa Pontes.
Retrato nacional
Embora o mercado tenha crescido 1,33% no acumulado de 2017 e 13,58% no ano seguinte, com mais de 3,65 milhões de novos veículos nas vias nacionais em 2018, o Brasil também tem frota envelhecida.
A idade média dos automóveis em circulação subiu para 9,7 anos e a tendência é chegar aos 10 anos em 2020, conforme o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores.
Para o setor automotivo, ter uma frota mais nova é melhor para a economia brasileira. Até mesmo para quem vende usados. "Por questão de garantia que é preciso dar pela revendedora, é melhor vender carro com dois ou três anos de uso do que cinco a sete, porque a tendência desses carros antigos é precisar de mais manutenção", pontua Everton.
No entanto, já no outro lado da balança, o Estado não está preparado, segundo Everton, para o cenário almejado de ter carros mais novos. "A gente passaria a ter um outro problema. Para que essa frota se renove, a nossa malha viária talvez não atenda o crescimento. A tendência é que entre mais carros do que saiam de circulação", acrescenta.
Contrário à maré: locação retoma renovação
Em 2017, no auge da crise, não somente o consumidor comum viu-se adiando a compra do carro zero, como até mesmo o segmento de locação adiou a renovação de sua garagem. "Médias e pequenas empresas seguraram um pouco mais para trocar a frota. A gente chegou a trabalhar com 20 meses, mas acabamos com isso e voltamos à nossa média", destaca Jorge Pontual, diretor comercial da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla).
Com mais de 826 mil carros e comerciais leves registrados no setor no acumulado de 2018, a idade média da frota conseguiu cair de 20,7 meses do fim de 2016 para 17 no ano passado.
No Ceará, com 9,6 mil em sua frota em 2018, a média de idade segue a tendência do País. "O mercado exige isso. A concorrência é grande", aponta Carlos Augusto, diretor regional da Abla no Ceará. "Se apresentamos um carro com mais de 25 ou 30 mil km, o cliente diz que o carro é velho e não quer alugar. Então, precisamos vender nesse período entre 16 a 18 meses de prazo médio", pontua Jorge. Segundo ele, o setor segura mais para casos de locações de longo prazo. "Os contratos são de dois anos, então pode ter carros de 24 meses. No aluguel diário, você ter um carro dificilmente com mais de 18 meses ou explodindo 20, mas não é o normal", completa.