Como são feitas as embarcações artesanais que movimentam a economia no Ceará? Veja vídeo

Influencer de Icapuí mostra os bastidores da carpintaria naval cearense.

Escrito por
Milenna Murta* milenna.murta@svm.com.br

Banhado pelo mar, o Ceará não possui uma indústria naval de grande porte, mas registra um número expressivo de embarcações produzidas de forma artesanal. Essa tradição permanece viva graças ao trabalho de carpinteiros navais espalhados pelo litoral do Estado. Entre esses profissionais está Alex Marques, de Icapuí, que ganhou projeção nas redes sociais ao descortinar os bastidores da construção de embarcações.

Ele é técnico agrícola em aquicultura e antigo pescador. Em 2024, iniciou sua trajetória na internet, com vídeos curtos publicados no TikTok, que já acumulam mais de 10 milhões de visualizações. O conteúdo também alcança grande repercussão no Instagram, com números semelhantes aos da primeira plataforma.

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Com publicações diárias que atingem milhares de seguidores, ele apresenta a arte da construção de barcos e navios, explora o universo da carpintaria naval e retrata o cotidiano de estaleiros e pescadores, aproximando o público de uma atividade tradicional muitas vezes invisibilizada.

Segundo a Secretaria da Pesca do Ceará (SPA), os municípios de Fortaleza, Camocim, Acaraú, Aracati e Icapuí concentram o maior número de embarcações pesqueiras do estado, tanto em atividade quanto em construção, com predominância da produção artesanal. No Ceará, esse tipo de embarcação representa a maior parte da frota marítima e responde por cerca de 78% de toda a produção pesqueira.

Ofício passado de geração em geração 

Ondas do mar, linhas de pesca e o balançar do barco. A totalidade do universo marítimo está inserida na vida de Alex desde que se entende por gente. Nascido em Icapuí, Alex, ainda novo, já mergulhava nesse ambiente devido à profissão de armador do pai.

Em 2001, com seus 27 anos, ele começou sua jornada como pescador de lagosta, na qual atuou por mais de duas décadas. Entretanto, este é um trabalho que demanda bastante do próprio corpo, e, pelos últimos anos, a exaustão foi consumindo o atual técnico agrícola.

Ele contou que orava por uma saída que “permitisse deixar a pesca, mas sem perder a ligação com o mar”. Foi quando as redes sociais passaram a fazer parte do cotidiano de Alex.

“Os conteúdos começaram a surgir, e o estaleiro, que sempre esteve ali, virou uma possibilidade real. Então comecei a registrar, quase sem perceber, e foi daí que tudo nasceu”, relatou.

Desde maio do ano passado, o técnico em aquicultura apostou nesse estilo de produção. As gravações não começaram na carpintaria, mas em algo ainda mais próximo de Alex: mar e pesca. Morador da Praia da Barrinha, ele habita em frente a um estaleiro, onde passou a investir em conteúdos orgânicos que, aos poucos, foram subindo no alcance.

O estopim para o bom retorno partiu da filmagem de inauguração do maior barco de madeira construído em Icapuí. "No dia em que ia ser lançado ao mar, senti no coração que precisava registrar aquele momento. Decidi não pescar e fui gravar o barco ‘caindo na água’. Esse vídeo viralizou e mudou completamente minha vida. Foi aí que percebi que deveria mostrar a construção naval, os estaleiros e esse universo tão rico”, contou.

O desafio de preservar a tradição 

Como alguém que esteve em contato com o universo pesqueiro e das embarcações desde pequeno, Alex entende que o maior desafio da carpintaria naval é a própria continuidade do ofício.

Esse trabalho é passado de pai para filho, de geração em geração, como o criador de conteúdo sempre enfatiza em seus vídeos. Entretanto, ele percebe que há cada vez menos interesse em aprender essa profissão.

“Se nada mudar, essa tradição pode simplesmente desaparecer. É um conhecimento artesanal e, sem gente disposta a aprender, ele se perde”, explica Alex.

Homem branco de cabelos curtos pretos usando uma blusa fina de mangas longas e preta com uma bermuda escura. Ele segura um grande peixe azul e está em um barco em alto mar, com fundo azul do céu e do oceano.
Legenda: Produzir conteúdo é a maneira que Alex encontrou de manter sua conexão marítima após deixar a pescaria.
Foto: Reprodução.

Além de tradicional, ele conta que o trabalho envolve cultura, identidade e arte. Cada peça de um barco de pesca artesanal é única, feita individualmente, e exige experiência e sabedoria dos carpinteiros, considerados “os verdadeiros mestres artesãos”.

Hoje, Alex confessa que não esperava a repercussão, mas é grato por seu sucesso, que veio do mesmo local onde nasceu seu olhar, suas histórias e suas vivências.

Pensando no futuro, ele pretende continuar produzindo conteúdos nessa temática e valorizar a arte da carpintaria naval. “Quero que esse ofício seja reconhecido, respeitado e preservado, e acredito que a comunicação pode fazer isso acontecer”, conclui.

Atividade pesqueira no Ceará

A SPA desenvolve iniciativas voltadas ao fortalecimento da pesca artesanal, incluindo a entrega de kits de equipamentos, como linhas, anzóis e freezers e ações de capacitação técnica por meio do Programa FortPesca. O objetivo é ampliar a renda dos trabalhadores, promover inclusão social e estimular práticas sustentáveis na pesca e na aquicultura.

De acordo com a Federação das Colônias de Pescadores Artesanais e Aquicultores do Estado do Ceará (Fepesce), a estimativa é que 8.352 pescadores estejam embarcados no Estado em 2025. Já dados do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) mostram que, em 2023, o Brasil registrava 24.740 embarcações de pesca cadastradas.

*Estagiária sob supervisão do jornalista Hugo R. Nascimento.

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