Os desafios de Marcos Gadelha à frente da Secretaria da Saúde do Ceará
O médico, que começou a carreira na rede estadual na década de 1980, já respondeu oficialmente pela Sesa no início de 2019, antes da nomeação oficial do Dr. Cabeto
O governador Camilo Santana anunciou, nesta quinta-feira (19), que o médico Marcos Antônio Gadelha Maia foi o nome escolhido para assumir a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) após a saída do cardiologista Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto. O novo gestor da Pasta terá pela frente grandes desafios, sobretudo devido ao contexto complexo gerado pela pandemia de Covid-19.
Na avaliação do ex-secretário da Saúde do Estado e diretor da Fiocruz Ceará, médico Carlile Lavor, assumir a Pasta em meio a uma pandemia "não é [tarefa] fácil", pois os desafios inerentes ao cargo foram amplificados. O primeiro deles, é ter que lidar com a circulação de uma nova variante no Estado - Delta - ameaçando uma terceira onda de Covid-19.
"Vamos torcer pra que [a terceira onda] não aconteça, mas a gente já sabe que ela [Delta] está aí presente em vários pontos do Ceará, em outros estados e o trânsito de pessoas hoje é muito grande", diz, apontando a Delta como motivo de "grande preocupação".
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Outro desafio a ser vencido pelo novo secretário, elenca Carlile Lavor, é o de dar continuidade à vacinação contra o coronavírus, já responsável por provocar a morte de quase 24 mil cearenses.
"Também é importante manter a divulgação junto à população de que a doença não acabou, que tem uma variante nova chegando que desafia novas infecções. Já vacinamos muito, mas ainda temos muita gente para vacinar".
Para além de ações para controlar os índices da pandemia, o ex-secretário da Saúde cita outros desafios anteriores à Covid e que ainda perduram.
Um deles é o cuidado com arbovirores, como a dengue, cuja incidência é registrada há décadas no Ceará, gerando um problema grave de saúde pública.
"Eu mesmo acabei de ter um dengue muito grave, dengue hemorrágica, e ninguém nem fala nisso, mas a dengue também está crescendo aqui no Ceará. Em Fortaleza, Aquiraz, Eusébio está espalhado [mosquito Aedes aegypti]".
Apesar de todos os desafios, o diretor da Fiocruz afirma que o médico Marcos Gadelha é "um nome muito bom" para assumir o posto, pois já tem experiência na Sesa.
"Ele está desde o começo do Governo Camilo [Santana], então conhece bem a secretaria e já era médico lá do Hospital de Messejana. Então, acho que ele tem as condições pra enfrentar [os desafios] e continuar todo o trabalho que o Cabeto vinha fazendo".
"Coragem para, se necessário, recuar"
Infectologista, professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Coletivo Rebento de Médicos e Médicas em defesa da Ética, da Ciência e do SUS, Roberto da Justa concorda que a Covid representa hoje o "maior desafio" à Pasta da Saúde. E em um contexto de uma ainda baixa cobertura vacinal, somada à circulação de uma nova variante.
Nós só temos 20% da população [imunizada] com as duas doses e aproximadamente 50% da população sem sequer uma dose. Então, um dos desafios é acelerar a vacinação"
Para evitar uma terceira onda da doença, o médico afirma que o novo secretário deverá manter não somente a ampliação da cobertura vacinal, como também atuar para restringir aglomerações no Estado.
"E monitorando a circulação do vírus, principalmente essas novas variantes, a Delta, e coragem para, se necessário, recuar no que diz respeito à liberação das atividades socioeconômicas uma vez que, se houver uma terceira onda, novas restrições serão necessárias".
De acordo com Roberto da Justa, a confirmação da variante Delta no Ceará deve exigir ainda a ampliação da testagem para identificá-la. Consequentemente, serão requeridos mais investimentos em laboratórios públicos para que seja feita a vigilância virológica da nova cepa.
O médico lembra que durante a gestão de Dr. Cabeto houve um esforço para a interiorização da Saúde e Marcos Gadelha terá como parte de sua missão dar prosseguimento a esse processo.
"É muito importante que essas ações de interiorização da saúde avancem, porque o sistema de saúde do nosso Estado é muito centralizado em grandes cidades, principalmente capital e em outros centros urbanos maiores. E há que se levar estrutura e equipamentos de saúde para mais regiões, principalmente no interior".
Por fim, o infectologista reitera a importância da implementação de políticas de recursos humanos para o SUS, por meio da realização de concursos e admissão de profissionais, garantindo a estes mais estabilidade e segurança.
Experiência na Pasta
Gadelha já era um dos braços da Sesa e atuava como secretário-executivo de Políticas em Saúde, além de ter sido secretário-adjunto entre agosto de 2015 e dezembro de 2018, na gestão de Henrique Javi. Ele também respondeu pela Secretaria entre janeiro e março de 2019, antes da nomeação oficial de Cabeto.
Agora, assume a Pasta em um momento de baixos indicadores da Covid-19 e com a vacinação avançando para a população abaixo de 20 anos no Estado - processo com o qual ele se comprometeu em seu primeiro pronunciamento, nesta tarde.
Temos que trabalhar com transparência, de forma eficiente, valorizando as pessoas e com cuidado centrado no cidadão. Estamos tentando sair de um momento difícil, e o primeiro compromisso que quero assumir é que todo cidadão cearense seja vacinado, mas também é importante trabalhar de forma preventiva. Só assim, juntos com a sociedade, é que vamos vencer essa pandemia"
O novo gestor também prometeu um trabalho de continuidade com a modernização e a regionalização da saúde, cujo principal objetivo é interiorizar a rede de complexidade no Estado e evitar grandes deslocamentos para os cuidados em saúde.
Perfil profissional
Marcos Gadelha é natural de Fortaleza. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará, em 1992, é pós-graduado em Clínica Médica no Hospital Universitário Walter Cantídio (Huwc) e em Cardiologia no Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital de Messejana).
Além disso, é titulado em Terapia Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e tem especialização em Medicina Intensiva, pela Society Of Critical Care Medicine – Fundamental Critical Care Support (FCCS), e em Segurança do Paciente, pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fiocruz.
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Sua história profissional começou no fim da década de 1980, no Hospital São José (HSJ), também da rede estadual, onde trabalhou como técnico de exames laboratoriais enquanto concluía o curso de Medicina. Após a graduação, foi contratado como médico, e permaneceu no HSJ enquanto terminava a residência em Cardiologia no Hospital de Messejana.
Na unidade de referência em doenças cardíacas do Nordeste, foi coordenador da Unidade de Pós-operatório de Cirurgia Cardíaca, coordenador do Núcleo de Segurança do Paciente e diretor-geral, este último cargo entre março e agosto de 2015.
O médico também foi coordenador das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Hospital Regional da Unimed Fortaleza e participou do processo de Acreditação do equipamento pela Organização Nacional de Acreditação (ONA) e Canadense Internacional (ACI), como membro do time de liderança.