Especialistas orientam limitar fluxo entre Fortaleza e cidades da RMF para conter avanço da Covid-19
Circulação de pessoas entre municípios pode favorecer novas mutações do coronavírus à medida que ele infecta população suscetível. Edições de decretos municipais tentam reduzir aglomerações até os dias de Carnaval
A explosão de novos casos de Covid-19 em Fortaleza, com o aumento de internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e a confirmação das primeiras variantes de Manaus na Capital, traz ainda mais preocupações a autoridades e especialistas em saúde pública pelo potencial de a gravidade crescer entre outros municípios cearenses, sobretudo para as seis cidades da Região Metropolitana ligadas à Capital pelos limites territoriais. A restrição de visitantes, principalmente pela proximidade do Carnaval, é apontada como uma das medidas indicadas para minimizar os riscos.
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Atualmente, Fortaleza está categorizada no nível “alto” para transmissão da doença, de acordo com a plataforma IntegraSUS, assim como Maracanaú e Itaitinga. No entanto, Caucaia, Pacatuba, Eusébio e Aquiraz estão enquadradas no nível “altíssimo”. A classificação leva em conta dados epidemiológicos registrados entre os dias 24 de janeiro e 6 de fevereiro.
No último boletim da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS), divulgado no dia 5 de fevereiro, a Pasta indica movimentação de novos casos na região oeste da cidade, começando a atingir o Grande Bom Jardim e “margeando a divisa com o município de Caucaia”. No dia anterior, o município vizinho iniciou a operação de barreiras sanitárias em vias de acesso, como a BR-222 e a ponte sobre o Rio Ceará.
Limitar circulação entre as cidades da RMF
Para o biomédico e virologista Mário Oliveira, os limites territoriais de Fortaleza precisam sim receber atenção especial. “Fortaleza é a cidade que tem maior número de casos no Estado. Então fechar, sim, as entradas da cidade – como em Caucaia, que só entra quem mora ou trabalha lá – vai ter que acontecer como aconteceu no início da pandemia”, observa.
A infectologista Mônica Façanha, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), reitera que municípios que costumam receber muitos visitantes no período de Carnaval não devem promover festas no período. Para ela, barreiras sanitárias nas estradas podem funcionar como orientação, mas ações mais eficazes envolvem a supervisão e o policiamento em locais já conhecidos capazes de reunir aglomerações.
“Na Região Metropolitana, o trânsito é muito intenso de gente que mora e trabalha e circula todo dia. As pessoas precisam ter a consciência de que não podem se aglomerar. O que precisamos fazer é ficar distantes fisicamente. Ser conhecido e amigo não significa que a pessoa não tenha risco de adoecer. Esse vai ser um Carnaval diferente, um momento para repousar”, explica a médica.
Segundo o virologista Mário Oliveira, a restrição na mobilidade entre os municípios com grande ligação se torna importante para diminuir a circulação de pessoas e evitar o desenvolvimento de novas mutações do coronavírus. Ela lembra que a cidade já viveu esses tempos de bloqueios em maio, no pico da pandemia.
“A [restrição de mobilidade entre os municípios] Não precisa ser pelo tempo que durou, mas pelo tempo necessário pra gente ver se diminui a curva de casos, de mortes, e consegue vacinar um pouco mais de pessoas para diminuir a circulação do vírus”, recomenda o especialista.
Nos municípios onde há risco elevado para a incidência de casos da doença, a própria Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), por meio do IntegraSUS, recomenda “editar decretos e orientar a população a adotar comportamentos que diminuam o contágio, como o uso de máscaras e outras medidas profiláticas”, bem como “adaptar ações para diminuir contatos na sociedade, como fechamento de espaços públicos, e comunicar a necessidade de evitar aglomerações”.
Medidas de restrição adotadas pelas cidades
Contudo, a medida não foi adotada uniformemente por todas as cidades, já que o decreto estadual em vigor limitando o horário de funcionamento de atividades comerciais abrange, por enquanto, apenas a Capital. Conforme apuração do Diário do Nordeste, entre as seis cidades conectadas pelos limites, somente Caucaia e Pacatuba editaram decretos municipais próprios à semelhança do primeiro. Aquiraz informou que publicará sua versão até a próxima sexta-feira (12).
Em Itaitinga, não houve publicação do tipo porque “não é cidade com vocação carnavalesca e não possui praias”, segundo o prefeito Paulo César Feitosa. Contudo, o gestor ressalta que há orientação para o “fiel cumprimento” de decretos estaduais. Ele informa ainda que não houve restrições de horário para o comércio, mas ocorrem blitze da Guarda Municipal em colaboração com a Polícia Militar.
No Eusébio, também não houve publicação de decreto, mas a Prefeitura informou que estão proibidos qualquer tipo de som ou aglomeração, em equipamentos públicos ou privados, no período do Carnaval. A Prefeitura de Maracanaú foi contatada sobre o tema, mas não enviou retorno até o fechamento desta edição.
A manutenção dos protocolos preventivos também é reforçada pelo pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ceará, Fábio Miyajima.
“É importante que todas as pessoas mantenham as medidas de isolamento social, de prevenção, não cometer excessos e evitar se exporem sem necessidade. Máscara e álcool em gel continuam sendo importantes. Teremos um 2021 muito mais parecido com 2020 do que com o ano normal de 2019, mesmo com o programa de imunizações”, projeta Fábio Miyajima.