Covid-19: com 93% de ocupação de leitos de UTI em Fortaleza, taxa é a maior desde o pico da pandemia

Em maio de 2020, mês considerado o pico da doença no Ceara, a ocupação de leitos de UTI adultas era 95,8%. No entanto, naquela época, o número absoluto de leitos era maior, quase o dobro do disponível em fevereiro de 2020

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
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Legenda: Apenas Fortaleza deve ampliar os leitos para Covid de 340 para 700

A ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adultas exclusivas para Covid-19 em Fortaleza atingiu 93,31% nesta segunda-feira (8), de acordo com a plataforma IntegraSUS, reforçando o alerta das autoridades e especialistas em saúde pública para o avanço da doença nas últimas semanas. Os dados foram colhidos às 17h03. Proporcionalmente, os índices se aproximam da ocupação registrada em maio de 2020, no pico da doença na Capital. No dia 7 daquele mês, a ocupação de UTIs adultas chegou a 95,8%. 

Contudo, à epóca, o cenário epidemiológico era diferente e o quantitativo de leitos também era maior: dos 658 disponíveis - incluindo os infantis -, 555 tinham pacientes acolhidos. Hoje, dos 250 leitos ativos na Capital, 222 têm pacientes internados, revelando uma taxa geral de 88,9% - incluindo unidades adultas e infantis. Os números revelam uma nova pressão sobre a rede assistencial e se aproximam da capacidade de resposta dos sistemas público e privado. 

Nos hospitais particulares informados pela plataforma, a ocupação de UTIs adultas está em 93,71%. Já entre as unidades públicas, passa de 92%. No Hospital Leonardo da Vinci (HLV), unidade estadual de referência para atendimento da doença, 92 dos 98 leitos disponíveis estão ocupados, representando uma taxa de acolhimento de 93,88%. No Instituto Dr. José Frota (IJF), a taxa chega a 87,5%, com 35 das 40 UTIs sendo utilizadas.

No Ceará como um todo, o cenário é semelhante. Nesta segunda-feira, 404 das 478 UTIs ativas no Estado estavam ocupadas, representando taxa de 84,67%. Entre adultos, o índice chegou a 89,32%. Antes disso, em maio do ano passado, 639 pessoas eram atendidas e o Ceará tinha 808 UTIs ativas, correspondendo a uma taxa de 79% de ocupação. Apenas entre adultos, o índice chegou a 89,9%. 

Ampliação de leitos

O incremento na demanda já era estudado pelo Governo do Estado. Na semana passada, o secretário estadual da Saúde, Carlos Roberto Rodrigues, o Dr. Cabeto, disse que o Ceará deve garantir mais mil UTIs para pacientes com Covid-19 num prazo de dois meses. Com previsão para março, apenas Fortaleza deve ampliar os leitos de 340 para 700. De forma gradual, o mês de fevereiro deve receber cerca de 430 leitos do tipo.

No HLV, esse aumento já começou desde o ano passado. Em dezembro, eram 30 leitos ativos, número que dobrou para 63 em janeiro e triplicou para os atuais 96.

“Temos hoje uma rede que tem capacidade de expansão, mas se nós tivermos esse aumento exponencial de casos que está acontecendo em outros estados, como ocorreu em Manaus, podemos ter uma sobrecarga dos leitos de UTI, principalmente na região de Fortaleza", indicou o secretário. 

A preocupação das autoridades encontra respaldo em dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Segundo o último boletim epidemiológico da Pasta, houve a notificação de pelo menos um óbito por Covid-19 em todos os dias de dezembro e janeiro.

“Ocorreram onze mortes em Fortaleza nos dias 5 e 29 de janeiro de 2021, maior número diário desde 19 de julho”, complementa a Pasta. Em janeiro, também houve aumento de 75% dos casos confirmados. Edson Teixeira, imunologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), garante que “o que temos que fazer é o que fizemos ano passado: ficar cada vez mais em distanciamento social”.

Preocupação

Para ele, se os novos casos aumentarem ao ponto de sobrecarregar as UTIs, será necessário “entrar em uma fase de isolamento social que merece, obviamente, cuidado das autoridades do setor econômico visto que, para ficarem em casa, as pessoas precisam de suporte financeiro”.

O especialista defende que medidas mais restritivas ou até mesmo um lockdown, como o vivenciado em maio de 2020, sejam embasadas por informações técnicas e atualizadas, como a evolução recente da positividade de testes diagnósticos e a taxa de ocupação das UTIs. “Antes, nem número de exames tinha. Além disso, o que matou muito ano passado foi não ter onde colocar essas pessoas”, lembra.

A epidemiologista Caroline Gurgel, também professora da UFC, considera que a lotação de leitos “é uma característica da segunda onda, que foi mais do que avisada”. O Ceará naturalmente registra aumento da procura por assistência no início de cada ano, aponta ela, pela maior circulação de outros vírus respiratórios, e o novo coronavírus apenas se agregou ao fenômeno.

Para ela, a internação em UTI “é o extremo, significa que tudo que foi feito a nível de educação não funcionou”. Por isso, Caroline lamenta que medidas mais rígidas adotadas pelo Governo do Estado tenham sido necessárias novamente diante da “falta de compromisso” de parte da população em aderir aos protocolos preventivos.

“Infelizmente, daqui a algumas semanas, vamos ter possivelmente um colapso, não vamos mais ter leitos para atender a casos de infecções respiratórias. Isso foi avisado constantemente”, destaca.

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