Entenda por que a variante Delta pode se disseminar de forma ‘tardia’ no Ceará
Manter protocolos sanitários e acelerar vacinação é fundamental para frear a cepa indiana no Estado
O fim da segunda onda de Covid em Fortaleza deveria ser alívio, mas chega junto a uma preocupação: a presença da variante Delta. Coordenador da Rede Genômica da Fiocruz Ceará, Fábio Miyajima aponta fatores que podem gerar um espalhamento “tardio” da cepa indiana no Brasil e no Estado.
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Um deles é predominância da variante P1, a Gama, “cuja taxa de circulação é estimada entre 95% e 99% até julho”, segundo o pesquisador. “Elas competem entre si, e a P1, por ser tão competente e dominar grande parte do País, retarda o espalhamento da Delta”, pontua.
A tendência de “revezamento” entre outras variantes e a Delta foi registrada em outros países, como Reino Unido e EUA, onde antes predominava a cepa Alfa; e África do Sul, berço da Beta. Todos agora registram presença massiva da variante indiana.
Ela realmente é mais transmissível, não sabemos se é mais patogênica, mais agressiva. Mas Covid é Covid em qualquer lugar, as medidas preventivas são as mesmas.
Fábio Miyajima alerta que, em alguns estados, a variante Delta “já ultrapassou o limite de 20% estimado para a taxa de circulação, uma tendência alta”.
Impactos da vacinação
Outro fator importante que tem minimizado o espalhamento grave da Delta é a vacinação contra a Covid no Ceará. “Temos um pequeno percentual, mas significativo, de pessoas que já foram vacinadas. As duas variantes estão associadas a ‘escape vacinal’ e reinfecções, mas a vacina certamente pode ter ajudado”, conclui o cientista.
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Por fim, o fato de o Brasil não ser destino prioritário para comunidade asiática, de países como Índia, Paquistão e Bangladesh, por exemplo, também contribui para retardar a chegada da cepa indiana.
O problema, por outro lado, é que viajantes de países europeus têm maior conexão tanto com a Ásia quanto com o Brasil, facilitando a introdução das novas configurações do Sars-CoV-2 nos estados brasileiros.
“Precisamos controlar os aeroportos no Ceará”
Para Caroline Gurgel, virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), é indispensável ampliar a vigilância genômica entre pacientes cearenses – ou seja, identificar se estão ou não infectados pela cepa Delta.
“Só temos certeza do quão grave é a doença, da forma de transmissão e se ela leva a internação e óbito se for feito o sequenciamento, para colocarmos a culpa dos novos casos na variante Delta”, frisa.
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A pesquisadora reforça que o ainda baixo percentual populacional imunizado contra a Covid torna “o terreno fértil para o surgimento de uma terceira onda, o que ninguém, em sã consciência, quer que ocorra”.
Precisamos fazer alguns sacrifícios, e talvez o maior deles seja aumentar a rigidez nos aeroportos e reduzir o turismo, que é por onde entram as variantes. Não há dúvidas sobre isso.
O alerta, aliás, é para entradas e saídas, servindo para os próprios cearenses. “Se você vai viajar somente a passeio, evite. Principalmente pras áreas onde há transmissão comunitária das variantes, como Rio de Janeiro e São Paulo. O turismo precisa dar uma pausa”, conclui.