Com vacinação e queda de casos de Covid, o que é possível e quais os riscos de festas de fim de ano?

Cenário da pandemia no Ceará é diferente de 2020, mas ainda exige cuidados para evitar contaminações

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Réveillon na Praia de Iracema, em Fortaleza
Legenda: Para Caroline Gurgel, virologista, epidemiologista e professora da Famed/UFC alerta que “há risco de transmissão em qualquer evento”, já que “não se sabe se pode surgir uma variante que seja refratária às vacinas”
Foto: José Leomar

Na virada de 2020 para 2021, o pedido do cearense era um só: saúde. O ano que veio, porém, trouxe uma severa onda de Covid-19. Agora, 2022 se aproxima num cenário diferente: com população parcialmente vacinada e queda de casos e óbitos, o que é possível fazer nas festas de fim de ano? O que ainda é arriscado?

O Diário do Nordeste ouviu especialistas para entender quais as semelhanças e diferenças do cenário atual em relação ao do ano passado, e que cuidados são necessários para evitar que Natal e Réveillon sejam sucedidos por novos picos de casos de coronavírus.

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No ano passado, o período pré-festas de fim de ano foi marcado por restrições: o Governo do Estado, por meio do Decreto 33.845/2020, proibiu eventos de qualquer tipo e definiu que cada residência poderia receber, no máximo, 15 pessoas para as confraternizações.

Especialistas e autoridades de saúde do Ceará recomendavam, em uníssono, a não realização de festas, ainda que familiares, diante da escalada de casos e óbitos que se aproximava desde as Eleições de 2020; e também desaconselhavam a vinda de pessoas do Interior à Capital.

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O infectologista Roberto da Justa, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (Famed/UFC), foi categórico ao dizer que tanto Natal como Ano Novo deveriam ser evitados. “A percepção das pessoas sobre as reuniões familiares deveria ser muito clara: a de adiá-las.”

O que é diferente em 2021?

Médico e consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), o infectologista Keny Colares afirma que “os indicadores atuais são, talvez, os melhores que tivemos em toda a pandemia”, fator provavelmente ligado ao avanço da vacinação.

Por outro lado, ele pontua que novas ondas de Covid atingiram países como Inglaterra, Estados Unidos e Israel, referências mundiais em imunização contra a doença, justamente porque, com o recuo da pandemia, a população passou a se descuidar – o que não pode acontecer no Ceará.

Avançamos muito, mas quando retiramos as medidas de proteção, retroagimos e criamos novos casos. As festas poderão ser mais tranquilas em 2021, mas é necessário tomar cuidados.
Keny Colares
Infectologista

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O infectologista compara que em 2020, a situação do Ceará era “confortável” entre setembro e novembro, com queda de casos e óbitos, mas voltou a se agravar no último mês do ano – o que exige monitoramento constante das autoridades.

Ele avalia que “é possível que a gente tenha novas ondas de Covid no primeiro semestre de 2022, mas provavelmente menores do que as anteriores”. Por isso, frisa que “cada família precisa avaliar e fazer suas escolhas, preservando ao máximo a saúde”. 

É possível, sim, fazer as festas, mas quem recusou ou não tomou a vacina não deve ir, assim como quem tiver sintomas respiratórios. Fazer os eventos em espaços ventilados e utilizar máscaras na maior parte do tempo também é importante.

Na família da estudante Andressa Aguiar, 24, ela era a única que ainda não estava imunizada até o mês passado, quando recebeu a segunda dose da vacina contra a Covid. A tradicional ceia de Natal, então, que em 2020 ficou restrita a quem mora junto, já começa a ser planejada.

“Não somos muitos, mas sempre gostamos de nos reunir no Natal. E como meus pais já são mais velhos e tenho tios idosos, não fizemos a ceia ano passado. Foi triste, mas necessário. Neste ano, vamos retomar, com todos os cuidados”, comemora.

Família celebrando o Natal
Legenda: As festas poderão ser mais tranquilas em 2021, mas é necessário tomar cuidados
Foto: Shutterstock

“Temos que conviver com a pandemia”

Para Caroline Gurgel, virologista, epidemiologista e professora da Famed/UFC alerta que “há risco de transmissão em qualquer evento”, já que “não se sabe se pode surgir uma variante que seja refratária às vacinas”.

No entanto, ela reconhece que “não temos mais como manter as pessoas isoladas, sem conviver, porque outros problemas vão se agravar, como depressão, transtorno do pânico e ansiedade”.

É possível conviver com a pandemia, desde que tenha responsabilidade. Geralmente, as novas ondas começam com surtos familiares. Então, as recomendações são as que já conhecemos.
Caroline Gurgel
Epidemiologista

Roberta Luiz, médica infectologista, complementa que “foram dois anos em que a população ficou privada de confraternizações”, mas que “para aglomerações grandes, como festas de revéillon, precisamos chegar ao fim do ano com uma cobertura vacinal melhor”.

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Uma questão cultural do brasileiro também acende um alerta: a de ignorar os sintomas leves. “É um problema grande: convencer a pessoa a perder o evento por causa de um quadro respiratório leve é muito difícil. Enquanto não for grave, ela vai sair de casa”, lamenta Caroline Gurgel.

De todo modo, a epidemiologista aponta que, além da vacinação de grande parte dos cearenses, outra grande diferença de 2021 em relação ao ano passado é o “maior conhecimento sobre como lidar com a pandemia”.

Início de 2022 é período ‘mais frágil’

Apesar do bom prognóstico, um fator ainda preocupa os especialistas de forma unânime: o aumento da incidência de doenças respiratórias (influenza, por exemplo) no primeiro semestre do ano no Ceará, padrão que deve se repetir com a Covid.

“Independentemente de ter festas ou não, há a preocupação de que o vírus tenha circulação no início do ano, como ocorre com a influenza, que já conhecemos bem o comportamento”, destaca Caroline Gurgel.
 
“As doenças respiratórias no Brasil têm essa característica: predominam no primeiro semestre, começando pelas Regiões Norte e Nordeste. Tipicamente, temos as síndromes gripais entre fevereiro e abril. É nosso período de maior fragilidade”, complementa Keny Colares.

A infectologista Roberta Luiz frisa que “o número de casos de doenças respiratórias no Brasil não é alto no fim do ano, mas passa a aumentar no período de estação chuvosa”, de modo que “nosso risco maior será no período entre fevereiro e abril”.

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