80 cidades do Ceará não imunizaram completamente nem metade da população contra a Covid; veja lista
Para o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará, o problema está na lenta distribuição do imunobiológico, problema que afeta todo o Brasil
O consenso entre infectologistas e cientistas que estudam a pandemia do novo coronavírus é de que apenas com o avanço do processo de imunização será possível conter o vírus Sars-Cov-2 e, assim, reduzir definitivamente os casos de infecções e mortes. Contudo, no Ceará, 43% das cidades ainda apresentam lentidão no processo de imunização.
Dos 184 municípios, 80 ainda não conseguiram aplicar a dose única ou as duas doses do imunobiológico contra a Covid-19 em pelo menos metade da população elegível para a vacinação - moradores com 12 anos ou mais. Para especialista, a morosidade na vacinação pode representar um risco à população.
Dentro desta lista, alguns se destacam negativamente, como são os casos de Tianguá, Ibicuitinga, Beberibe e Arneiroz.
Nestas cidades o processo de vacinação está abaixo dos 30%. Em contrapartida, no cenário oposto, estão 10 cidades que já completaram o ciclo vacinal em mais de 70% da população: Acopiara, Icapuí, Monsenhor Tabosa, Nova Olinda, Pires Ferreira, Quixelô, São Benedito, Senador Pompeu, Sobral e Guaramiranga.
Esta última é a única que já vacinou completamente 100% de sua população. Os dados são da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado e foram compilados pelo Diário do Nordeste.
"Problema está no repasse das doses"
Para Sayonara Cidade, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems/CE), o problema está na lenta distribuição do imunobiológico, problema que afeta todo o Brasil.
"Nós só temos diminuição na velocidade da operacionalização quando falta vacina. Tendo a vacina, os municípios imediatamente praticam os trâmites vacinais. Então, essa quebra no ritmo não é por vontade dos municípios, e sim por conta de interrompimento na produção das vacinas", avaliou.
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Contudo, segundo a a coordenadora da Célula de Imunização da Sesa, Kelvia Borges, todos os municípios cearenses recebem as doses de forma equivalente, "mediante o número de pessoas cadastradas no Saúde Digital". Ela explica que, caso uma cidade tenha recebido proporcionalmente menos doses é por ter um menor contigente de pessoas cadastradas.
"É importante que ocorra uma mobilização da população para que faça o cadastro no Saúde Digital. A distribuição aos municípios é feita de forma igualitária, considerando a base das pessoas cadastradas", detalha.
Ainda segundo Kelvia Borges, a baixa cobertura vacinal nestas cidades cearenses causa preocupação. "A Sesa vai continuar dando todo suporte para que os municípios avancem no cadastro do Saúde Digital e, assim, possam receber mais doses para avançar neste processo".
Acompanhamento do processo
Segundo a representante do órgão, o Cosems tem acompanhado a vacinação nos municípios desde o início, "realizando, por exemplo, reuniões de CIB para pactuações e decisões sobre a vacina".
CIB é a sigla para Comissão Intergestores Bipartite do Estado do Ceará, um colegiado permanente de gestores da Saúde do Estado e dos municípios cearenses para discussão e negociação das questões operacionais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Nossa preocupação é de forma geral, e não só com a baixa cobertura em alguns municípios. A baixa cobertura não é uma prerrogativa dos municípios, ela é uma prerrogativa do País. Estamos sem doses para D1 e por duas vezes já tivemos essa falha.
Sayonara pondera que o órgão tem orientado os municípios a tão logo recebam as vacinas, façam sua aplicação. "Mas os problemas na produção do imuno atrapalham esse fluxo. Essa situação interrompe o fluxo de vacinação em todo o País, e consequentemente está sendo possível fazer apenas D2 no momento", justifica.
Ela aponta ainda que desde o início do processo de imunização "ocorreram duas quebras de D1". Por volta de julho, ela afirma que foram mais de 30 dias sem D1 de Astrazeneca, "e estamos passando agora por mais um momento de interrompimento no recebimento de doses da Astrazeneca para D2".
Deste modo, completa a presidente, "é previsível que alguns municípios estejam abaixo de 50%, assim como o País também, que está com cerca de 46% de pessoas com ciclo vacinal completo". No entanto, a média geral do Ceará é maior que a brasileira.
A coordenadora de imunização, Kelvia Borges, ressalta, porém, que este envio [de doses do governo Federal ao Estadual, e do Estado aos municípios] já está normalizado.
Até a última terça-feira (12), data em que os dados foram extraídos, o Estado já havia aplicado a dose única em 164.505 pessoas e a segunda dose em 4.047.898, totalizando 4.212.403 cearenses completamente imunizados, o que representa 54,8% do público vacinável (7.681.764) do Ceará.
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Lentidão causa preocupação
O médico infectologista Keny Colares, consultor da área da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), alerta para os riscos do avanço "desequilibrado" da vacinação. Segundo ele, existir cidades com processo muito avançado e, em outras, lentidão, pode dificultar o efetivo combate à pandemia.
"Os chamados bolsões, que são um determinado grupo de pessoas não vacinadas dentro de uma universo de imunizados, é um risco.A cobertura vacinal equilibrada entre regiões é fundamental para conter, de forma uniforme, o avanço do vírus. Se uma localidade está mais atrasada, ela acaba se tornando um risco para cidades vizinhas e, consequentemente, para todo o Estado", alerta.
Nestes casos onde a vacinação está mais morosa, acrescenta Keny, pode existir aumento de casos e mortes. "A vacina é o único meio para contermos a pandemia. Mas, para isso, temos que umizar um alta porcentagem da população", conclui.
Importância da rápida vacinação
Keny destaca também que o avanço da vacinação traz resultados positivos. Dentre eles, está a queda na taxa de ocupação dos leitos de Covid-19. No Ceará, a taxa de ocupação dass UTIs está, atualmente, em 38% e, dos leitos de enfermaria, em apenas 9%. Os dados são do IntegraSus, plataforma oficial da Sesa.
Conforme o Ministério da Saúde, quando esses índices estão abaixo de 50% são considerados dentro dos padrões de normalidade. As médias móveis de casos e óbitos também estão em queda. Somente em Fortaleza, a queda foi de 75%.
"Os números são importantes, mas temos que manter os cuidados. Uso de máscara, alcool em gel e distanciamento seguem sendo fundamentais. É preciso termos paciência para analisar se esse cenário de queda vai se consolidar. Em outros países que relaxaram as medidas, os casos voltaram a subir. Então, precisamos seguir nos cuidando, mesmo àqueles que já se vacinaram", conclui.