Ação de reflorestamento deve plantar o dobro de árvores perdidas no incêndio do Cocó em 2022

Com o fim do trabalho de controle do fogo e da fumaça, será feito mapeamento do número de plantas perdidas no crime ambiental para o planejamento da inserção de novas árvores

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Parque do Cocó
Legenda: Parque do Cocó teve biodiversidade prejudicada por incêndio criminoso
Foto: Fabiane de Paula

Em menos de 24h, o incêndio criminoso no Parque do Cocó transformou árvores enraizadas há tempos em pedaços de madeira queimada, numa área de 46 hectares, com impacto ambiental ainda por ser dimensionado. Equipe da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) deve mapear a quantidade de troncos perdidos para o reflorestamento no início de 2022.

“Nós vamos plantar o dobro de árvores no início do ano que vem, inclusive de mangue, quando começar o período de chuva”, frisa Artur Bruno, titular da Sema. O Parque abriga 346 espécies arbóreas, arbustivas e palmeiras mensuradas pelo Inventário Florestal Nacional (IFN). Do total, 7 foram identificadas exclusivamente no Cocó.

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A brigada florestal da Sema deu apoio ao Corpo de Bombeiros para debelar o fogo e fazer o resfriamento da área. “Houve perda de flora, o capinzal e as árvores próximas da Murilo Borges e tivemos perda animal. Vimos rãs, muçuns, cobra, iguana, pequenos répteis”, detalha o secretário.

As equipes contam com 19 novos brigadistas contratados este ano e que já atuaram em outros 4 incêndios durante o mês de novembro. “Nós fizemos um plano em que todo segundo semestre contrataremos brigadistas florestais para atuar nas unidades de conservação”, acrescenta. O período sem chuvas concentra o número de queimadas.

O fim da operação para o controle do incêndio acontece com as investigações sobre a origem do fogo.

“Estão analisando, de forma aérea, qual foi a área atingida, à tarde os técnicos da Sema, Semace, fiscais ambientais, farão um trabalho in loco para ver o que houve da perda da fauna e da flora. Vamos fazer investigação para tentar descobrir as razões do incêndio”, explica Artur Bruno

1.580 hectares
É a dimensão do Parque Estadual do Cocó, que guarda 20 km do Rio Cocó

Como funciona o trabalho dos bombeiros?

No primeiro dia após o fogo ter sido debelado, cerca de 40 agentes atuaram na operação para monitorar e conter a fumaça.

“Os grandes focos foram debelados e hoje estamos trabalhando para não deixar que haja reguinição. O Ciopaer faz o sobrevoo para a gente ter a noção exata da quantidade queimada”, explica o capitão Gadelha, coordenador de operações do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, .

Bombeiros
Legenda: Bombeiros realizam estratégia para evitar novos focos de incêndio
Foto: Fabiane de Paula

O trabalho foi realizado com apoio de 10 viaturas operacionais, três viaturas administrativas e bombas costais. “A dificuldade realmente é o acesso, nós não temos como manter linha direta com mangueira no local. Estamos trabalhando com bastante afinco para que hoje não tenha mais a complexidade que se teve ontem”.

Resgate de animais

Pássaros voavam desnorteados durante a expansão da fumaça, mas só com o controle do fogo se começa a observar os prejuízos para a fauna. Voluntários atuam para o resgate de animais feridos ou em busca de abrigo.

“O trabalho de resgate vai funcionar deixando os voluntários e profissionais sobre aviso. Se for realizado contato por email ou telefone, a população avise caso seja animal vagante ferido ou não”, detalha o biólogo Bruno Guilhon.

Bicho
Legenda: Bicho não escapou das chamas do incêndio causado no Parque do Cocó
Foto: Acervo pessoal

Pela manhã, o voluntário entrou no local com apoio de bombeiros para fazer o resgate de uma iguana relatada para Bruno, que ainda não foi encontrada. “O ponto era incerto, mas vai ser realizada uma segunda busca para atendimento veterinário”, explica.

Contudo, “no retorno, foi encontrada essa jiboia, uma espécie de serpente, não é peçonhenta e tem bastante no Parque do Cocó”.

Preparar o solo para replantio

“Tem que fazer avaliação não apenas do quantitativo, mas qualitativo. Identificar as espécies perdidas no incêndio. Após essa análise, fazer uma preparação do solo onde as mudas serão plantadas, porque no incêndio os nutrientes foram destruídos. Essa preparação do solo é muito importante. E se forem mudas pequenas, que sejam de, pelo menos, um metro e oitenta de altura”, esclarece Daniel de Paula, ambientalista e facilitador do Greenpeace. Ele explica ainda que a manutenção do plantio é importante. “Estamos num período seco, que exige um cuidado ainda maior para a colocação de mudas”.

Para mitigar o impacto de possíveis novos incêndios, o ambientalista sugere a implantação de aceiros, que são faixas de solo limpo, cortando vegetações, usadas para causar a descontinuidade em um incêndio. Além disso, observar os tipos vegetais que abrigavam animais rasteiros. “Não foram perdidas somente árvores, mas os arbustos. É importante que se observe a área arbustiva. A vegetação rasteira é muito importante para várias espécies de animais que habitam o Cocó como serpentes e espécies de anfíbios”.

 
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