91% dos cearenses querem se vacinar contra a Covid-19, aponta pesquisa
Levantamento foi feito pelo Instituto Opnus nos últimos dias do mês de março. Estudo apurou ainda que, dentre os que rejeitam as vacinas, a maioria é por desconfiança
No Ceará, 91% da população quer se vacinar contra a Covid-19. Isso foi o que constatou a segunda rodada da pesquisa “Opinião, rotina e impactos na vida dos cearenses durante a pandemia”, encomendada pelo Sistema Verdes Mares (SVM) ao Instituto Opnus. O estudo ouviu 1.380 pessoas com mais de 18 anos de idade entre os dias 27 e 30 de março deste ano.
A pretensão de se vacinar é maior no interior do Estado (93%), entre católicos (94%), com ensino superior (96%) e com renda familiar de dois a cinco salários mínimos (97%).
Devido à indisponibilidade de doses para todos, o ritmo da campanha de vacinação, contudo, não acompanha o desejo da população. Nesse sentido, a pesquisa também concluiu que para 52% dos cearenses a imunização no Brasil está “mais lenta do que se esperava”.
Imunidade de rebanho
Para o biólogo, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luciano Pamplona, acelerar o processo de vacinação é fundamental para evitar que a alta transmissão do coronavírus favoreça o desenvolvimento de mais variantes dele.
“Num cenário em que a gente tem transmissão muito intensa da doença, se a gente não correr com vacinação, a gente favorece a disseminação, o surgimento de novas cepas, e, fatalmente, uma delas não vai responder às vacinas disponíveis. Então, quanto mais tempo demorar com transmissão alta, sem atingir imunidade de rebanho, maior o risco”, observa Luciano.
Dito isso, considerando o ritmo atual de chegada de novas doses, o epidemiologista acredita que não será possível alcançar a imunidade de rebanho no Ceará ainda neste ano, embora reconheça que o Estado tem logística adequada e suficiente para executar esse trabalho.
Rejeição à vacina
Ainda segundo a pesquisa do Instituto Opnus, 6% dos cearenses responderam objetivamente que não pretendem se vacinar contra a Covid-19. A maioria (42%) por não confiar nas vacinas disponíveis, por achar que elas não têm eficácia (20%) ou por temer efeitos colaterais (12%).
A analista de crédito Sheila Maria de Sousa, 51, era uma das que não queriam receber o imunizante por não acreditar na eficácia dele. Ela comenta, por exemplo, sobre a época em que ainda não se tinha certeza sobre o percentual real de eficácia da CoronaVac — vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac. “Minha resistência era sobre isso, sobre a verdade da situação”, diz.
Porém, Sheila mudou de ideia depois de ver os casos aumentando e os amigos morrendo pela doença. “Por todas essas situações, pelos riscos que eu passo [no trabalho no comércio] e pelo [bem] coletivo, eu disse: ‘vou tomar essa vacina e Deus que me ajude”, conta.
Conjuntura política e ideológica
Dentre os que rejeitam o imunizante contra a Covid-19, também conforme o estudo do Opnus, a maior parte é composta por pessoas que professam religião evangélica.
Diretor do instituto de pesquisa, Pedro Barbosa acredita que a questão religiosa que prevalece dentre os que negam a vacina tem a ver com a conjuntura ideológica e política que reverbera nos posicionamentos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
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“A maioria da população sempre se declarou favorável à vacina, mas tínhamos uma minoria contrária. A gente pode atribuir boa parte dessa rejeição ao discurso do presidente, que durante muito tempo veio se posicionando contrariamente à vacinação, especialmente no caso da CoronaVac, que teve aquele embate político e ideológico com o governador de São Paulo [João Dória], com o fato da vacina ter origem chinesa”, comenta Pedro.
Para o epidemiologista Luciano Pamplona, escolher não se vacinar impacta diretamente no controle da pandemia. Ele cita, por exemplo, a meta de cobertura vacinal contra o sarampo, que é de 95% da população, o que exige a adesão quase da totalidade dos brasileiros.
“O grande objetivo de uma campanha de vacinação é atingir a imunidade de rebanho, que é garantir um percentual de vacinação que as pessoas que não estão vacinadas sejam tão poucas que o vírus não alcance elas, ou que essas pessoas, caso sejam contaminadas, não sejam capazes de encontrar outra pessoa suscetível e transmitir a doença”, explica o especialista.