Medo e cautela marcam volta às aulas presenciais para professores e alunos da rede pública estadual

Cuidados com a transmissão do coronavírus mudam desde a chegada de alunos ao momento do intervalo em escolas que optaram pelo ensino híbrido. Segundo a Seduc, 204 escolas do Estado voltaram a ter atividades presenciais

Legenda: Reunião com pais foi feita para decidir pelo ensino híbrido na escola Milton Façanha Abreu
Foto: Arquivo Pessoal

A alegria de voltar à escola depois de 11 meses em ensino remoto devido a pandemia é entrelaçada com o medo e a cautela em relação à transmissão do coronavírus. Isso é o que contam professores e alunos da rede de ensino estadual do Ceará, que iniciou o ano letivo de 2021 com a possibilidade das instituições optarem pelo ensino híbrido - modelo que mescla as aulas virtuais com os momentos presenciais.

“Eu senti nas salas um misto de satisfação por estar na escola, mas ao mesmo tempo cautela, um pouco de receio. Essa mistura é comum na situação em que nós estamos”, diz Luiz de França, diretor da EEM Professor Milton Façanha Abreu, em Mulungu, no interior do Estado. A escola é uma das 204 que, segundo a Secretaria da Educação (Seduc), escolheu promover aulas presenciais.

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Luiz explica que a escola fez uma divisão por áreas do conhecimento e permitiu a volta somente aos alunos do 3º ano do ensino médio. Apenas no horário da manhã, em dois dias de fevereiro os alunos terão aulas de linguagens, outros dois dias do mês são reservados para as ciências humanas e assim por diante com as demais matérias cobradas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Vamos seguir vagarosamente, obedecendo os protocolos sanitários, medindo a temperatura, com distanciamento”, afirma.

Neste período, a escola funciona com 35% dos estudantes. Letícia Coelho, 16, estudante do 3°ano, faz parte do grupo que está tendo aulas presenciais na instituição. “Ir à escola, para mim, ouvir a explicação do professor pessoalmente é a essência na hora da aprendizagem, consigo me concentrar melhor e me dedicar mais”, comenta. Ela conta que nem todos os alunos optaram por voltar, alguns por medo da exposição ao vírus ou por conviverem com familiares do grupo de risco da doença.

Rotina diferenciada

Desde a chegada na escola, com aferição de temperatura e higienização das mãos, até a hora do intervalo, feito sem a possibilidade de reunião entre estudantes, a rotina nas escolas estaduais foi modificada pelos cuidados com o coronavírus. 

Letícia Coelho conta que os alunos precisam comer dentro das salas para não ter contato direto com estudantes das outras turmas.“Na saída, saiu uma sala por vez, e foi pedido que os alunos tomassem cuidado com a aproximação”, conta. 

Já na escola de tempo integral Jenny Gomes, localizada em Fortaleza, a aluna do 3º ano Maria Letícia, 17 anos, conta que só duas ou três pessoas podiam sentar juntas na mesa do refeitório. Mesmo com as mudanças, a adolescente ficou emocionada ao encontrar os colegas novamente. “Depois de tanto tempo eu e meus colegas nos vimos, conversamos, claro que não é a mesma coisa de antes, aquela aglomeração nas salas, nos corredores da escola, mas mesmo assim foi maravilhoso”.

pais e professores em uma sala de aula, de máscara, em reunião
Legenda: Reunião com pais foi feita para decidir pelo ensino híbrido na escola Milton Façanha Abreu
Foto: Arquivo Pessoal

Ensino remoto continua

O professor Ribamar Batista, funcionário da EEMTI Jenny Gomes, explica que a maioria dos alunos continua em ensino remoto. Portanto, os docentes precisam dar aulas para as turmas presenciais e transmitir o momento para as que ainda estão em casa. Quem não pode acompanhar as aulas ao vivo por “condições técnicas”, de acordo com o professor, recebe a gravação depois.

Ribamar avalia positivamente o retorno das aulas presenciais, apesar do receio com a contaminação e a quantidade reduzida de estudantes. “Tanto docentes como discentes precisam desse vínculo. Além disso, alguns discentes relatam terem dificuldades de aprendizagem nas aulas remotas. Outro ponto interessante é perceber que, aos poucos, eles começam a readquirir a vontade de estudar”.

Para o estudante do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Marcos Vinicius, de 17 anos, o ensino remoto começou tranquilo, mas com o passar dos meses o cansaço de passar muitas horas no computador pesou no aprendizado. 

“Quando você está tendo aula presencial, você consegue tirar as dúvidas de uma melhor forma. É menos cansativo. Se você está numa sala propriamente para estudar, essa experiência é melhor”, explica. Marcos segue em ensino remoto durante a semana. Aos sábados, ele tem aulas extras presenciais.

Incertezas sobre o presencial

Apesar dos benefícios do ensino presencial, com os casos de Covid-19 aumentando rapidamente, dúvidas surgem sobre a manutenção do modelo híbrido. Luiz de França defende que é possível continuar, mas depende do “comportamento sanitário de cada indivíduo". “Temos esse receio, de alguém não cumprir o que é para ser feito. Nós não sabemos, porque não podemos monitorar eles constantemente, o comportamento do jovem de casa para a escola”.

Ele não descarta a volta das atividades 100% remotas. “Tudo vai depender da evolução dessa doença, porque se aumentar o número de casos, a gente pode recuar”. De acordo com informações da Seduc, 527 escolas ainda estão funcionando apenas com o ensino remoto, mesmo com a possibilidade de retomada.