Os vestibulandos Laura da Silva Silvano, 18, e Felipe Rodrigues Gonçalves, 17, já sabiam que 2020 seria marcante. Eles deveriam viver o terceiro ano do ensino médio, se preparar para o Enem, aproveitar os últimos meses com a convivência dos amigos da escola e planejar o início da vida universitária. Ninguém imaginava que os planos seriam mudados e o responsável por marcar o ano seria um vírus causador de uma pandemia. A preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio teve de continuar, mas o clima de incertezas e a distância da escola afetou ainda mais a saúde mental de quem fará a prova.
No nono e último episódio do podcast “Isso Não Cai no Enem”, conduzido pela jornalista do EducaLab, Luana Severo, os alunos relatam como a quebra de expectativas deste ano influenciou nos estudos e como lidam com a ansiedade relacionada à prova em um período tão atípico.
“Eu sempre sofri um pouco com ansiedade. E, no terceiro ano, eu senti um pouco mais de pressão. Mas, esse momento da pandemia afetou muito minha mentalidade. Não foi tão fácil. A gente conseguiu assistir algumas aulas, fazer alguns trabalhos, mas tinha dia que a gente não suportava”, diz Laura. Ela estuda em uma escola profissionalizante em Beberibe, cidade do litoral cearense.
Com dificuldade para se adaptar ao estudo remoto, Laura passou a ficar mais ansiosa em relação ao Enem. O medo de que a prova seja mais difícil que o esperado e de que a sonhada vaga em uma universidade pública fique um pouco mais distante fez com que a jovem se sentisse paralisada. “Tem hora que ataca de uma vez que eu não consigo estudar, não consigo fazer nada por conta da ansiedade”. A estudante lamenta que a prova ocorra ainda em janeiro, desejando ter mais tempo para se preparar.
“Eu acredito que eu tive uma estabilidade emocional até além do que muitos amigos meus tiveram. E mesmo assim eu ainda senti muito, ainda foi muito forte pra mim todo esse momento, toda essa situação de pandemia”, avalia Felipe, aluno de uma escola particular de Fortaleza. Para ele, ficar longe dos amigos e não conseguir sair para descansar a mente dos estudos foram os fatores que mais contribuíram para a ansiedade.
Apesar disso, Felipe reconhece que o ambiente confortável para estudar, o apoio dos pais e a disponibilidade de um computador favoreceram também o equilíbrio mental necessário para prosseguir os estudos em 2020. “Meus pais, meus irmãos, conseguem me ajudar a me fazer entender que pode até não ser agora, mas vai dar certo. E o nosso dever é continuar lutando responsavelmente com a gente, com a nossa saúde, pra não comprometer outras áreas na nossa vida. Se sair bem no vestibular e estar destruído mentalmente não vale a pena”.
Encontrar métodos para lidar com a ansiedade
Eliminar a ansiedade por completo é um esforço que, segundo a psicóloga comportamental Débora Araújo, não traz bons resultados. A especialista afirma que o sentimento é natural do organismo humano e pode ser essencial para ajudar o estudante a se movimentar, procurar melhores formas de estudar e se preparar para a prova. “O que acontece, muitas vezes, é que acaba ficando de uma maneira muito intensa, e, ao invés de movimentar, acaba paralisando por ser um sofrimento muito grande mesmo”.
Débora lembra ainda que a prova do Enem é um momento de transição definidor. “É um contexto onde muitos veem novas possibilidades, possibilidades de estudar aquilo que se gosta, de construir uma carreira, e, sendo algo muito importante, acaba gerando essa angústia, essa ansiedade”. No entanto, é fundamental saber o momento de procurar um profissional da psicologia. Também deve ser um objetivo buscar métodos pessoais de amenizar os sentimentos paralisantes.
Fazer simulados
Uma das dicas da psicóloga é fazer simulados replicando da forma mais próxima possível o ambiente e horário da prova oficial. “Nesse contexto, ele [o estudante] já vai sentir muita ansiedade, já vai sentir muito medo, desconforto. Então, ele pode praticar exercícios de respiração, inspirando três segundos e expirando seis segundos. Sempre com o dobro de tempo para o ar conseguir sair completamente do organismo”.
“Todas essas estratégias, é importante que sejam feitas ao longo de todo o processo, não apenas no dia que você vai tá indo para o Enem”, lembra. Por isso, ela também indica criar o hábito da meditação para quem sofre com pensamentos acelerados. Além disso, escrever o que sente e o que está pensando pode ser uma boa técnica para os estudantes.
O que são podcasts?
O “Isso Não Cai no Enem” é um podcast produzido pelo EducaLab e realizado pelo Sistema Verdes Mares, com apoio do Governo do Ceará e da Universidade de Fortaleza. Está disponível nos principais agregadores de streaming.
Podcasts são materiais entregues em formato de áudio, muito semelhantes a programas de rádio. Porém, a diferença é que este conteúdo fica disponível para que o ouvinte escute quando e onde quiser. Não é ao vivo. São produzidos sob demanda.