Prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é uma missão que sempre demandou uma dedicação extra do aluno. Mas, com a adoção do ensino remoto neste ano por causa da pandemia de Covid-19, o empenho precisou ser redobrado.
Longe dos colegas de sala e dos professores, o candidato se viu diante do desafio de manter uma rotina de estudos que garanta um bom desempenho na prova. Logo, a colaboração e o apoio dos familiares se fizeram ainda mais necessários dentro de casa.
É o que relatam Maria Vitória, 18, e Ana Lívia, 17; estudantes das redes pública e privada de ensino do Ceará, respectivamente. Juntas à psicóloga Juliana Cavalcante, elas participam do 3º episódio do podcast "Isso Não Cai no Enem", conduzido pela jornalista do EducaLab, Luana Severo.
Liberdade para sonhar
Apesar de viverem cotidianos diferentes, Maria Vitória e Ana Lívia puderam encontrar em casa o mesmo apoio para seguir a carreira desejada. E sem pressão por resultados imediatos e alto desempenho.
Maria Vitória, por exemplo, tem que ajudar diariamente a mãe a cuidar dos sobrinhos. Obrigação que não a impede de se sentir "livre para sonhar" com o futuro.
"A minha família me dá passe livre para sonhar. E isso é incrível. As dificuldades são muitas, em variados aspectos, mas esse passe livre que eu recebi desde muito nova é muito inspirador, me encoraja muito e me dá muitas forças necessárias pra sonhar, pra acreditar. Minha família me mostra o que eu posso conquistar através do meu estudo, do meu esforço, mas nunca interferiram na questão do curso que eu quero fazer, do que eu quero, assim, diretamente".
Ana Lívia também acaba colaborando com os afazeres de casa. Ainda assim, tem tido uma rotina de estudos "produtiva". “A minha rotina em casa está sendo bem produtiva. Porque meio que, quando a gente vai pra escola, tinha a questão de ter que ir de ônibus e isso demora mais. E em casa estou conseguindo render mais do que eu estava rendendo no colégio, sabe? E minha família entende que, quando estou estudando, eles evitam entrar no meu quarto, fazer barulho, também pra ajudar a me concentrar. Porque passar no Enem não é uma coisa fácil, ainda mais com a situação [de pandemia] que está”.
Saúde mental
Passar no Enem logo na primeira tentativa é o sonho de todo aluno que se despede do Ensino Médio. Mas, para a família de Ana Lívia, a saúde mental da jovem é o que mais importa. “Desde o começo do ano, antes mesmo da pandemia, minha mãe sempre falava que eu não prejudicasse minha saúde mental pra passar de primeira. Deixar de viver, de fazer as coisas que eu gosto de fazer. Porque ela disse que tudo tem limite. Então, a cobrança dela está até bem menos. Ela entende se eu não passar agora", compartilha a jovem, que se percebe privilegiada.
Maria Vitória, por sua vez, tenta focar nos estudos ao mesmo tempo em que busca manter a saúde mental e dar suporte à família. “Vejo que essa situação de pandemia dificulta mais eu ter momentos pra minha família e momentos disponíveis até pra mim mesma. São muito raras as vezes em que eu paro e consigo me ligar nisso ou naquilo outro. Dar aquela atenção às pessoas que estão ao meu redor. Ter aquela paciência. Porque eu acredito que o estresse aumentou bastante. As preocupações e tal. Tudo isso desenvolve estresse, mal estar e, às vezes, até sentimento, assim, de raiva. Mas acredito que é tentando, né? Assim, de todas as formas, estar próxima, demonstrar afeição, demonstrar que eu tô aqui, que, embora a correria, podem contar comigo.”
Apoio e validação dos sentimentos
Momentos como esses vividos por Maria Vitória tendem a aumentar a ansiedade dos estudantes. Por isso, os pais devem estar disponíveis para oferecê-los apoio, indica a psicóloga Juliana Cavalcante, especialista em Avaliação Psicológica.
“Que esses adultos, esses pais, responsáveis, se coloquem como suporte, como alguém que valide os desafios, principalmente nesse ano de pandemia, um ano de grandes mudanças, de adaptação escolar extremamente significativa. A gente também está falando de um excesso também do digital, de um excesso de tempo em frente ao celular ou ao computador. Então toda essa organização precisa ter um adulto empático pra validar e ajudar nessa travessia que está sendo esse ano de 2020”.
A psicóloga, por outro lado, entende que a pandemia também trouxe desafios para os pais. Por isso, reforça que o apoio oferecido por eles pode se manifestar de formas simples, como se monstrando por perto ou validando os sentimentos do jovem.
“Permitir também que esse adolescente possa vivenciar atividades extracurriculares, que propiciem momentos descontraídos, que consiga permanecer com os vínculos sociais. Que faça algo pro descanso mental, algo voltado pra artes, jogo de tabuleiro com a família, alguns momentos de descontração, que ele consiga fazer essa recuperação psíquica, esse descanso cognitivo. Consiga oferecer também a esse adolescente uma qualidade de sono. Quando falo de conseguir oferecer é no sentido de acompanhar como está esse sono, essa alimentação. E fazer, de fato, esse suporte”.