Jovens se vestem como garçom e vendem nos semáforos para garantir sustento

Dificuldade em garantir vaga de trabalho no mercado formal, eles buscam alternativas para garantir sustento

Escrito por Redação Diário do Nordeste ,

Nos últimos anos, tem ficado cada vez mais difícil uma oportunidade de emprego formal para os jovens na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Tanto pela conhecida “falta de experiência” como pela forte retração econômica que se instalou no País há dois anos. Mas, com criatividade, algumas pessoas desta faixa etária estão conseguindo uma ocupação e, principalmente, uma fonte de renda.

E é vestido de garçom, com uma bandeja cheia de bebidas e salgadinhos na mão, que o jovem de Itapipoca Eliezeo Bruno dos Santos, 26, após perder o emprego de garçom que possuía em um estabelecimento localizado em um shopping, teve a ideia de “se arrumar” para vender água nos sinais de trânsito de Fortaleza. “Apesar do medo de não dar certo e também da violência nas ruas, resolvi tentar. E está dando certo”, comentou.

Há quatro semanas, Bruno, como é conhecido na região escolheu o “ponto” na esquina da Avenida Santos Dumont com a rua Valdetário Mota, no Papicu, para iniciar suas atividades de garçom de sinal. No local, já trabalha há dois anos o ambulante Regilson Silva do Nascimento, 38, que vende malhas protetoras do sol, brinquedos, infláveis e outros utensílios. “Bruno é uma boa companhia. É bem organizado e bem-apessoado”, analisou.

Iniciativa coletiva

Neste curto espaço de tempo, Bruno já conseguiu dois sócios: Felipe Ferreira de Souza, 18, que trabalhava entregando água, e o vizinho, Tales Henrique Prudêncio, 24. A ideia do trabalho foi de Bruno, que se recorda do pai ter comprado água estragada de um vendedor mal vestido no sinal. “Como eu já trabalhava na época de garçom, fiquei com esta ideia na cabeça”, lembrou.

Quando perdeu o emprego, pensou logo em empreender e começou o negócio. 

O mix de produtos está aumentando a cada dia conforme o pedido dos clientes. Hoje, engloba águas, sucos, refrigerantes, energéticos e salgadinhos industrializados. Os preços vão de R$ 2,50 a R$ 10, e o carro-chefe é a água tradicional. O faturamento diário passa dos R$ 200. O expediente costuma ir das 9h às 17h30, e, diariamente, os clientes motivam Bruno a continuar.

“Está muito melhor do que trabalhar em outro local, pois é uma coisa para mim. Nos meus planos, tenho ideia de abrir um restaurante em Itapipoca. Mas enquanto estiver dando certo, vou ficar por aqui”, afirmou.

Outros pontos

A poucos quilômetros do local onde Bruno trabalha, no cruzamento entre a Avenida Padre Antônio Tomaz e a rua Oswaldo Cruz, os sócios dele, Felipe e Tales, dividem o isopor de trabalho e estão tentando achar o “ponto ideal”.

“Também já trabalhei de garçom e, junto com o Bruno, decidimos iniciar as vendas. Como eu estava trabalhando, resolvemos que ele ia começar primeiro e se desse certo eu iria depois”, detalhou Felipe.

Após quatro dias no novo expediente, o rapaz comemora o aumento no salário de 15% e a liberdade, caso fique doente ou cansado. “Está dando para viver. Sonho em ser rico e ser meu patrão”, revelou.

Estágio

Já Tales encarou o desafio para obter uma renda e ocupação enquanto não consegue um estágio em edificações, área na qual já concluiu curso técnico. “Estou desempregado há um ano e três meses. Era jovem aprendiz na Viação Urbana. Também estava fazendo faculdade, mas perdi o auxílio do Fies”, disse.

O jovem já tinha experiência com o público, pois ajuda os pais à noite na venda de espetinhos. “As coisas estão difíceis para achar trabalho. Pensamos: ‘vamos revolucionar Fortaleza’”, afirmou Tales, que relatou ter procurado emprego, mas não achou oportunidades.

Mercado local

De acordo com o analista de Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Mardônio Costa, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), assim como tem acontecido no cenário nacional, tem sentido demais a retração da economia nos últimos dois anos.

“Dos 241 mil desempregados registrados em 2016, 45,3% da média total são de jovens sem trabalho”, constatou Costa. Segundo o analista, o jovem é o segmento que tem mais dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. No mundo, o desemprego entre esta faixa etária, 16 a 24 anos, é 2,5 vezes maior do que a taxa adulta.

Influência

De acordo com Mardônio Costa, fatores como idade e falta de experiência ainda pesam de forma negativa para os jovens. “Além das características da fase da idade com a questão da experimentação tem a problemática da falta de experiência do primeiro emprego. É preciso políticas públicas voltadas para este mercado”, enfatizou. Até 2015, a taxa de desemprego entre os jovens era de 20%. Hoje, alcançou 30,2% na média anual de2016, de acordo com dados do IDT. 

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