“Nova vida para aproveitar”: no dia mundial de combate à doença, cearense relata como superou câncer

Conheça histórias de vida de quem passou pela fase crítica do tratamento do câncer e relembra o apoio da família e da equipe médica antes da alta

Escrito por Redação ,
Anderson Medicina
Legenda: Cinco anos após a alta, Anderson cursa medicina "Pagar a esperança e a confiança da mesma forma que eu recebi quando eu mais precisei"
Foto: Arquivo pessoal

A sensação, ao receber o diagnóstico de câncer, é de anseio. Amparados, principalmente, pela família, quem passa pela notícia conta com a esperança e o apoio especializado da equipe médica para superar a doença. No caso da aposentada Simone dos Santos, 63, o diagnóstico correto para o câncer de mama veio após insistência. Acostumada a fazer os exames preventivos para saúde feminina, percebeu com estranheza a resposta médica durante consulta em 2015. 

Seis meses depois da alta médica, a idosa, que contou com o apoio dos filhos e do marido para superar os dias difíceis, comemora. "Hoje, eu quero é aproveitar a vida", diz.

Nesta quinta-feira (4), dia mundial do combate ao câncer, Simone e outros dois cearenses compartilham o percurso com a doença — desde os primeiros dias após o diagnóstico até o alívio da alta. 

“Eu quero é aproveitar a vida”

Simone dos Santos
Legenda: Confiante, Simone aposta em atividades de grupo para compartilhar experiência com outras mulheres
Foto: Arquivo pessoal

O diagnóstico de Simone veio cedo, ainda nos exames de rotina. “Todos os anos eu fazia. Fiz a mamografia, apresentei ao médico, e ele pediu para repetir. Repeti, levei, e ele não deu resultado. Eu achei esquisito, era muito exame. Pediu seis meses para sair o resultado da investigação. Procurei outro médico, que pediu novamente a mamografia e foi detectado na mama esquerda um carcinoma”, relembra. 

Como a doença ainda estava em fase inicial, o tratamento direcionado foi menos invasivo e, apesar de precisar receber radioterapia, Simone não foi submetida ao procedimento quimioterápico. “Eles removeram logo o tumor e depois fiz 28 sessões de radioterapia. Queimou um pouquinho minha pele, só, no local onde eles fizeram a marca com caneta. Mas durante o tratamento, não podia tomar banho com shampoo ou com sabão, para não sair a marcação. Era só um ‘banho de gato’”, brinca. Mãe de um “casal”, a aposentada contou com o apoio dos filhos e do marido para passar pela fase medicamentosa. 

Simone Igreja
Legenda: Simone conta que manter a fé foi importante durante o acompanhamento
Foto: Arquivo pessoal

“Quando começou a suspeita de que não estava bem, minha filha me acompanhou. Foi tudo ‘dentro do normal’, porque a minha filha, meu marido, me deram muita força. Inclusive, quando eu fiz a cirurgia, passaram a me ajudar mais nas coisas que eu não posso fazer”, comemora. Cinco anos depois do início do processo, a liberação da equipe médica veio em junho do ano passado, “mas o cuidado de fazer a mamografia e o ultrassom continua. Não só eu, mas todo mundo tem que estar sempre em alerta, fazendo a mamografia todos os anos”, recomenda. 

Da experiência, Simone, religiosa, comemora a vontade de viver e é categórica: o câncer não é o fim da vida. 

“Eu quero é aproveitar. Participo de um grupo chamado Amigas do Peito, na Associação Nossa Casa. Nós todas passamos pelo mesmo problema. A gente não conversa sobre a doença. Fazemos passeios, melhoramos a autoestima, é um grupo muito bom. Tem gente que acha ‘Ah, o câncer, não tenho mais perspectivas de vida’. Eu não acho. A gente passa muita dificuldade, é uma nova vida que a gente tem que aproveitar”,

Fé em um novo começo

Juan
Legenda: Curado, sonho de Juan é se tornar surfista profissional
Foto: Arquivo Pessoal

Juan Yure Carneiro, de 12 anos, teve o seu primeiro grande confronto com as adversidades da vida já na infância. Aos seis, ele foi diagnosticado com osteossarcoma, um câncer ósseo, e aos oito anos, já tinha vencido a batalha contra a doença. Durante este curto período de tempo, mas que representa grande parte da vida do garoto, muita coisa aconteceu até que a cura fosse alcançada.

Em outubro de 2014, ele recebeu o diagnóstico de câncer e o tratamento já veio em seguida, a partir de novembro. A mãe, Jenniffer Maria Gomes Carneiro, foi quem esteve presente durante todo o processo. “Fizemos a bateria de exames e foi constatado logo. Entre o intervalo dos dois anos de quimioterapia, em 2015, teve a amputação da perna, depois de um ano de quimio”, revela.

Juan Surfando
Legenda: "Fé em novos começos", reflete a mãe do menino
Foto: Arquivo pessoal

Ela conta que o grande desejo da família, a cura de Juan, foi constatado em 2016. Para Jennifer, sua fé foi o que a manteve esperançosa e acreditando em um novo começo para o filho. “É a melhor realização ver ele curado. É um milagre de Deus! No processo da doença, o que a gente mais almejava era a cura dele, antes de qualquer coisa, então a mensagem é fé em Deus sempre que ainda há esperança naqueles que confiam em Deus”, afirma.

Quase sete anos após o diagnóstico, Juan faz acompanhamento médico a cada seis meses na Associação Peter Pan. Já curado, o novo desafio que o move é o sonho de se tornar um surfista profissional. Aos que enfrentam o câncer, ele aconselha: “eu iria pedir para que ela nunca desista porque Deus é o dono de todas as coisas e ele é o nosso Deus altíssimo. Ela nunca deve desistir”.

Outra infância, nova vida

Anderson criança
Legenda: Anderson com o pai, no início do tratamento. Família mudou de São Paulo para Fortaleza para receber diagnóstico correto
Foto: Arquivo pessoal

Apesar de lembrar pouco das sessões de quimioterapia, o universitário Anderson Brito, 21, guarda na memória a primeira sensação de alívio: após quase meia década em tratamento para leucemia, o rapaz, à época com seis anos, poderia brincar de um jeito mais livre após o encerramento da medicação. “Tinha por volta de dois anos de idade quando fui diagnosticado. Eu lembro deles tirando meu cateter. Não caiu a ficha que não teria mais nenhum medicamento entrando por lá. Eu via as crianças brincando e queria sair correndo com elas, mas não podia. Tanto pelo cateter, quanto pelo tratamento. Depois que eu tirei, comecei a brincar, comer o que quisesse. Era tudo muito novo, uma nova infância”, conta. 

Paulista de nascimento, o jovem veio para capital cearense em 2002, quando a família percebeu “carocinhos” debaixo das axilas do menino. “Tinha um ano e meio, mais ou menos. Os médicos de São Paulo não sabiam o que era e nós viemos para Fortaleza em busca de tratamento”. Com a chegada ao Ceará, o diagnóstico correto e o início da medicação na Associação Peter Pan. A passagem pela cidade, no início, foi dura. Distante do estado de origem, o acompanhamento foi solitário. “Foi muito difícil. Tinha a minha tia, minha mãe e meu pai, mas estávamos longe da família”, relembra. 

Dez anos depois da retirada do cateter, a alta definitiva foi recebida por ele e pela mãe, a comerciante Leia Aparecida, em 2016. “Temos que passar por esses dez anos de acompanhamento. Foi muito aliviante escutar do meu médico, que me acompanha desde pequenininho, que eu tive alta, que nada mais vai acontecer. Minha mãe deu uma ‘choradinha’”, brinca o estudante. O agradecimento pelos cuidados durante a terapia, inclusive, veio em forma de objetivos profissionais. Atualmente, Anderson está no segundo ano do Curso de Medicina e confessa uma atração pela oncologia, área médica voltada para o acompanhamento de pessoas com câncer. 

“A gente vê muita coisa durante a faculdade, só no final mesmo do internato que a gente vai ter aquela certeza. Mas oncologia é uma das que eu mais quero. Quando eu fui ficando um pouquinho mais velho, mesmo criança, eu via os médicos como um porto seguro para mim. Por eu ter passado por esse momento onde eu só podia confiar neles, fui levado para essa decisão. Para pagar a esperança e a confiança da mesma forma que eu recebi quando eu mais precisei”, relata.

Avanços no combate à doença

De acordo com o radioncologista Fernando Bastos, atuante no Instituto do Câncer do Ceará (ICC), os tumores mais recorrentes em pacientes no Brasil são os de pulmão, próstata, mama, colo de útero e o de estômago. No entanto, nos últimos anos, houve uma importante evolução no diagnóstico, conscientização e novas modalidades de exames relacionados ao câncer.

“Nas formas terapêuticas, nós tivemos um avanço em todas as áreas. De uma forma geral, o que temos de tratamento é a cirurgia, a radioterapia e a oncologia clínica, que lida tanto com quimioterápicos, imunoterápicos quanto com bloqueadores hormonais. A evolução que você tem no processo da tecnologia é essa: a gente vem das cirurgias abertas para a laparoscópica e hoje trabalhamos com a robótica. Um exemplo muito clássico são as cirurgias robóticas para o tumor de próstata”, diz Bastos.

Na oncologia, segundo o médico, as drogas novas abrem uma possibilidade de cura maior, como utilização da imunoterapia. “Além dos quimioterápicos, temos uma modalidade bastante importante que muda muito o prognóstico e a curabilidade das doenças: a imunoterapia. Dentro da imuno, temos drogas alvo-direcionadas, aquelas direcionadas ao câncer em si e, dessa maneira, temos uma resposta ao tratamento de uma forma percentualmente melhor”.

“Em termos de cura, não conseguimos dizer que curamos [com a radioterapia] mais hoje do que no passado , exceto em casos específicos em que o paciente, antes impossibilitado de ser tratado, agora, com a tecnologia, é possível. Na cirurgia, a tecnologia possibilitou manter uma melhor progressão do paciente; consegue diminuir as taxas de incontinência urinária e as sequelas do sistema nervoso central para os tumores cerebrais quando passa a utilizar a cirurgia que a ata a ressonância, por exemplo”, detalha o especialista.

Evolução tecnológica contra o câncer

A grande vantagem da evolução tecnológica na utilização contra o câncer, além da cura, é a redução de efeitos colaterais, segundo Bastos. “É que você consegue tratar o paciente de forma mais segura e, acima de tudo, é a redução dos efeitos colaterais agudos e tardios. De uma forma geral, é possível curar, hoje, com uma qualidade de vida melhor, que é o que a gente busca, já que às vezes o paciente é curado, mas ainda restam sequelas daquele tratamento”, acentua.  

Além dos tratamentos com a tecnologia, outro ponto importante é a interação interdisciplinar da equipe clínica. “O tratamento do paciente oncológico é interdisciplinar. A gente não busca uma cura somente com o tratamento médico, é necessário ter todo o apoio por trás com reabilitação, fisioterapia, enfermagem, fono e psicologia. Ao meu ver, a cura não é só do corpo, mas é a reabilitação daquela pessoa para que ela possa voltar para aquela convivência, ao seio familiar e da sociedade”, pontua Bastos.

Dia Mundial do Combate ao Câncer

No Dia Mundial do Combate ao Câncer, o especialista reforça que é necessário pensar nas formas de prevenção primária do câncer.  “São coisas básicas que muitas vezes não acontecem, como o preventivo ginecológico; cuidados da cavidade oral, feitos pelo próprio dentista; alimentação e os exames físicos de mamografia e de PSA associado ao toque retal, por exemplo”.

Outra possibilidade é o mapeamento genético da família. “É feito no intuito de saber se determinada pessoa tem predisposição ao câncer”, coloca.

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