Conheça a terapia de remissão do câncer que será usada em unidade pública do CE
A terapia celular, conhecida como CAR-T Cell, deverá começar de maneira experimental já em 2023
O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) se prepara para implementar uma terapia celular inovadora para a remissão do câncer de sangue. Na América Latina, apenas São Paulo e agora Fortaleza possuem o tratamento gratuito disponível.
A expectativa é de que a etapa experimental, a ser ofertada na rede pública de saúde cearense, já inicie em 2023. A tecnologia, chamada de “CAR-T Cell”, obteve resultados promissores em pacientes em estágio terminal mundo afora.
Recentemente, o método ficou conhecido após o caso da menina Letícia Maria Neves, de 12 anos.
A adolescente morreu em decorrência de um câncer raro, em outubro deste ano, enquanto a família tentava arrecadar recursos para custear esse tratamento nos Estados Unidos.
Implementação no Ceará
Segundo o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce, Fernando Barroso, há expectativa para o início da terapia já no primeiro semestre de 2023.
Contudo, ainda não é possível confirmar o prazo. “Estamos na fase de implantação. Passamos por série de adequações, treinamentos da equipe e agora estamos no auge do processo”, disse.
Ao todo, 40 profissionais estão envolvidos na elaboração do projeto, iniciado em 2017. Também participa da pesquisa a diretora do Hemoce, Dra. Luciana Carlos.
Em 2019, o estudo clínico foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Com a chegada do equipamento (Clinimacs Prodigy) necessário para a execução da técnica, neste ano, o andamento deve acelerar.
O aparelho foi adquirido pelo Hemoce e será utilizado em parceria com o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), da UFC.
Após a finalização da etapa de implementação, será enviado o pedido de autorização da prática à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“É algo revolucionário. O Estado precisa compreender a importância e valorizar para conseguirmos ter isso funcionando para beneficiar a sociedade”, observa.
Atualmente, no Brasil, já é comercializado o medicamento “CAR-T Cell industrial”, com custo de U$ 400 mil, sem incluir gastos com internação e outros. Já a técnica acadêmica, a ser implantada no Ceará, terá o valor total de cerca de R$ 200 mil por paciente.
Como funciona o tratamento com CAR-T Cell?
O nome “CAR-T cells” é oriundo da sigla em inglês para “Receptor de antígeno quimérico de células T”.
Conforme o Dr. Fernando Barroso, na prática, a tecnologia altera as células que atuam na defesa do organismo para elas destruírem o câncer.
“Os linfócitos do paciente são retirados e passam pela inserção de um vetor viral que o modifica, com um alvo específico na célula tumoral. Depois, são devolvidos para o paciente para matar a célula tumoral”, explica.
“O CAR-T cells desenvolve o receptor na célula doente que vai acoplar a modificada para conseguir destruí-la, como se fosse uma chave e uma fechadura”, exemplifica.
Resumidamente, as células alteradas são reinseridas por meio da transfusão de sangue para atacar diretamente as cancerígenas.
O procedimento dura cerca de 30 dias, incluindo a coleta, a devolução e a incorporação das células, além do acompanhamento de possíveis complicações infecciosas, inflamatórias e neurológicas.
Após alta hospitalar, a pessoa e deve ser acompanhado pelos próximos 15 anos.
Quem poderá fazer o tratamento no Ceará?
Crianças e adultos com leucemia linfoide aguda, linfomas e mielomas poderão receber o tratamento. Inicialmente, serão estabelecidos os critérios de elegibilidade do estudo clínico, que ainda não foram divulgados.
No primeiro momento, cinco pacientes participarão do experimento. Segundo o Dr. Fernando Barroso, após a implantação, o potencial inicial será de dois a três atendimentos por mês.
Eficácia do tratamento
Segundo o coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce, Fernando Barroso, nos Estados Unidos, já houve mais de 7 mil casos com “excelente resultado".
Nesta semana, repercutiu caso de uma menina de 13 anos que conseguiu a remissão de um câncer de sangue incurável graças ao “CAR-T Cell”, no Reino Unido.
A adolescente já estava em cuidados paliativos quando tentou a terapia celular, no Great Ormond Street Hospital for Children (Gosh) de Londres.