Conheça a terapia de remissão do câncer que será usada em unidade pública do CE

A terapia celular, conhecida como CAR-T Cell, deverá começar de maneira experimental já em 2023

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Fachada do Hemoce
Legenda: Tratamento inovdor estará disponível, a partir de 2023, no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce)
Foto: Fabiane de Paula / SVM

O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) se prepara para implementar uma terapia celular inovadora para a remissão do câncer de sangue. Na América Latina, apenas São Paulo e agora Fortaleza possuem o tratamento gratuito disponível. 

A expectativa é de que a etapa experimental, a ser ofertada na rede pública de saúde cearense, já inicie em 2023. A tecnologia, chamada de “CAR-T Cell”, obteve resultados promissores em pacientes em estágio terminal mundo afora.  

Recentemente, o método ficou conhecido após o caso da menina Letícia Maria Neves, de 12 anos. 

Foto da menina Letícia Neves, que tinha 12 anos e morreu de câncer
Legenda: Letícia estava em tratamento contra o linfoma há 10 meses
Foto: Reprodução

A adolescente morreu em decorrência de um câncer raro, em outubro deste ano, enquanto a família tentava arrecadar recursos para custear esse tratamento nos Estados Unidos.  

Implementação no Ceará 

Foto profissional médico
Legenda: Fernando Barroso, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce, atua no projeto desde 2017
Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce, Fernando Barroso, há expectativa para o início da terapia já no primeiro semestre de 2023.

Contudo, ainda não é possível confirmar o prazo. “Estamos na fase de implantação. Passamos por série de adequações, treinamentos da equipe e agora estamos no auge do processo”, disse.

Ao todo, 40 profissionais estão envolvidos na elaboração do projeto, iniciado em 2017. Também participa da pesquisa a diretora do Hemoce, Dra. Luciana Carlos.

Em 2019, o estudo clínico foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Com a chegada do equipamento (Clinimacs Prodigy) necessário para a execução da técnica, neste ano, o andamento deve acelerar.

O aparelho foi adquirido pelo Hemoce e será utilizado em parceria com o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), da UFC.

Após a finalização da etapa de implementação, será enviado o pedido de autorização da prática à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

“É algo revolucionário. O Estado precisa compreender a importância e valorizar para conseguirmos ter isso funcionando para beneficiar a sociedade”, observa. 
Fernando Barroso
professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Celular e Transplante de Medula Óssea (SBTMO) e coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce,

Atualmente, no Brasil, já é comercializado o medicamento “CAR-T Cell industrial”, com custo de U$ 400 mil, sem incluir gastos com internação e outros. Já a técnica acadêmica, a ser implantada no Ceará, terá o valor total de cerca de R$ 200 mil por paciente.  

Como funciona o tratamento com CAR-T Cell? 

O nome “CAR-T cells” é oriundo da sigla em inglês para “Receptor de antígeno quimérico de células T”.

Conforme o Dr. Fernando Barroso, na prática, a tecnologia altera as células que atuam na defesa do organismo para elas destruírem o câncer. 

“Os linfócitos do paciente são retirados e passam pela inserção de um vetor viral que o modifica, com um alvo específico na célula tumoral. Depois, são devolvidos para o paciente para matar a célula tumoral”, explica.

“O CAR-T cells desenvolve o receptor na célula doente que vai acoplar a modificada para conseguir destruí-la, como se fosse uma chave e uma fechadura”, exemplifica. 

Resumidamente, as células alteradas são reinseridas por meio da transfusão de sangue para atacar diretamente as cancerígenas. 

O procedimento dura cerca de 30 dias, incluindo a coleta, a devolução e a incorporação das células, além do acompanhamento de possíveis complicações infecciosas, inflamatórias e neurológicas.

Após alta hospitalar, a pessoa e deve ser acompanhado pelos próximos 15 anos. 

Quem poderá fazer o tratamento no Ceará?

Crianças e adultos com leucemia linfoide aguda, linfomas e mielomas poderão receber o tratamento. Inicialmente, serão estabelecidos os critérios de elegibilidade do estudo clínico, que ainda não foram divulgados. 

No primeiro momento, cinco pacientes participarão do experimento. Segundo o Dr. Fernando Barroso, após a implantação, o potencial inicial será de dois a três atendimentos por mês. 

Eficácia do tratamento

Segundo o coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce, Fernando Barroso, nos Estados Unidos, já houve mais de 7 mil casos com “excelente resultado". 

Nesta semana, repercutiu caso de uma menina de 13 anos que conseguiu a remissão de um câncer de sangue incurável graças ao “CAR-T Cell”, no Reino Unido.

A adolescente já estava em cuidados paliativos quando tentou a terapia celular, no Great Ormond Street Hospital for Children (Gosh) de Londres.

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