SP vai vacinar jovens de 12 a 17 anos e antecipar seu plano de imunização
Com o novo plano, a partir da quarta (15) serão imunizadas pessoas de 35 e 36 anos, num escalonamento até 13 a 20 de agosto, quando as vacinas serão ofertadas a quem tem de 18 a 24 anos
O governo estadual de São Paulo decidiu antecipar a data final do cronograma de imunização de adultos contra a Covid-19 em 2021 de 15 de setembro para 20 de agosto, e vai iniciar a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos no dia 23 de agosto.
Com o novo plano, que será divulgado neste domingo (11), já a partir da quarta (15) serão imunizadas pessoas de 35 e 36 anos, num escalonamento até 13 a 20 de agosto, quando as vacinas serão ofertadas a quem tem de 18 a 24 anos.
Três dias depois, é a vez dos adolescentes, grupo estimado em 3,2 milhões de pessoas.
A vacinação deles está prevista para se estender até 30 de setembro, e obedecerá a uma divisão por grupos.
Primeiro, de 23 de agosto a 5 de setembro, serão atendidos jovens de 12 a 17 anos com comorbidades para Covid-19 previstas nos regulamentos do Ministério da Saúde e deficiências permanentes.
Depois, de 6 a 19 de setembro, quem tem de 15 a 17 anos.
Por fim, de 20 a 30 daquele mês, será a vez dos adolescentes de 12 a 14 anos. Todos receberão a vacina da Pfizer/BioNTech, a única autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para essas faixas etárias, a partir de estudos de outros países
São Paulo será o primeiro estado a fazer isso de forma ampla, dando trunfo político para o governador João Doria (PSDB), que quer disputar a Presidência da República em 2022.
Outras Unidades da Federação, como Mato Grosso do Sul, autorizaram a vacinação a critério dos municípios. Houve até contestação judicial em Minas.
O cronograma, claro, é feito com a perspectiva de uma remessa contínua do fármaco da Pfizer, que é o terceiro mais usado no Brasil até agora, com 9,2% das aplicações –depois da vacina da AstraZeneca/Universidade de Oxford (46,5%) e da Coronavac (42%).
Na previsão de entregas para o PNI (Plano Nacional de Imunização), deveria haver 15 milhões de doses da Pfizer chegando ao país em julho. Mas a previsão no sistema do Conselho Nacional das Secretarias Estaduais de Saúde é de um fluxo menor, de 9,6 milhões de doses.
Ainda assim, até agora não houve problemas relacionados à entrega da vacina.
Ela é menos disponível do que as duas com produção nacional a partir do insumo importado, a AstraZeneca (Fiocruz) e a Coronavac (Butantan). O país ainda emprega a do fármaco da Janssen (2,2% das inoculações).
A medida paulista foi definida em reunião de integrantes do PEI (Plano Estadual de Imunização) na quinta-feira (8), numa decisão que remete ao anúncio feito na véspera pelo governador Doria.
O tucano divulgou que São Paulo, amparado em decisão do Supremo Tribunal Federal, começou a receber doses prontas da Coronavac chinesa para aplicação sem passar pelo esquema de distribuição do Ministério da Saúde.
Os primeiros 2,7 milhões de doses chegaram na própria quarta. Essas vacinas estariam prontas para desembaraço na segunda, mas 1 dos 5 lotes veio sem um documento da fabricante Sinovac, segundo dados da Anvisa, então pode haver algum atraso.
Mais 1,3 milhão de doses chegará até o fim do mês. Com esses 4 milhões de vacinas prontas, os técnicos afirmam que é possível reforçar o fluxo de entregas e garantir o cronograma ambicioso de Doria –que já adiantara a imunização da população em geral outras duas vezes.
Nas últimas semanas, houve desabastecimento em algumas cidades como a capital.
Isso levou ao temor, entre integrantes do Centro de Contingenciamento da Covid-19, de que o plano estivesse avançando demais. O órgão foi criado em fevereiro do ano passado e reúne duas dezenas de especialistas em saúde para assessorar decisões do governo paulista.
Agora, calcula a área técnica, será possível prosseguir.
Se de fato der certo, o governo paulista irá pressionar o federal para que a segunda dose no estado seja adiantada, particularmente das vacinas com maior intervalo, a AstraZeneca e a Pfizer, que no Brasil são aplicadas com 12 semanas de diferença.
A preocupação já foi expressa pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, que teme uma sensação de falsa cobertura vacinal, ainda mais com o risco de emergência da mais infecciosa variante delta no estado.
Originária da Índia, a delta já foi identificada em São Paulo, onde a prevalência é a da cepa gama, que surgiu na virada do ano em Manaus.
Até a quinta (8), foram imunizados com até uma dose 60,2% dos paulistas, mas só 19,6% receberam a segunda injeção com o imunizante.
Essas 4 milhões de doses são parte da encomenda feita por Doria diretamente à Sinovac, que chega a 30 milhões de unidades até o fim do ano.
Estão empenhados para este lote inicial R$ 250 milhões.
O dinheiro virá do Tesouro estadual. Cada dose sai ao mesmo preço do contrato da Sinovac/Butantan com o governo federal, cerca de US$ 11.
Mas há um pulo do gato nos planos para lidar com a continuidade da vacinação.
Além dessas 30 milhões de vacinas, que podem garantir o começo da campanha de imunização que deverá ser necessária a partir do ano que vem, há outras 30 milhões de doses em negociação pelo Butantan diretamente com os chineses.
Essas doses seriam encomendadas para estados e países da América Latina interessados na Coronavac.
Diversos governadores já haviam procurado o Butantan e agora foram à China buscar as vacinas, mas receberam a informação de que deveriam passar pelo órgão do governo paulista diretamente.
No continente, o instituto paulista tem uma espécie de exclusividade nos negócios da Sinovac, com exceção do fornecimento ao Chile, que foi negociado ao mesmo tempo que o contrato paulista.
O Ceará deve ser um deles, segundo dizem integrantes do Consórcio Nordeste.
Na prática, o instituto pode virar um polo alternativo ao Ministério da Saúde para a distribuição da Coronavac e, se os estudos clínicos que começaram na sexta (9) forem positivos, da futura vacina Butanvac –que não utiliza insumos importados e cuja tecnologia permite produção em larga escala em São Paulo.
O instituto ainda vai inaugurar uma fábrica de Coronavac com insumo nacional, o que deverá aumentar sua independência. Com isso, espera o instituto, os atrasos por falta de matéria-prima chinesa poderão ficar para trás.
Haverá críticas sobre a descentralização, mas os estados têm pressa. Politicamente, é bom para Doria, que desde 2020 vive um embate encarniçado com Jair Bolsonaro.
Governador e presidente divergem acerca do manejo do combate à pandemia, que matou 530 mil brasileiros, 130 mil deles em São Paulo.
Entre os entusiastas de sua postulação presidencial, o fato de Doria ter promovido a Coronavac e, agora a Butanvac, é visto como um ativo.
Até aqui, ele marca 5% na pesquisa mais recente do Datafolha, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT, com 46%) e Bolsonaro (25%), e empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT, 8%).
A área política do governo paulista alertou para o risco de Doria ser acusado de agir pensando só em São Paulo, mas a resposta veio da China.
Apesar de estar devendo doses da Coronavac ao PNI referentes a maio e junho, o problema foi resolvido com a chegada de 1 milhão de doses prontas e com a confirmação de duas partidas de 12 mil litros de insumo cada.
Uma deve chegar nesta semana e a outra, no fim do julho, garantindo 40 milhões de doses. Com isso, Doria pôde anunciar a antecipação em um mês, para 31 de agosto, da conclusão do fornecimento de 100 milhões de doses da Coronavac para o governo federal.
Nesta sexta, a Anvisa deu o aval à importação dos 4 milhões de doses, o que foi lido no PEI como uma sinalização de que não deverá haver conflitos por causa da estratégia adotada por São Paulo.