'Missão cumprida': Filha se forma em Direito e consegue absolvição da mãe, acusada de homicídio
Caso aconteceu em 2012, na Bahia; acusação foi um dos motivos que levou filha a optar por carreira no Direito
Se sua mãe fosse acusada injustamente por um crime que não cometeu, o que você faria? Camila Pita decidiu ingressar na Faculdade de Direito para dar um novo rumo à história. Hoje, 12 anos depois, colhe os frutos da dedicação e da busca por justiça.
Tudo começou em 2012, quando a baiana Rosália Pita foi acusada de matar o namorado. A acusação do Ministério Público sobre ela era de homicídio qualificado, supostamente motivado pelo término do relacionamento amoroso com a vítima.
Rosália não chegou a ser presa, e a ausência de pólvora no corpo dela foi uma das evidências que pesaram a favor da tese da defesa. Era sinal de que a mulher não teria sido a autora do disparo. As informações são do jornal O Globo.
A absolvição pelo Tribunal do Júri ocorreu no fim de setembro, no município de Valença (BA). Na defesa, estava Camila Pita, filha de Rosália, formada em Direito há três anos e que passou a se interessar pela profissão após a mãe se ver envolvida como suspeita.
Os jurados acataram a tese apresentada pelos advogados. Eles apontaram se tratar de um caso de suicídio, não de um homicídio, como levantado pelo Ministério Público.
Enfrentar a dor de frente
Camila tinha 14 anos de idade quando a morte do namorado da mãe abalou a família e deu início ao processo criminal. "O processo demorou tempo suficiente para eu sair da escola, entrar na faculdade e me formar. Foi o meu oitavo júri", conta.
Segundo ela, a balística mostrou que o tiro efetuado na noite do suposto crime foi de cima para baixo, sendo que Rosália era muito mais baixa que o ex-namorado. O resultado do júri foi comemorado pelos moradores de Valença.
"A cidade não para de falar no assunto. O plenário ficou lotado até 1h da manhã, com pessoas acompanhando de pé. Foi muito bonito, emocionante, com palmas e aplausos".
Doze anos depois do início do caso, Camila se uniu aos advogados que já defendiam Rosália: Fabiano Pimentel, Luiz Augusto Coutinho, Everardo Lima Ramos Júnior, Catharina Fernandez, Thamires Santos e Bernardo Lins.
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A jovem descreve os primeiros anos após a morte do namorado da mãe como "tempos de medo e solidão". "Minha mãe ficou um tempo sofrendo com depressão, sem sair de casa. Na época, o caso repercutiu muito na cidade", dimensiona.
"Ela não chegou a ser hostilizada, mas algumas pessoas faziam comentários. Quando tudo aconteceu eu tinha 14 anos e não entendia bem as coisas. Me despertou curiosidade de entender".
Abraço de alívio
Camila celebrou o resultado do júri com uma publicação no Instagram na qual aparece abraçada à mãe. "Não poderia deixar essa foto de fora do meu feed. Nesse abraço moram tantas emoções, tantas pessoas, tanta dedicação, tanto amor (...) Para uma grande injustiça, uma grande defesa. Minha principal missão foi cumprida. Que venham as outras", escreveu.
Evidências reunidas pelo Ministério Público serviram de base para o caso ser levado ao Tribunal do Júri pela Justiça da Bahia. Os laudos periciais foram contestados pelos advogados da acusada na etapa final do processo.
Para eles, exames que indicaram a ausência de pólvora nas mãos do morto não seriam conclusivos. Uma gravação de um homem baleado no peito foi usada para rebater o argumento do MP de que não seria possível a vítima se manter de pé por 25 segundos após o disparo.