Intoxicação por metanol: sinais, causas e como evitar o risco
O Brasil enfrenta uma "roleta-russa" de casos de intoxicação pelo álcool, que é semelhante ao etanol, mas altamente tóxico para o corpo humano
Ele não tem cor, não tem cheiro e não tem gosto que o diferencie do álcool comumente utilizado na fabricação de bebidas. Por isso, identificar a presença do metanol em um drink é tarefa quase impossível, mesmo para quem tem expertise no assunto. E é esse obstáculo que torna árduo o esforço nacional de prevenção do envenenamento pela substância.
Desde o anúncio da primeira morte pela ingestão de bebida adulterada com metanol, o Brasil enfrenta uma "roleta-russa": afinal, todas as bebidas podem causar morte ou cegueira? Não pode mais consumir bebida alcoólica no País? Até quando vai durar a recomendação de suspender o consumo? Mesmo os produtos lacrados estão sujeitos à manipulação?
Em coletiva de imprensa, nesta semana, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou fortemente à população evitar tomar bebidas alcoólicas destiladas, sobretudo as incolores, mas "liberou" a ingestão de cerveja, por exemplo, por ela ser mais difícil de adulterar ou "batizar" — devido ao gás, à tampa descartável e outras características.
Até o fechamento desta matéria, na tarde desta quinta-feira (2), o País somava 48 casos suspeitos de intoxicação por metanol e 11 ocorrências confirmadas. Destas, há uma morte relacionada à ingestão do álcool e outras sete em investigação.
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O que é e para que serve o metanol?
Segundo o médico intensivista Felipe Christo Moura, coordenador das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Meridional Cariacica, do Grupo Kora Saúde, o metanol é um álcool amplamente utilizado na indústria como solvente industrial e combustível e serve, também, de matéria-prima para diversos produtos, como plásticos e tintas.
Mas, diferentemente do etanol — utilizado na fabricação das bebidas alcoólicas que conhecemos —, é extremamente tóxico para humanos, mesmo em quantidades pequenas.
Qual a diferença entre álcool e metanol?
O metanol é um tipo de álcool. A diferença dele para o álcool mais comum, o etanol, é a forma como ele é metabolizado pelo organismo. Enquanto o álcool "normal" é rapidamente transformado em acetato no corpo, o metanol se converte em formaldeído — ou formol — e, depois, em ácido fórmico.
Como identificar se a bebida tem metanol?
Não há como. O metanol não tem cheiro, cor ou gosto que o diferencie do etanol, o que facilita o envenenamento pela substância se ela estiver misturada a uma bebida comum, como, por exemplo, caipirinhas e drinks com gin.
O metanol não tem função recreativa. Por natureza e características químicas, ele é incolor, inodoro e insípido, e não é detectável por leigos. Muitas vezes nem por profissionais da área."
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Quais são as bebidas contaminadas por metanol?
Os primeiros casos de adulteração de bebidas no Brasil envolveram o consumo de gin, uísque e vodca, comprados tanto em bares quanto adegas de São Paulo.
É possível ter metanol no vinho?
Sim, é possível, mas, quando o produto é fabricado por empresas regularizadas, e em processos seguros, o risco de contaminação é baixo.
Tem metanol na cerveja?
Também é possível ter, mas, segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a cerveja possui características específicas que dificultam a adulteração.
Quais são os sintomas da intoxicação por metanol?
Felipe Moura explica que a intoxicação por metanol varia conforme a concentração ingerida.
"Os sintomas variam pela dose, mas podem se iniciar em um período de 12 horas a 24h após a ingestão. E tem sintomas inespecíficos: cefaleia, náuseas, vômitos, dor abdominal, podendo evoluir de gravidade com visão turva, fotofobia, escotomas, até comprometimentos mais graves do sistema nervoso, como convulsões, confusão e coma", explicou o profissional.
Quantos casos de morte por metanol?
O Brasil tem, até o momento, 11 casos confirmados de intoxicação por metanol. Destes, há a confirmação de uma morte relacionada, registrada em São Paulo. No entanto, o País ainda investiga outras mortes suspeitas, tanto em São Paulo como, também, em Pernambuco e na Bahia.
Como identificar se a bebida tem metanol?
Não é possível identificar, uma vez que o metanol não tem cheiro, cor ou gosto que o diferencie do álcool comumente utilizado na fabricação das bebidas.
Quanto tempo dura a intoxicação?
Esse tempo — bem como a intensidade dos sintomas — varia conforme a quantidade ingerida da substância. O que se sabe é que os primeiros sintomas podem surgir nas primeiras 12 horas após a ingestão.
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Saiba como o consumidor pode se proteger
A principal recomendação do Ministério da Saúde, no momento, é evitar o consumo de bebidas alcoólicas.
No entanto, se ainda assim quiser tomar, o consumidor pode adotar uma série de práticas, como comprar de fornecedores confiáveis, quebrar garrafas vazias (para impedir que sejam reaproveitadas), desconfiar de preços muito baixos e exigir nota fiscal.
Como posso me desintoxicar do metanol?
A desintoxicação do metanol varia conforme os antídotos utilizados pelos médicos. De acordo com o intensivista Felipe Moura, existem antídotos específicos e tratamentos gerais, como medicações, só que o estado do paciente pode se agravar a ponto de precisar ir para uma UTI, inclusive, sendo necessário recorrer à hemodiálise, ventilação mecânica e sedação.
"Esse paciente pode evoluir para um quadro mais grave, como um choque, um colapso cardiovascular, e precisar de drogas mais importantes, como noradrenalina. Tudo isso vai depender de características pessoais e da quantidade da intoxicação", explicou o médico.
O ministro da Saúde, Padilha, afirmou que o Brasil comprará 150 mil ampolas de etanol farmacêutico — utilizado como antídoto contra intoxicação por metanol — e tentará adquirir fomepizol com produtores e agências internacionais.
"Determinamos a compra emergencial de 150 mil ampolas de etanol farmacêutico para reforçar estados e municípios no tratamento de vítimas. A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] também acionou produtores e agências internacionais para adquirir Fomepizol, outro antídoto usado em casos de intoxicação", garantiu o gestor.