Saiba por que lideranças 'rasgaram a camisa' da facção Comando Vermelho e criaram a Massa no Ceará

Seis acusados de integrar a facção criminosa cearense, dissidência do grupo carioca, foram condenados pela Justiça Estadual a uma soma de mais de 52 anos de prisão

Escrito por Messias Borges , messias.borges@svm.com.br
Integrantes da facção carioca Comando Vermelho e da dissidência, Massa Carcerária, foram alvos da Operação Annulare, em novembro de 2021
Legenda: Integrantes da facção carioca Comando Vermelho e da dissidência, Massa Carcerária, foram alvos da Operação Annulare, em novembro de 2021
Foto: Divulgação/ Polícia Civil do Ceará

Seis acusados de integrar a facção criminosa cearense Massa Carcerária foram condenados pela Justiça Estadual a uma soma de mais de 52 anos de prisão. A sentença judicial detalha por que diversas lideranças da Massa abandonaram a facção carioca Comando Vermelho (CV) para criar o novo grupo criminoso no Ceará.

A decisão foi proferida pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, no último dia 5 de junho. Conforme o documento, que o Diário do Nordeste teve acesso, a dissidência no Comando Vermelho ocorreu após a prisão de Max Miliano Machado da Silva, conhecido como 'Lampião', 'Pio' ou 'Gordão' e apontado como o número 1 do CV no Ceará, em fevereiro de 2021.

Com o enfraquecimento de Max Miliano na chefia do Comando Vermelho do Ceará, após sua prisão em fevereiro de 2021, várias lideranças locais da facção começaram a 'entregar suas camisas', ou seja, decidiram sair da mencionada ORCRIM (organização criminosa, assumindo o controle de suas respectivas áreas, se autointitulando 'Massa Carcerária', 'Massa Criminosa' ou 'Neutro' - MC7."
Vara de Delitos de Organizações Criminosas
Em decisão

Segundo a decisão judicial, o movimento começou em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), quando criminosos ligados a um braço do CV, denominado de Comando da Laje (CDL), deixaram a facção carioca para seguir seus líderes, Antônio Gerlando Sampaio Viana, o 'Toin das Armas'; Francisco Cilas de Moura Araújo, o 'Mago' (preso no Estado do Piauí, em julho de 2020); e Alban Darlan Batista Guerra (morto em confronto com a Polícia, no Rio de Janeiro, também em julho de 2020).

A divisão da facção carioca se proliferou por Fortaleza e pelo Interior do Ceará, nos meses seguintes. Comando Vermelho e Massa Carcerária entraram em guerra, na disputa por território para o tráfico de drogas, o que impulsionou o número de homicídios.

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Integrantes da Massa condenados à prisão

Um dos grupos que "rasgou a camisa" do Comando Vermelho para aderir à facção cearense Massa Carcerária atuava no bairro Pirambu, em Fortaleza, e foi alvo da Operação Annulare, da Polícia Civil do Ceará (PCCE), em novembro de 2021.

Com a extração dos dados do aparelho celular de Francisco Jovanio Marques de Sousa, o 'Vanin', a Polícia Civil descobriu que ele liderava o grupo dissidente do Comando Vermelho no Pirambu e mantinha conversas sobre os planos da Massa com Antônio Gilberto Araujo Silva, Bruno Henrique Martins de Queiroz, Carlos Augusto Alves Barros, Francisco Michael dos Santos Sousa, Luan Martins de Queiroz e Marthon Antonio Magalhães.

Os seis homens foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) em um processo e acabaram condenados pelo crime de integrar organização criminosa, pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas, no último dia 5 de junho. Marthon Magalhães ainda foi condenado por associação para o tráfico. Três réus ainda não foram encontrados e são considerados foragidos para a Justiça.

Confira as penas dos réus:

  • Antonio Gilberto Araujo Silva - 8 anos e 3 meses de reclusão, em regime inicial fechado (porém, está foragido);
  • Bruno Henrique Martins de Queiroz - 8 anos e 3 meses de reclusão, em regime inicial fechado (porém, está foragido);
  • Carlos Augusto Alves Barros - 6 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, com direito de recorrer em liberdade;
  • Francisco Michael dos Santos Sousa - 8 anos e 3 meses de reclusão, em regime inicial fechado (porém, está foragido);
  • Luan Martins de Queiroz - 8 anos e 3 meses (já cumpriu 1 ano), em regime inicial semiaberto, com direito de recorrer em liberdade;
  • Marthon Antonio Magalhães - 12 anos e 7 meses de prisão, em regime inicial fechado.

Apesar dos acusados negarem integrar uma facção criminosa, o colegiado de juízes que atua na Vara de Delitos de Organizações Criminosas encontrou provas materiais e de autoria dos réus no cometimento dos crimes, a partir das conversas extraídas do aparelho celular. No caso de Marthon, os magistrados consideraram ainda que ficou provado que ele negociava drogas com 'Vanin'.

"Compulsando os autos, observa-se que a organização criminosa, que ora se analisa, faz uso de arma de fogo de forma a manter as atividades da traficância, dentre outras, conforme explicitados em diversos diálogos colhidos interceptados, nos quais integrantes do grupo tratam do estoque de armas e munições (inclusive com fotografias de armas do tipo fuzil), voltadas a enfrentar os rivais da facção Comando Vermelho na disputa pelo tráfico de drogas no bairro Pirambu", revela a decisão judicial.

A defesa de Antonio Gilberto Silva, Bruno Henrique Queiroz, Francisco Michael Sousa, Luan Queiroz e Marthon Magalhães já recorreu da condenação judicial. Os réus rebateram, durante o processo, que pertencem a uma facção criminosa e que cometeram outros crimes.

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