Prisões em condomínio de luxo e arsenal na cabeceira da cama: acusados de liderar GDE são absolvidos
Na época, moradores de um condomínio residencial erguido às margens da BR-020, em Pacatuba, denunciaram que o local estava sob domínio de uma organização criminosa
Acusados de liderar a facção criminosa Guardiões do Estado (GDE), que chegaram a ser presos em condomínio de luxo em Natal, Rio Grande do Norte, foram absolvidos pela Justiça do Ceará. Francisco Cleyton Epifânio de Sousa, o 'Netim da Tuf'; Jonathan Bertoldo de Melo, o 'Abençoado'; Anderson Vidal Silva e companheira dele, Lídia Deise de Freitas Paulino foram inocentados pelo crime de integrar organização criminosa.
Jonathan chegou a ser apontado pelas autoridades como um conselheiro final da facção. 'Netim da Tuf' e Anderson Vidal foram acusados de liderar a organização na região de Maracanaú, tendo Anderson função de 'Sintonia Final' "na hierarquia da organização, sendo responsável por decretos de morte, ameaça a policiais e expulsão de moradores que não coadunam com as ordens dele e de seus pares".
Na mesma decisão proferida pelos juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas publicada na última semana no Diário da Justiça, Anderson e Lídia foram condenados pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas e posse irregular de arma de fogo. As defesas não foram localizadas pela reportagem.
A pena de Vidal é de nove anos e 10 dias de prisão, em regime fechado, enquanto Lídia recebeu pena de 10 anos e 10 meses de prisão
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Sobre a absolvição, os magistrados consideraram que "os elementos constantes do processo não permitem a formação de uma cognição adequada quanto à autoria dos acusados Anderson Vidal da Silva, Francisco Cleyton Epifanio de Sousa e Jonathan Bertoldo de Melo, pois não ficou suficientemente demonstrado que os acusados integram a organização criminosa GDE. Como cediço, a prova, para ser considerada idônea, de modo a autorizar a condenação, não pode se fundar exclusivamente nos elementos informativos coletados na fase inquisitiva, devendo ser confirmada em Juízo"
"Sabe-se que a prova colhida durante o inquérito policial possui valor probante relativo, mas só pode gerar um decreto condenatório se amparada por outros elementos colhidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa"
MORADORES COAGIDOS A GUARDAREM ARMAS E DROGAS
O grupo passou a ser investigado em maio de 2023 quando a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) instaurou uma Verificação de Procedência da Informação (VPI) "que teve por finalidade verificar informações acerca das lideranças da organização criminosa denominada GUARDIÕES DO ESTADO – GDE, com atuação em Maracanaú/CE e adjacências".
Na época, moradores de um condomínio residencial erguido às margens da BR-020, em Pacatuba, denunciaram que o local estava sob domínio de uma organização criminosa.
"Segundo relatos, os moradores são coagidos a guardarem armas e drogas em suas residências e obrigados a avisar quando a Polícia está na área. Além disso, muitas pessoas foram expulsas de suas casas"
Os investigadores chegaram ao nome de Jonathan, já com extensa ficha criminal com passagens pelos crimes de porte/posse ilegal de arma de fogo de uso permitido, tráfico e associação para o tráfico, corrupção de menores e homicídio qualificado.
Francisco Cleyton e Anderson foram apontados como parceiros dele dentro da GDE.
ARSENAL NA CABECEIRA DA CAMA
Todos os suspeitos foram presos em 2023, começando por Jonathan. Quatro meses depois, 'Netim da Tuf' também foi capturado em um condomínio de luxo no RN.
No momento do flagrante, Cleyton estava em posse de uma pistola 9 milímetros, três carregadores e munições, além de documentos falsos, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
No dia 2 de agosto de 2023 foi a vez de Vidal e Lídia serem capturados. Policiais foram até a casa do casal no bairro Planalto Ayrton Senna e apreenderam no local considerável quantidade de cocaína, uma pistola calibre.380, municiada, com dois carregadores, 42 (quarenta e duas) munições do mesmo calibre, caderno com anotações contábeis do tráfico de drogas, balança de precisão e quatro aparelhos celulares.
"Destaca-se que o artefato bélico encontrava-se na cabeceira da cama do casal disponível para uso de ambos os autuados, tal como, os entorpecentes estavam expostos em cima da cama do segundo quarto do imóvel", de acordo com a investigação.
Em juízo, todos os réus negaram pertencer a organização criminosa. Anderson acrescentou ainda que só tinha guardado drogas e armas na sua casa a pedido de um amigo, que não revelaria o nome.