MPCE pede que Polícia Civil envie vídeos de restaurante onde garçom matou vereador em Camocim

Antonio Charlan esfaqueou e matou o vereador Cesar Araujo Veras e feriu outras duas pessoas. Há a hipótese de que ele sofria assédio moral no trabalho e tinha direitos trabalhistas desrespeitos, o que ocasionou problemas psicológicos

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
print de câmera de segurança de restaurante onde garçom matou vereador
Legenda: Garçom esfaqueou três pessoas e fugiu, mas foi preso tentando sair da cidade
Foto: Reprodução

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) solicitou à Polícia Civil que os vídeos do restaurante onde o garçom Antônio Charlan Rocha Sousa esfaqueou e matou um vereador em Camocim sejam anexados aos autos processuais. O Inquérito Policial foi concluído e o órgão ministerial deve oferecer a denúncia à Justiça nos próximos dias. 

O pedido foi feito por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Camocim nesta quinta-feira (16) e dá dois dias às autoridades policiais. As imagens em questão são do circuito de segurança do restaurante 'O Euclides', local do crime, no dia 28 de abril, por volta das 13h30. Após o ataque, o suspeito fugiu, mas foi interceptado por policiais tentando fugir da cidade, momento em que confessou o crime e apontou onde estava a faca. 

Charlan era garçom da churrascaria e esfaqueou primeiro César Araujo Veras, parlamentar do PSB que não resistiu aos ferimentos e faleceu. Em seguida, começou uma correria e ele esfaqueou outras duas pessoas em outra pessoa, o dono do estabelecimento e seu patrão, Euclides Oliveira Neto, e Fábio Roberto de Castro Souza, um cliente. 

Em interrogatório após sua prisão em flagrante, o garçom disse que não tinha desavença com as vítimas e que tomava água quando vii uma faca na pia e a pegou para esfaquear as pessoas. Ele citou que "tinha pessoas no restaurante lhe fazendo raiva". 

A motivação do crime ainda é desconhecida, mas uma das hipóteses da investigação policial aponta para uma possível retaliação por ele sofrer assédio moral no local de trabalho. O celular de Charlan foi alvo de quebra de sigilo telefônico, e nele foram encontrados blocos de notas e buscas sobre termos como "direitos trabalhistas", "tristeza permanente e profunda" e "assédio moral".

Um dos indícios que apontam a motivação da morte do vereador seria assassinar os amigos próximos de Euclides Oliveira, proprietário do estabelecimento. "Indícios existem de que Charlan queria atacar de alguma forma a pessoa de Euclides, motivo pelo qual o indiciado marcou ele e os melhores amigos do dono do estabelecimento, aqueles que sempre frequentavam o local, dentre eles o vereador Cesar Araújo Veras e Fábio Roberto de Castro Sousa", diz inquérito. 

Problemas psicológicos e trabalhistas podem ser motivação

De acordo com um relatório presente no inquérito ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, Charlan estaria sofrendo com problemas psicológicos que podem ser uma das hipóteses das circunstâncias do ataque. O suposto fato de ele sofrer assédio no trabalho e ter seus direitos trabalhistas desrespeitos podem ter contribuído para isso.

"O presente relatório concluiu pela possível existência de problemas psicológicos por parte do Antonio Charlan Rocha Souza, podendo ter sido gerado, 'em hipótese', pelo desrespeito aos seus direitos trabalhistas", aponta o inquérito.

Veja vídeo do momento:

Uma mulher que trabalhou no restaurante há alguns anos disse em depoimento que todos os colaboradores do restaurante "O Euclides" trabalhavam "sob muita pressão". Ela relatou não ter salário fixo e disse que recebia muito pouco. A ex-funcionária disse que tinha medo de reclamar do salário, por achar que seria penalizada. 

Sobre Antonio Charlan, a funcionária disse que foi informado à esposa do dono do estabelecimento, Euclides Oliveira - uma das pessoas esfaqueadas, que ele não estava bem no dia do crime. Além disso, o suspeito estaria há dois anos sem férias.

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Em depoimento no dia 30 de abril, a esposa do garçom, com quem ele é casado há 13 anos, conta que nos últimos dias antes do crime o homem estava "com um comportamento psicológico estranho, muito abatido, comendo pouco e desconfiado". Ele chegou até a pensar queriam sequestrar sua filha e também se queixou de estresses no trabalho e disse que colegas "faziam chacota" dele.  

Uma das vítimas sobreviventes, Euclides Oliveira Neto, entretanto, depôs que nunca havia tido problema com Charlan enquanto funcionário que no dia ele estava "trabalhando normal'. A outra pessoa esfaqueada, Fábio Roberto, conta que foi atingido na barriga por Charlan, mas não o conhecia. 

 

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