Ex-PM acusado de integrar grupo de extermínio e matar 4 em uma noite em Fortaleza tem júri marcado
Segundo a investigação, os projéteis retirados do corpo da vítima são compatíveis com a arma de fogo do ex-soldado da Polícia Militar do Ceará
Acusado de matar quatro pessoas em uma só noite, sendo três da mesma família, o ex-policial militar Luis Mardonio Moraes da Silva deve sentar no banco dos réus no próximo dia 13 de novembro deste ano, a partir das 9h30. O júri popular é referente ao assassinato de Adenilton Gadelha dos Santos, o primeiro a ser executado, segundo as investigações, por um grupo de extermínio formado por policiais e ex-policiais, na noite de 31 de janeiro de 2019, em Fortaleza.
Na época, Mardônio era soldado da ativa da Polícia Militar do Ceará (PMCE) lotado no então Batalhão de Policiamento do Raio (BPRaio). Após as acusações do Ministério Público, em maio de 2024 ele foi expulso da corporação. A decisão da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) foi publicada no Diário Oficial do Estado e noticiada pelo Diário do Nordeste.
Já nesta semana, a CGD instaurou novo conselho de disciplina contra o ex-PM e o cabo Igo Jefferson Silva de Sousa, "pelo suposto envolvimento nos homicídios de Francisco Adriano do Nascimento Gregório, Adrianderson Mendes Gregório e Janaína Carneiro da Silva, ocorridos no dia 31/01/2019, na Rua Tirol, no Bairro Jacarecanga, em Fortaleza/CE".
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As vítimas eram pai, mãe e filho, que estavam dentro de casa dormindo, na Jacarecanga, quando foram abordadas por homens encapuzados. O processo que apura o triplo homicídio tramita em segredo de Justiça. A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-PM, que não respondeu.
20 minutos antes das três mortes, um crime com as mesmas características aconteceu em um bairro vizinho.
'AQUI É A POLÍCIA'
De acordo com informações de documentos obtidos pela reportagem, a vítima Adenilton Gadelha também estava dentro de casa, no bairro das Goiabeiras, quando teve a residência invadida. Um grupo de cinco homens gritou: "não adianta fugir, aqui é a Polícia!". Em seguido, os criminosos quebraram o cadeado e o portão e, em seguida, ordenaram que os familiares de Adenilton se afastassem e efetuaram os disparos.
Segundo a investigação, os projéteis retirados do corpo da vítima são compatíveis com a arma de fogo do ex-soldado Mardônio. Os suspeitos teriam entrado na casa de Natalino (Adenilton) falando: "Tu responde por um homicídio".
Em seguida, começaram a efetuar disparos de arma de fogo em direção à vítima. Após o crime, se evadiram em cerca de três ou quatro veículos. Policiais civis da equipe de 8ª Delegacia do Departamento de Homicídios, logo após terem ciência do fato, deslocaram-se para o local do crime, onde localizaram câmeras que registraram um comboio formado por quatro veículos, de automóveis com características informadas pelas testemunhas. De acordo com as investigações, possivelmente esses veículos também estavam presentes em um triplo homicídio, em que pessoas da mesma família foram executadas
Luis Mardônio foi preso quase um mês após as quatro mortes, em uma borracharia no bairro Pici. O Ministério Público do Ceará passou cerca de oito meses pedindo à Polícia Civil mais diligências na investigação, até que em dezembro de 2019, denunciou Mardônio pelo homicídio.
Em janeiro de 2022, o acusado foi pronunciado, ou seja, determinado que vá a julgamento, na 3ª Vara do Júri dizendo o juiz estar "convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria".
A defesa dele entrou com recurso da sentença de pronúncia, que meses depois foi mantida em 2º Grau e depois preservada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
QUEM É IGO NEGÃO
O policial conhecido como 'Igo Negão' é acusado de integrar uma milícia, que teria cometido homicídios para vingar a morte de PMs e também praticar extorsões e outros crimes. Ele foi preso em fevereiro de 2024, dentro de um hospital, após ser baleado com outros quatro policiais militares.
Igo Jefferson foi um dos alvos de uma operação do MPCE. Dez policiais militares foram acusados pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em 2023, após investigações realizadas em parceria com a Coordenadoria de Inteligência (Coin), da SSPDS.