Clientes denunciam empresa de turismo em Fortaleza por estelionato; diretor nega
O diretor-executivo da Rafas Tours afirmou que acordos de reembolso têm sido feitos, responsabilizou o operador e disse sempre estar à disposição
Um grupo de quase 30 pessoas está denunciando uma empresa de turismo de Fortaleza por suposto crime de estelionato. As queixas citam cancelamentos inexplicados e dificuldades para reembolso. O prejuízo de apenas um casal que afirmou ter sido vítima passa de R$ 62 mil.
Vítimas da empresa se mobilizaram em um grupo em uma rede social para unir as denúncias. Algumas dessas pessoas são representadas pelo advogado Alysson J. Castro, que enxerga que as ações ultrapassam “o âmbito cível, já vai até mesmo para o penal, por estelionato e outros crimes correlacionados. Pela dinâmica dos relatos das vítimas, acredito que não se trata de infortúnios ou incompetência. Todas as medidas serão tomadas”.
As fontes que conversaram com o Diário do Nordeste optaram pelo sigilo. As vítimas falaram dos desgastes e frustração de terem o sonho da viagem prejudicado pela empresa.
“Me sinto totalmente ludibriada, enganada [...] A gente muda a vida pessoal toda, organiza tudo achando que vai fazer viagens que são confirmadas pela empresa e depois desmarcadas às vésperas, na maior cara de pau, como se nós não tivéssemos investido muito dinheiro e tempo nisso”, contou uma das fontes ouvidas pela reportagem.
A vítima ainda fala sobre a dificuldade para receber os valores: “Ele fala para todos os passageiros que vai fazer o reembolso, mas até hoje não tenho notícias de ninguém que tenha conseguido receber”.
“Como todos do grupo me senti lesada, enganada, porque a minha viagem à Europa era um sonho a ser realizado e foi cancelada sem uma justificativa plausível e o pior é que a empresa não faz qualquer esforço pra reembolsar os valores pagos”, afirmou outra denunciante.
Outra pessoa relatou questões similares, que foram passadas também por outro familiar. Ela narra que, após os cancelamentos, foi celebrado um acordo de reembolso com desconto de 30%, para receber em três parcelas, "mas até a presente data nada recebeu".
"Todos esses fatos nos levam a concluir que, os representantes da Rafas Tour agem de má fé, não têm intenção nenhuma de reembolsar os clientes que tiveram suas viagens canceladas, e não estão nem um pouco preocupados com o prejuízo financeiro que estão causando às vítimas dos sucessivos cancelamentos", complementou.
O QUE DIZ A EMPRESA
Nas redes sociais, a agência de turismo Rafas Tour se apresenta como “Operadora de Turismo com mais de 30 anos de experiência, proporcionando aos nossos clientes as melhores viagens internacionais de suas vidas”.
O diretor-executivo da operadora de turismo Rafas Tours é Sarquis Fermanian. Em 2012, o Diário do Nordeste noticiou que o empresário foi homenageado pelo representante do Ministério do Turismo de Israel no Brasil, Luiz Fernando Chimanovitch por seu trabalho de levar brasileiros ao país do Oriente Médio.
A reportagem entrou em contato com Sarquis Fermanian, que afirmou: “sempre fomos transparentes! 35 anos de atividade no turismo!”. Foi solicitada uma nota ou posicionamento da empresa, o empresário respondeu em áudio.
"O grupo de 31 pessoas deveria ter saído na semana passada. Nós emitimos o bilhete há mais de 60 dias, todos receberam o bilhete e a parte terrestre foi sendo paga parcelado. Só que por irresponsabilidade do operador da Itália, nós cancelamos dois, três dias antes os hotéis que ele tinha reservado. E por conta disso ele cancelou, mesmo tendo recebido o dinheiro", contou Sarquis.
Ele complementou: "Foi muito difícil, mas conseguimos reverter 19 pessoas, inclusive uma parte da minha família, eles embarcaram na semana passada já com seus bilhetes normais que foram emitidos pela Rafas Tour".
Sobre reembolso e acordos, Sarquis disse que dois casais já fizeram acordo, totalizando acordo com 23 pessoas, e mais quatro passageiros foram convocados para o mesmo acordo de reembolso para evitar prejuízo, segundo o empresário.
"Dos 31, nós temos esses qutro casais que estão indo à agência, amanhã eu já recebo dois casais, de manhã e à tarde, e até quarta-feira eu recebo outros dois casais para assinar o acordo de reembolso, já recebendo uma boa parte, e assim a gente soluciona toda essa problemática", complementou Sarquis.
Alysson J. Castro, representante de algumas vítimas denunciantes, falou que, até o momento, não foi feito acordo com seus representados. "Eles não me procuraram", afirmou.
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PREJUÍZOS DE MAIS DE R$ 60 MIL
Relatos obtidos pelo Diário do Nordeste apontam que algumas intercorrências com a prestadora teriam iniciado em 2022. Na época, após um casal ter pagado um pacote de viagem com destino a Israel, Jordânia e Grécia, o mesmo teria sido cancelado por conta da guerra no primeiro país.
Após tentar mudar o destino e aproveitar o valor já gasto, dias depois a empresa teria cancelado mais uma vez, com a justificativa de que não havia pessoas suficientes para atender o requisito do pacote e dar prosseguimento a viagem.
Foi então que as vítimas resolveram migrar para um novo grupo, com outro destino, mas o resultado foi o mesmo: cancelamento. A viagem deveria ser realizada para a Europa, mas a empresa cancelou com a justificativa de que a morte do Papa Francisco teria causado uma superlotação na cidade de destino.
As vítimas, a partir desse momento, começaram a suspeitar da prestadora. Resolveram, então, tentar um novo pacote, com um novo destino, uma viagem que divertia acontecer na última terça-feira (16), mas foi cancelada mais uma vez por questões operacionais.
Outras denúncias apontam prejuízos de R$ 55.928,60, R$ 54.470,00. e R$ 22.960,00. Pelo menos seis vitimas já realizaram boletins de ocorrência e outras já entraram na Justiça em busca dos valores.
INVESTIGAÇÕES
Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informou que apura as circunstâncias de um crime de estelionato, ocorrido no dia 10 de setembro de 2025, em uma casa comercial de Fortaleza.
“O fato foi noticiado por meio de Boletim de Ocorrência (BO). O caso é investigado pela Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), unidade da PCCE”, informou ainda a entidade.