Atendimento especializado é ofertado na Capital para as vítimas da exploração sexual
Profissionais atuantes na Rede Aquarela, da Prefeitura de Fortaleza, narram histórias de exploração de crianças e adolescentes; em um caso, houve conivência da mãe para que ocorresse o abuso da própria filha
Assim como nos outros crimes, a vítima de exploração sexual infantil também não teve culpa daquilo ter ocorrido. Prevenir é sempre a melhor opção, mas, contando que muitas vezes a prevenção falha, é preciso remediar dando àqueles que foram abusados a assistência necessária para que consigam superar o ocorrido com o mínimo de traumas possível.
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Com o objetivo de atender estas vítimas, foi criado pela Prefeitura de Fortaleza o programa Rede Aquarela. A rede socioassistencial recebe vítimas de exploração, tráfico e abuso sexual. A equipe multidisciplinar recebe com pouca frequência vítimas de exploração sexual. Segundo a coordenadora do Aquarela, Kelly Meneses, a principal porta de entrada é a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca), e o atendimento começa ainda dentro da unidade.
De acordo com Kelly, os últimos casos recebidos foram de vítimas exploradas isoladamente nas periferias de Fortaleza, mas ainda há grandes teias de aliciadores na Capital:
Temos notícias de que acontece exploração em festas privadas, algo mais velado. Se a delegacia não tem acesso é porque ela não está tão focada na investigação. O que chega para lá é a exploração 'pequena' que acontece na comunidade, mas existe, sim, a exploração em outro nível e muito bem organizada".
Um dos casos em atendimento no programa é o de uma jovem que vinha sendo explorada com a conivência da mãe. A coordenadora da Rede Acolhe explica que o companheiro da mãe da vítima dava uma série de recursos materiais para a família em troca de sexo com a menina. Quando o caso foi denunciado e passou a ser de conhecimento das autoridades, a mãe perdeu a guarda e a vítima foi encaminhada para acolhimento institucional do Município de Fortaleza. Já no abrigo, a menina se deu conta do que vinha acontecendo e tentou suicídio por se achar culpada do que aconteceu.
"Na Praia de Iracema e na Beira-Mar, ainda existe a exploração, mas ela está mais camuflada. Existe esta mudança de comportamento, e a Segurança Pública precisa direcionar sua Inteligência para isso. Se for procurar, vai encontrar, porque onde existe desigualdade e vulnerabilidade tem exploração e essa exploração vai se reorganizando conforme o Poder Público vai dando respostas", reiterou Kelly.
Percepção
A psicóloga do Aquarela, Gabriela Tavares, reafirma que enxerga nas vítimas dificuldade de elas perceberem que um direito está sendo violado a partir da exploração. Gabriela lembra de dois casos: um que quando a vítima chegou ao atendimento negou diversas vezes que tinha sido explorada e o outro de um jovem, que só conseguiu admitir para si mesmo e para a família quando descobriu que tinha contraído uma Doença Sexualmente Transmissível (DST).
"Quando ele descobriu a doença, contou aos pais e chegou aqui. Ele ficou com bastante vergonha e ainda se sentiu culpado. A exploração é um fenômeno muito complexo e que marca a vítima. Não é um acompanhamento a curto prazo. Fazemos toda uma avaliação individual com o objetivo de superar o que aconteceu e precisamos saber se a vítima não está mais em contato com o agressor", explicitou a psicóloga da Aquarela.
Para ser atendido no programa, é preciso haver um encaminhamento por parte das autoridades. Denúncias sobre violação dos direitos das crianças e dos adolescentes podem ser notificadas ao Plantão do Conselho Tutelar de Fortaleza pelos telefones (85) 3238.1828, (85) 98970.5479, ou pelo contato Disque 100.