Fonte de energia
Escrito por
Redação
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O uso da biomassa de resíduos gera economia de recursos materiais e naturais e reduz a emissão de poluentes
As vantagens da produção de energia a partir da biomassa (matéria orgânica) incluem o baixo custo e o fato de ser renovável. Se essa biomassa é um resíduo que seria degradado na natureza, em lixões ou aterros sanitários, a vantagem do seu uso cresce, pois, além de economizar recursos naturais e materiais, se reduz a produção do gás metano, que tem um potencial gerador de efeito estufa pelo menos 20 vezes maior que o dióxido de carbono resultante da sua queima para geração de energia.
A utilização de biomassa residual em cerâmicas é uma forte tendência no setor
Foto: Fabiane de Paula
Neste sentido temos, no Estado do Ceará, pelo menos dois exemplos a serem destacados. O primeiro está no município do Crato, na Região do Cariri, a 537 quilômetros de Fortaleza. Num ramo conhecido pelo grande potencial degradador, a Cerâmica Gomes de Mattos (CGM), em 2012, recebeu cerca de quatro mil visitantes. Ela atua no fortalecimento da eficiência energética no setor cerâmico da região e tornou-se unidade demonstrativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Lá, 60 % do combustível provêm de três planos de manejo, no Crato, em Assaré e em Farias Brito. Os 40% restantes são combustíveis alternativos a partir de resíduos de serrarias e podas, o que contribui para o aumento da vida útil do destino final dos resíduos e também para a redução do aquecimento do clima.
Com isso, a empresa já participa do mercado de carbono desde 2006. Devido às exigências desse mercado, até a serragem é proveniente especificamente de serrarias certificadas. No dia 4 de junho passado, véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, a empresa fez uma venda de 50 mil toneladas de carbono para a linha Natura Ekos.
O arrecadado, segundo um dos sócios da empresa, Everardo Gomes de Mattos, foi reinvestido em uma nova máquina para triturar a lenha. Ele mesmo adaptou um exaustor e rodas à máquina que, tornada móvel, servirá não apenas à CGM, mas a outras cerâmicas da região. "Meio ambiente não é para hoje. É para o ano passado. Quando se faz uma coisa sempre se precisa mais. Se serve para mim, vai servir para os outros também. Não tenho medo da concorrência enquanto houver desperdício", diz.
Na cerâmica, aproximadamente 180 funcionários, dos quais 40% são mulheres (mais, produtivas, pela delicadeza no trato com as peças), produzem três milhões de peças por mês (tijolos e telhas). Para isso, é necessária a queima de 400 toneladas de biomassa. Esse volume poderia ser muito maior se os responsáveis pela empresa não tivessem investidos em duas tecnologias simples que fazem toda a diferença. Primeiro eles moem a lenha, o que aumenta o seu poder calorífico.
Em segundo lugar, eles criaram um sistema de transferência de calor entre câmaras que aumenta a eficiência dos fornos, reduz o uso de biomassa. Como na empresa nada se desperdiça, o calor restante é aproveitado também nas estufas de secagem, o que promoveu a desativação da fornalha usada para este fim antes. Com essas medidas, a redução média foi de 1,5 metro de lenha por milheiro produzido para 0,6 metro de lenha.
"Toda atividade humana gera impacto e uma das atividades que tem grande potencial negativo é a mineração, mediante a retirada sem a recuperação da área degradada", explica o secretário de Meio Ambiente do Crato, Stepherson Ramalho, que é engenheiro florestal da Fundação Araripe, apoiadora das ações ambientais da CGM.
Briquetes
Outra bem-sucedida experiências de reutilização de biomassa vem sendo desenvolvida na Fazenda Mastruz com Leite, em Pentecoste, a 92 quilômetros de Fortaleza, pelo empresário Emanoel Gurgel. Sua iniciativa, além de poupar a natureza do desmatamento, contribui para aumentar a vida útil do Aterro Metropolitano Oeste de Caucaia (Asmoc), já que o resto da poda de árvores de toda a cidade de Fortaleza, que é encaminhado para o local, é triturado e recolhido para a nova atividade, abrindo ali espaço para outros resíduos.
O ex-árbitro de futebol Emanoel Gurgel, no fim dos anos 90, cansado de ir às festas e ver as bandas de música tocarem apenas rock e MPB, resolveu apostar na formação de um grupo de forró. Foi assim que surgiu o Mastruz com Leite e, no rastro dele, toda a indústria em torno do ritmo musical que reconquistou o Nordeste e o País.
Há pouco mais de três anos, ele viu na fabricação de briquetes um negócio promissor e hoje é o maior produtor do Ceará. "A coisa aconteceu por acaso. Esse material era todo jogado fora. Aquilo me inquietava. Perguntei a um amigo como poderia aproveitá-lo. Ele sugeriu que comprasse uma máquina para moer tudo e fazer piso para ser utilizado pelos frangos. A sugestão foi aceita. Depois, um outro amigo indagou por qual motivo eu não passava a fabricar briquetes. Estranhei até o nome. Nunca tinha ouvido falar nisso. Mas, foi aí que tudo começou", conta.
O passo seguinte do empresário foi entrar em contato com uma fábrica de briquetadeira. Depois de adquirir os equipamentos, iniciou a produção para abastecer algumas pizzarias de Fortaleza. Mas surgiu um novo impasse. "No período chuvoso, o teor da umidade na madeira subia muito, e me obrigava a paralisar todas as atividades. Então, adquiri uma máquina para secar. Desde então não parei. São 365 dias de atividade no ano".
Hoje, toda a poda que é feita pela Companhia Energética do Ceará (Coelce) dentro de Fortaleza tem um único destino: sua fazenda de 10 mil hectares. Segundo o empresário, "nada menos do que um milhão e 800 mil quilos de poda eram jogados todos os meses no Asmoc". Dentre as vantagens do briquete, Emanoel lembra que o seu poder de fogo é três vezes maior que o da lenha e ocupa quatro vezes menos espaço.
O rei dos briquetes não fala sobre investimento ou lucro, porém, assegura que produz um milhão de quilos por mês, tem 380 clientes cadastrados em todo o Ceará e em alguns locais de Pernambuco e do Piauí, e assegura que o mercado é promissor. "Além de padarias e pizzarias no Ceará e Pernambuco, passei a fornecer, em 2013, para uma fábrica de papelão em Maranguape; de sapato, em Russas e Quixeramobim e de papel, em São Gonçalo e Sobral".
Atualmente, a fábrica de briquetes Mastruz com Leite oferece 112 empregos com carteira assinada. O empresário já adquiriu equipamentos e o terreno para montar uma nova indústria em São Gonçalo do Amarante. "Vamos instalar até 2015 uma indústria de beneficiamento de arroz utilizando a palha de coqueiro para fazer briquetes".
MARISTELA CRISPIM/FERNANDO MAIA
EDITORA/REPÓRTER
As vantagens da produção de energia a partir da biomassa (matéria orgânica) incluem o baixo custo e o fato de ser renovável. Se essa biomassa é um resíduo que seria degradado na natureza, em lixões ou aterros sanitários, a vantagem do seu uso cresce, pois, além de economizar recursos naturais e materiais, se reduz a produção do gás metano, que tem um potencial gerador de efeito estufa pelo menos 20 vezes maior que o dióxido de carbono resultante da sua queima para geração de energia.
A utilização de biomassa residual em cerâmicas é uma forte tendência no setorFoto: Fabiane de Paula
Neste sentido temos, no Estado do Ceará, pelo menos dois exemplos a serem destacados. O primeiro está no município do Crato, na Região do Cariri, a 537 quilômetros de Fortaleza. Num ramo conhecido pelo grande potencial degradador, a Cerâmica Gomes de Mattos (CGM), em 2012, recebeu cerca de quatro mil visitantes. Ela atua no fortalecimento da eficiência energética no setor cerâmico da região e tornou-se unidade demonstrativa do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Lá, 60 % do combustível provêm de três planos de manejo, no Crato, em Assaré e em Farias Brito. Os 40% restantes são combustíveis alternativos a partir de resíduos de serrarias e podas, o que contribui para o aumento da vida útil do destino final dos resíduos e também para a redução do aquecimento do clima.
Com isso, a empresa já participa do mercado de carbono desde 2006. Devido às exigências desse mercado, até a serragem é proveniente especificamente de serrarias certificadas. No dia 4 de junho passado, véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, a empresa fez uma venda de 50 mil toneladas de carbono para a linha Natura Ekos.
O arrecadado, segundo um dos sócios da empresa, Everardo Gomes de Mattos, foi reinvestido em uma nova máquina para triturar a lenha. Ele mesmo adaptou um exaustor e rodas à máquina que, tornada móvel, servirá não apenas à CGM, mas a outras cerâmicas da região. "Meio ambiente não é para hoje. É para o ano passado. Quando se faz uma coisa sempre se precisa mais. Se serve para mim, vai servir para os outros também. Não tenho medo da concorrência enquanto houver desperdício", diz.
Na cerâmica, aproximadamente 180 funcionários, dos quais 40% são mulheres (mais, produtivas, pela delicadeza no trato com as peças), produzem três milhões de peças por mês (tijolos e telhas). Para isso, é necessária a queima de 400 toneladas de biomassa. Esse volume poderia ser muito maior se os responsáveis pela empresa não tivessem investidos em duas tecnologias simples que fazem toda a diferença. Primeiro eles moem a lenha, o que aumenta o seu poder calorífico.
Em segundo lugar, eles criaram um sistema de transferência de calor entre câmaras que aumenta a eficiência dos fornos, reduz o uso de biomassa. Como na empresa nada se desperdiça, o calor restante é aproveitado também nas estufas de secagem, o que promoveu a desativação da fornalha usada para este fim antes. Com essas medidas, a redução média foi de 1,5 metro de lenha por milheiro produzido para 0,6 metro de lenha.
"Toda atividade humana gera impacto e uma das atividades que tem grande potencial negativo é a mineração, mediante a retirada sem a recuperação da área degradada", explica o secretário de Meio Ambiente do Crato, Stepherson Ramalho, que é engenheiro florestal da Fundação Araripe, apoiadora das ações ambientais da CGM.
Briquetes
Outra bem-sucedida experiências de reutilização de biomassa vem sendo desenvolvida na Fazenda Mastruz com Leite, em Pentecoste, a 92 quilômetros de Fortaleza, pelo empresário Emanoel Gurgel. Sua iniciativa, além de poupar a natureza do desmatamento, contribui para aumentar a vida útil do Aterro Metropolitano Oeste de Caucaia (Asmoc), já que o resto da poda de árvores de toda a cidade de Fortaleza, que é encaminhado para o local, é triturado e recolhido para a nova atividade, abrindo ali espaço para outros resíduos.
O ex-árbitro de futebol Emanoel Gurgel, no fim dos anos 90, cansado de ir às festas e ver as bandas de música tocarem apenas rock e MPB, resolveu apostar na formação de um grupo de forró. Foi assim que surgiu o Mastruz com Leite e, no rastro dele, toda a indústria em torno do ritmo musical que reconquistou o Nordeste e o País.
Há pouco mais de três anos, ele viu na fabricação de briquetes um negócio promissor e hoje é o maior produtor do Ceará. "A coisa aconteceu por acaso. Esse material era todo jogado fora. Aquilo me inquietava. Perguntei a um amigo como poderia aproveitá-lo. Ele sugeriu que comprasse uma máquina para moer tudo e fazer piso para ser utilizado pelos frangos. A sugestão foi aceita. Depois, um outro amigo indagou por qual motivo eu não passava a fabricar briquetes. Estranhei até o nome. Nunca tinha ouvido falar nisso. Mas, foi aí que tudo começou", conta.
O passo seguinte do empresário foi entrar em contato com uma fábrica de briquetadeira. Depois de adquirir os equipamentos, iniciou a produção para abastecer algumas pizzarias de Fortaleza. Mas surgiu um novo impasse. "No período chuvoso, o teor da umidade na madeira subia muito, e me obrigava a paralisar todas as atividades. Então, adquiri uma máquina para secar. Desde então não parei. São 365 dias de atividade no ano".
Hoje, toda a poda que é feita pela Companhia Energética do Ceará (Coelce) dentro de Fortaleza tem um único destino: sua fazenda de 10 mil hectares. Segundo o empresário, "nada menos do que um milhão e 800 mil quilos de poda eram jogados todos os meses no Asmoc". Dentre as vantagens do briquete, Emanoel lembra que o seu poder de fogo é três vezes maior que o da lenha e ocupa quatro vezes menos espaço.
O rei dos briquetes não fala sobre investimento ou lucro, porém, assegura que produz um milhão de quilos por mês, tem 380 clientes cadastrados em todo o Ceará e em alguns locais de Pernambuco e do Piauí, e assegura que o mercado é promissor. "Além de padarias e pizzarias no Ceará e Pernambuco, passei a fornecer, em 2013, para uma fábrica de papelão em Maranguape; de sapato, em Russas e Quixeramobim e de papel, em São Gonçalo e Sobral".
Atualmente, a fábrica de briquetes Mastruz com Leite oferece 112 empregos com carteira assinada. O empresário já adquiriu equipamentos e o terreno para montar uma nova indústria em São Gonçalo do Amarante. "Vamos instalar até 2015 uma indústria de beneficiamento de arroz utilizando a palha de coqueiro para fazer briquetes".
MARISTELA CRISPIM/FERNANDO MAIA
EDITORA/REPÓRTER