Olho-D´Água da Bica: mistério e devoção

Escrito por Redação ,

Manoel Lima
colaborador

A erosão, o tempo e as enxurradas destruíram árvores centenárias, danificou o solo e comprometeu gravemente a fonte “milagrosa” de Olho-D’Água da Bica. No local, considerado, pelos mais antigos, centro de grandes romarias e devoção, raízes de árvores antigas e a destruição do solo exigem das autoridades uma providência urgente. Inserido no sopé da Chapada do Apodi, divisa do Ceará com Rio Grande do Norte, o local é cercado de mistério, crenças e muitas histórias. No lugar surgiram os primeiros habitantes do povoado, hoje, distrito de Olho-D’Água da Bica, localizado a 21 quilômetros da sede do município de Tabuleiro do Norte.

Numa tradição secular, marcada de crença, fé e devoção, o santuário Olho-D’Água da Bica é palco da terceira maior romaria do Nordeste. Em todos os anos, milhares de nordestinos visitam o local em busca das bênçãos da padroeira, Nossa Senhora da Saúde. “As pessoas vêm em busca das águas da bica e acreditam que ela cura alguns males”, explica o odontólogo Irizandro Fernandes Viana.

A crença nas águas que até hoje jorram da fonte surgiu em 1884, quando o padre Joaquim Rodrigues de Menezes disse ter sonhado com a Nossa Senhora da Saúde pedindo-lhe que construísse uma capela em sua homenagem, no local onde minava água. A santa teria lhe dito que enquanto existisse o cruzeiro da capela, a comunidade não sofreria epidemia.

Relatos dos mais antigos dizem que a localidade nunca enfrentou nenhuma epidemia e que nem mesmo a malária, que dizimou multidões nos municípios de Limoeiro e Tabuleiro do Norte, atingiu a população de Olho-D´Água da Bica. Os moradores também acreditam no poder milagroso da fonte porque, nem mesmo nas grandes estiagens, a água parou de jorrar. Para a população, o poder milagroso da bica nunca foi comprovado. Há romeiros que retornam à vila contam seu testemunho.

“Tudo é questão de fé e devoção”, observa José Simão Sobrinho, 58 anos. Ele acredita que, de uma forma ou de outra, a santa, através da água, tem ajudado muita gente. “As histórias de milagres são muitas. Elas já ultrapassaram fronteiras. A população respeita a fé dos romeiros e coloca à disposição de todos a pouca água que surge na bica”, completa José Simão, ao mesmo tempo em que observa o estado de abandono em que se encontra a fonte dágua. Mesmo sem caso recente de milagre, a bica continua atraindo muitos devotos. Movidos pela fé, vem gente de vários centros urbanos do país. “Já enfrentei várias secas, mas nunca presenciei a fonte sem água. Ela até diminui a quantidade do líquido, mas nunca seca” , lembra Simão.