Estação de trem faz 100 anos

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A Estação Ferroviária de Iguatu completou 100 anos de sua criação. Nos tempos áureos, era palco da sociedade local

Iguatu - O badalado do sino, puxado por uma corda, era o aviso que o trem estava chegando. Na plataforma da estação, dezenas de moradores, sempre bem vestidos, dividiam o espaço e o sentimento de expectativa dos que esperavam e dos que estavam para chegar de mais uma viagem sobre os trilhos que cortavam o Sertão cearense e unia a Capital, no litoral, à região Sul, no Cariri. Durante décadas essa rotina se repetiu nesta cidade, que no último dia 5, comemorou o centenário de inauguração da ferrovia e da estação ferroviária.

A ferrovia tem uma importância histórica e foi fundamental para o crescimento de várias cidades do Interior, beneficiadas com a chegada do trem. Iguatu é uma delas. O trem chegou há 100 anos, em grande festa e acontecimento. A antiga Vila da Telha se transformou. Os negócios e o local se desenvolveram rapidamente.

O trem favoreceu o transporte de passageiros e de produtos agropecuários do Interior para a Capital. Deixava-se de conduzir mercadorias em lombos de tropas de burros, para usar vagões puxados por uma máquina a vapor, a Maria Fumaça. Ganhava-se tempo e dinheiro, embora a viagem de Iguatu a Fortaleza demorasse dois dias. Para a época, era um avanço.

Em 19 de outubro de 1910, o jornal O Estado de São Paulo escrevia: "A ponta dos trilhos da Estrada de Ferro de Baturité chegou a dois quilômetros da cidade de Iguatu. A estação desta cidade, cujas obras já estão quase concluídas será inaugurada no dia 5 de novembro próximo". A previsão foi concretizada e a estação ferroviária foi inaugurada naquela data.

Em 1909, a Estrada de Ferro Baturité e a Estrada de Ferro Sobral foram unificadas e surgiu uma nova empresa, a Rede Viação Cearense (RVC). Décadas depois, surgiria a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), empresa pública, do Governo Federal, que em 1997 foi privatizada pela CFN.

A solenidade de inauguração aconteceu em frente à casa do intendente municipal da época, Belizário Cícero Alexandrino. O presidente da Província do Ceará, comendador Antônio Pinto Nogueira Acioli, foi representado pelo juiz de Direito, Alerano de Barros. O ato contou com a participação do diretor da Estrada de Ferro, Zózimo Barroso e de centenas de moradores. "Houve muitos discursos, queima de fogos, balões foram soltos em comemoração ao acontecimento", contou o pesquisador e memorialista, Wilson Holanda Lima Verde.

As transformações ocorridas no cenário urbano local foram visíveis a partir do funcionamento regular do trem. A pesquisa de Barros relaciona: "muitas casas foram construídas, dois hotéis foram instalados e foi preciso implantar um novo cemitério porque o antigo ficava muito próximo à estação ferroviária. A rua do comércio chegou até a Praça da Estação. Abriu-se um cinema, bem montado".

Um detalhe da vida social mundana não foi esquecido no relato histórico de Barros. As irmãs Batistas abriram um cabaré, que reunia homens e atraia clientes aos domingos. Costumava-se beber muito no lugar.

O ex-agente de estação, Expedito Bandeira, lembra com saudades do tempo em que trabalhou na ferrovia por três décadas seguidas. "Fiz muitas amizades e passei grande parte da minha vida dedicada à empresa", contou. Começou em 1957, como telegrafista e aposentou-se em 1987. No trabalho, há exatos 50 anos, conheceu uma jovem, Ivanilda, no Distrito de Arrojado, em Lavras da Mangabeira, com quem se casou e teve seis filhos. Ivanilda Bandeira lembra com alegria daquela época. "A chegada do trem era uma festa, uma diversão nas cidades do Interior", recorda. "As pessoas esperavam parentes e havia muitos vendedores de bolo, tapioca, pão-de-ló, doces e frutas", comenta.

Cargas

A composição transportava em média 200 passageiros e havia os trens de carga, que levavam algodão em pluma, animais, frutas, farinha, rapadura para a Capital, e de Fortaleza traziam produtos industrializados, bebidas, tecidos, jornais e muitas novidades.

Na semana passada, praticamente não houve festa e a comemoração do centenário limitou-se a um rápido encontro entre autoridades locais e funcionários da atual Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), na plataforma da estação, seguido de um café da manhã.

Importância

"A passagem do trem era um acontecimento social, que reunia as famílias".

Wilson LimaVerde
Memorialista

"Em 30 anos de trabalho na ferrovia, fiz amizades e uma vida dedicada à empresa".

Expedito Bandeira
Ex-agente da RFFSA

MAIS INFORMAÇÕES

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(88) 3581.7649

Honório Barbosa
Repórter