Em memória de José Osterne

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Descendente de José Osterne resgata a sua história e apresenta fatos que marcaram a região do Vale do Jaguaribe

Limoeiro do Norte. A praça não é a mesma — teve pelo menos três diferentes caras nas últimas décadas, mas o nome não muda. Praça José Osterne, monumento construído em Limoeiro do Norte para homenagear um de seus filhos mais ilustres e empreendedores. O patrimônio público fica em frente à Academia Limoeirense de Letras (ALL), por sua vez, situada no conhecido “Casarão dos Osterne”. Mas para a maioria dos limoeirenses vem a pergunta: quem foi José Osterne?

Um seu trineto, o agrônomo e historiador Joaquim Osterne Carneiro, compensou a curiosidade até mesmo entre os familiares e escreveu “José Osterne – História e Descendência”. Um livro biográfico, mas também de genealogia, trazendo um apanhado de quem foi o limoeirense José Osterne Ferreira Maia, nascido em 29 de junho de 1875 e falecido aos 52 anos, não sem antes deixar uma prole de nove filhos, que, qual ele, tiveram forte contribuição na história da cidade nas mais diversas áreas, comprovada em vários prédios históricos que carregam o nome dos “Ferreira Maia”, ou família de admitida alcunha dos “Cagafogo”, que povoou vastas áreas à beira do Rio Jaguaribe, deixando marcas inconfundíveis.

Osterne, do livro, descende do padre Ambrósio Machado Rodrigues e Silva, que nem por ser padre deixou de ter filhos com três mulheres, proprietário de fazenda nos Estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco e deputado cearense na Assembléia Provincial. Naqueles tempos, não só a riqueza, mas o berço de onde vinham, eram preponderantes para os descendentes lograrem êxito, notadamente na vida pública. O padre foi pai de Tito Ambrósio da Silva Machado, que lhe deu o neto José Osterne, este depois sendo adotado por Antônio Manuel Ferreira Maia, que, por sua vez, foi comandante do Superior da Guarda Nacional de São Bernardo, por nomeação de Dom Pedro II.

Sim, estamos falando de verdadeiras oligarquias que beiravam o Rio Jaguaribe entre Limoeiro do Norte e Aracati, mas, despindo-se de qualquer preconceito republicano, foram estas famílias notáveis as responsáveis não somente pela urbanização do Interior, como, por isso mesmo, a descentralização de ações que iam da saúde à política ou à educação.

José Osterne foi advogado provisionado com atuação em Limoeiro, Aracati, Russas, Quixadá, Quixeramobim, Jaguaribe, Icó, Fortaleza, Maranguape, Lavras da Mangabeira e Senador Pompeu.

Ainda esteve no norte em defesa jurídica de seringalistas — o livro fala de um “grande” seringalista, mas seu autor não consegue dizer quem seria.

Homem das demandas, mas também da natureza, foi notável botica, manipulou porções, infusões, fez curativos, trouxe espécies vegetais ainda inexistentes na região, principalmente fruteiras, que logo se espalharam pela cidade. Teria trazido, também, o primeiro cata-vento de ferro para a região jaguaribana, e perfurado o primeiro poço profundo para a realidade de então. Osterne foi um dos fundadores e primeiro presidente do Pão de Santo Antônio, em Limoeiro, que ainda hoje atende a 40 famílias carentes todas as semanas com doações de pão.

O livro “José Osterne – História e Descendência”, de Joaquim Osterne Carneiro, soma-se à Praça José Osterne e ao casarão (destruído e reconstruído após a cheia do Jaguaribe em 1917), onde hoje se situa a Academia Limoeirense de Letras como um patrimônio que conta, dessa vez com palavras, parte da história de Limoeiro e de um filho seu ilustre. Conforme o jornalista e servidor aposentado Meton Maia e Silva, o livro “é um trabalho de idealismo do autor e uma homenagem reconhecida ao seu avô com o pretexto de levar aos pôsteres o conhecimento dos valores morais e virtudes incontestes deste homem dotado de uma invulgar capacidade de trabalho e amor ao próximo”.

MELQUÍADES JÚNIOR
Colaborador


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