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Qual o futuro do PDT Ceará na avaliação de parlamentares que vivem em crise interna desde 2022

Deputados destacam a preocupação com o enfraquecimento da sigla não apenas para 2024 como também para 2026

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Legenda: Parlamentares pedetistas opinaram sobre o futuro do partido no Ceará
Foto: Junior Pio/Assembleia Legislativa

Os filiados do PDT Ceará vivem, há mais de um ano, em meio a uma crise interna sem fim dentro do partido. Após um período curto de calmaria, a escalada de tensão no partido voltou a crescer e se transformou em uma guerra judicial, com pelo menos três decisões na última semana. A mais recente, desta quarta-feira (18), coloca Cid Gomes (PDT) na presidência do partido, mas o mandato dura apenas até o final de dezembro. O curto prazo até a convenção estadual, e eleição de nova Executiva, deve manter a queda de braço entre Cid Gomes e o deputado federal André Figueiredo (PDT)

Sem perspectiva de pacificação, parlamentares do PDT temem um enfraquecimento do partido para 2024, com a perda de prefeitos e vereadores, além da falta de atrativo para potenciais candidatos para os cargos. Alguns projetam ainda que a falta de solução pode impactar na eleição de 2026, quando as bancadas estaduais e federais serão eleitas. Os deputados conversaram com o Diário do Nordeste nesta terça-feira (17), durante a sessão da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). 

Apesar de tentarem manter o discurso de que a convivência entre as duas alas que dividem o partido ainda é possível, os próprios parlamentares admitem que a possibilidade de entendimento parece cada vez mais distante. 

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Sob liderança do senador Cid Gomes (PDT), parte dos pedetistas defende a prevalência da "posição da maioria" — que inclui prefeitos, além de deputados estaduais e federais. A intenção é aderir a base aliada ao Governo Elmano de Freitas (PT), tornando oficial a entrada do partido na gestão estadual. 

Do outro lado, aliados ao presidente estadual André Figueiredo (PDT) querem que o PDT faça oposição a Elmano — ou, pelo menos, mantenha a independência para permitir que parte dos pedetistas permaneça com posição contrária à gestão estadual. Figueiredo conta com apoio, por exemplo, do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

'PDT muito vulnerável'

Indagados a respeito do que esperam do futuro do PDT, parte dos deputados entrevistados pelo Diário do Nordeste cita, quase de imediato, a eleição de 2024. Apesar da disputa em Fortaleza ser um dos pontos de impasse dentro do partido, os parlamentares têm os demais municípios cearenses como fonte de preocupação. 

"Essa queda de braço não leva a nada. O que estamos vendo no partido são alguns filiados deixando o partido, enfraquecendo a posição política", destaca o deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT). 

Para o deputado federal Eduardo Bismarck (PDT), a crise está causando "insegurança jurídica para vereadores e prefeitos se candidatarem na próxima eleição". O resultado é que as lideranças se afastam do partido, causando um prejuízo ao próprio PDT. Para ele, isso é resultado do fato da "minoria estar cometendo atos que prejudicam o crescimento do partido estadual e nacionalmente". 

Aliado a Cid Gomes, Bismarck aponta que, para resolver o problema, "a maioria tem que ser respeitada e ter poder de mando". A deputada estadual Lia Gomes (PDT) lembra que as articulações para filiar prefeitos e potenciais candidatos à Prefeitura já começaram e a disputa dentro do PDT está trazendo "angústia" e "insegurança" para estes candidatos. 

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"Essa disputa deixa o PDT muito vulnerável. Eu fico chocada como essa pequena minoria não se importa com esse sangramento para o PDT, essa instabilidade que está trazendo para os prefeitos que vão ser candidatos. Estão todos agora querendo se filiar aos partidos. Os partidos vão de agora fazendo acordos e se a pessoa fica sem a legenda, (isso) pode impedir a candidatura dela", diz.

O deputado estadual Cláudio Pinho (PDT) concorda que o partido está em uma situação "delicada", mas aponta os atos dos cidistas como responsáveis por isso. "As próprias pessoas que queriam a manutenção do diretório, convocaram o diretório para destituir a Executiva. Quando no estatuto diz que a Executiva é eleita junto com o diretório. Só causa problemas, não contribui para o partido, pelo contrário", rebateu.

Risco de debandada

E se a preocupação com 2024 é a mais urgente devido a proximidade do pleito, o impacto desta longa crise do PDT pode chegar a 2026. Isto porque a desfiliação de parlamentares estaduais e federais, principalmente da ala cidista, não é descartada. Nos bastidores, pedetistas comentam que o risco é maior entre os deputados estaduais do que na bancada federal. 

O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão (PDT), por exemplo, já entrou com ação para desfiliação do partido na Justiça Eleitoral, após conseguir carta de anuência do diretório estadual do PDT em agosto, quando ainda estava sob comando de Cid Gomes. A saída é contestada pela Executiva nacional do PDT. 

Evandro alegou "descriminação pessoal" como uma das razões para a saída. O líder do Governo Elmano na Assembleia, Romeu Aldigueri (PDT) ressalta que a "perseguição e descriminação" contra os pedetistas mais próximos ao PDT ocorrem desde a campanha eleitoral de 2022 e que o "caminho judicial já existe para quem quiser deixar o partido". 

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"A falta de tratamento igualitário já existe desde a eleição passada, a discriminação pessoal já existe desde a eleição passada.  (...)  Não prevalecendo a democracia interna, a maioria não prevalecendo, o caminho judicial já existe para quem quiser sair do partido, procurar outra sigla. Visto que o partido está nos expulsando, não nos quer, está nos discriminando há mais de um ano", ressaltou.

Outros parlamentares, no entanto, são mais ponderados ao falar sobre eventual desembarque da sigla. "A saída do partido para mim é a última das possibilidades que pode haver. Mas nem eu nem nenhum dos filiados quer ficar em um partido que se enfraquece a cada dia", ressalta Sérgio Aguiar.

Ainda há espaço para a pacificação?

A crença em uma convivência entre as duas alas divergentes, com uma pacificação dentro do partido, está "se distanciando", afirma o deputado estadual Antônio Henrique (PDT), embora ele diga ainda acreditar em uma solução que passe pelo "diálogo com todos". "Acredito ser plenamente possível viver dentro do partido com as diferenças", concorda Lia Gomes. 

"Em política tudo é possível. O adversário de ontem pode ser o aliado de hoje ou de amanhã. Se tiver um bom diálogo, pode ter uma solução para esse problema", corrobora Cláudio Pinho.

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Contudo, a própria solução do impasse é um ponto divergente entre as alas. Enquanto os aliados a Cid Gomes reforçam que a pacificação passa pelo respeito pela "maioria", aqueles que estão ao lado de Figueiredo acreditam na liderança do deputado federal para acalmar os ânimos. 

"O André (Figueiredo) mesmo se posicionando contra o governo, não diria nem de oposição, mas não sendo 100% voltado para o governo, ele não tem criado nenhum problema em relação às pessoas que são da base do governo. Eu acredito que a independência do partido na Alece poderia ir por muito tempo sem nenhum problema, tanto para um lado como para outro", aponta Antônio Henrique.

"Eu entendo que há uma posição majoritária e essa posição deve ser respeitada, porque vivemos numa democracia", rebate Eduardo Bismarck. " Do meu ponto de vista, eu vejo espaço para convivência. Agora, precisa esses dois lados quererem, precisa a maioria ser respeitada e ter poder de mando e a minoria ser respeitada". 

Aguiar segue pela mesma linha: "Vou pela legitimidade de que a maioria deve prevalecer sobre aqueles que são de menor peso nas decisões partidárias". Por outro lado, Aldigueri considera a pacificação "impossível". "A direção nacional do partido não quer diálogo", critica.

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