Quais palavras mais aparecem nos planos de governo dos candidatos à Prefeitura de Fortaleza em 2024
O PontoPoder analisou as mais de 50 mil palavras nos documentos oficiais dos candidatos e destacou as mais repetidas, apontando o que elas indicam sobre as propostas de cada um
Saúde, segurança, educação e trabalho são bandeiras levantadas por todos os candidatos à Prefeitura de Fortaleza em discursos, publicações em redes sociais, debates, entrevistas e sabatinas. Contudo, tais assuntos não aparecem apenas da boca para fora. As mesmas palavras surgem como os termos mais recorrentes nas propostas de governo apresentadas oficialmente pelos concorrentes à Justiça Eleitoral.
O PontoPoder analisou as mais de 50 mil palavras que constam nos documentos oficiais de cada postulante. Os planos podem ser acessados por toda a população, que pode salvar os documentos e usar para cobrar o futuro gestor da Capital. Neles, estão os planejamentos de ações que cada um dos candidatos pretende executar caso seja eleito. As propostas precisam ser entregues à Justiça Eleitoral na hora de registrar a candidatura, conforme determina a Lei nº 12.034/2009.
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Para a professora de graduação e pós-graduação em Direito da Unifor e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade, ter as palavras “saúde”, “segurança”, “educação” e “trabalho” como mais recorrentes é um retrato claro da campanha até agora em Fortaleza.
“As frases ditas são perfeitamente moduladas para conquistar e atrair votos, e não podem se afastar dos problemas mais próximos da sociedade. A carência de profissionais e atendimento em saúde pública, a falta de vagas no ensino fundamental, a dificuldade em conseguir postos de emprego. É um conjunto de fatores que não pode ser desconsiderado justamente por fazer parte do cotidiano do eleitor médio, que busca soluções urgentes para problemas muito graves e que demandam uma gestão pública assertiva”, pontua.
Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), reforça que tais palavras aparecem tanto entre os candidatos quanto entre os eleitores. A primeira rodada da pesquisa Quaest, divulgada em 22 de agosto, mostrou que, na percepção da população, segurança pública e saúde são os principais gargalos da Capital. O primeiro tema foi apontado por 45% dos entrevistados, já o segundo foi lembrado por 24%.
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O levantamento foi encomendado pela TV Verdes Mares e ouviu 900 eleitores da Capital, com 16 anos ou mais, entre os dias 19 e 21 de agosto. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob protocolo CE-04809/2024. O nível de confiança estimado é de 95% e a margem de erro de três pontos percentuais.
“Esses são temas que obviamente preocupam a população por serem gargalos históricos da cidade, sobretudo a violência, então eles acabam refletindo nessa discussão. A educação é uma questão que preocupa as famílias, a mãe trabalhadora quer um lugar seguro para deixar o filho. Tem ainda a própria qualificação dos jovens, já pensando no mercado, então são galgados. A segurança pública é um tema que atravessa a cidade em diferentes segmentos, a saúde também”, pontua Torres.
As duas pesquisadoras destacam que essa emergência apontada pela população justifica a segurança pública e seus termos correlacionados aparecerem de forma tão recorrente, mesmo com a atuação ostensiva e repressiva sendo responsabilidade do Estado, cabendo ao município as ações preventivas de cidadania.
“Primeiro, tocar em um assunto sensível gera proximidade com o eleitorado, sobretudo aquele que mais sofre com a insegurança pública e que busca soluções imediatas para um problema profundo e estrutural. Segundo, porque o assunto gera engajamento: para muitos eleitores, a linha entre as responsabilidades dos diferentes níveis de governo não é muito clara. Assim, os prefeitos acabam sendo cobrados por questões de segurança pública, mesmo que não seja sua atribuição direta. Candidatos que conseguem apresentar propostas convincentes (não necessariamente factíveis) nessa área podem conquistar mais votos. Por outro lado, candidatos que ignoram esse tema podem ser vistos como insensíveis ou desconectados das preocupações dos eleitores”
Os planos para Fortaleza
Dentre os candidatos em Fortaleza, Capitão Wagner (União Brasil) foi o mais detalhista no documento apresentado à Justiça Eleitoral. As propostas dele estão distribuídas em 103 páginas. No outro extremo está Zé Batista (PTSU), que apresentou diretrizes e propostas em quatro páginas.
Considerando todos os nove candidatos, saúde é a palavra mais citada, em 456 ocasiões. Segurança aparece em seguida, com 214. Ao lado, educação, com 189 menções, e cultura, com 130. Trabalho, inovação, meio ambiente, infraestrutura e renda surgem a seguir. Há ainda termos como vida e áreas, que aparecem de forma recorrente com diferentes aplicações, como "defesa da vida" e "qualidade de vida".
Tão importantes quanto termos citados com frequência são aqueles pouco mencionados ou nem sequer lembrados pelos candidatos.
“Os temas que fazem parte dos planos de governo sinalizam não apenas o perfil do candidato, mas também a popularidade do próprio assunto e a pluralidade política apresentada por cada legenda. Embora diversidade, saúde mental e cultura sejam temas de inquestionável importância, ainda não possuem a necessária visibilidade para a maioria dos partidos. Para tornar o cenário mais complexo, hoje, praticamente todas as candidaturas aqui em Fortaleza levantam pautas de austeridade ao invés das pautas sociais, reflexo da falta de representatividade desses partidos. O resultado não poderia ser outro: distanciamento de algumas das questões socialmente mais relevantes”, ressalta Mariana Dionísio.
Monalisa Torres pondera que alguns candidatos na Capital têm uma forte identificação com setores específicos, como saúde e segurança, o que dá a eles mais embasamento para tratar e propor mudanças nessas áreas, que também são aquelas mais caras à maioria da população.
“Além disso, (a ausência ou pouco foco para alguns temas) também tem a ver com o público, sobre como esses temas têm centralidade ou não na preocupação do eleitor. Estamos discutindo uma eleição majoritária, então quais são os temas que mais agregam? Quais são os temas que mais repercutem? Quais são os temas que mais preocupam e onde é possível antagonizar com alguém propondo alternativas aos gargalos? Esses que ganharão foco. Pontualmente, a depender do público em que eu quero dialogar, é possível que haja um direcionamento para outras áreas mais específicas”
Para o levantamento, o PontoPoder ainda desconsiderou termos vazios de significado para o plano de governo, como pronomes, artigos e preposições. Palavras como "Fortaleza", "política", "Prefeitura", "projeto" e "público" também foram retiradas para restringir o resultado apenas a propostas dos candidatos.
Confira os termos mais citados por cada candidato à Prefeitura de Fortaleza:
André Fernandes (PL)
Com um documento de 41 páginas, André Fernandes divide seu plano de governo em seis eixos, que incluem economia, saúde, educação, segurança pública e sustentabilidade. Entre os postulantes, ele é o que mais se autorreferencia, inclusive, sendo "André" e "Fernandes" os dois termos mais recorrentes no documento. "Saúde" e "segurança" também são mencionadas mais de 40 vezes pelo político. Termos como "cidadãos", "áreas" e "vida", que aparecem em diferentes propostas.
No documento, o postulante destaca a intenção de um modelo de gestão colaborativo, centrado em valores como liberdade, vida e dignidade. Entre as propostas, ele menciona, na saúde, a ampliação dos horários dos postos de saúde.
Capitão Wagner (União)
Com o maior plano de governo apresentado à Justiça Eleitoral, Wagner lista 72 propostas em cinco eixos. Aparecem com destaque os termos "saúde", com 179 registros, "inovação", com 49, e "segurança", com 47. O político trata ainda de "educação" e fala em "escola". Outro termo citado — e que não aparece com a mesma frequência entre os concorrentes — é "saúde mental".
Entre outras propostas, na saúde, ele fala sobre a criação de hospital voltado para idosos, centro de atendimento especializado em autismo, ampliação de postos de saúde e redução de filas de cirurgia. Em segurança, trata da ampliação do videomonitoramento, além de reforçar o papel da Guarda Municipal. Wagner ainda reafirma a promessa de revogar a taxa do lixo.
Chico Malta (PCB)
Chico Malta apresenta um plano de governo de 37 páginas. As propostas são distribuídas em 17 eixos, com foco em saúde, educação, trabalho e moradia. Termos como "trabalhadores", "popular", “cultura” e "poder popular" também aparecem com frequência.
O político defende a criação de conselhos populares com a participação direta da população nas decisões da Prefeitura. A ideia dele é taxar os ricos para financiar serviços públicos de qualidade, moradia digna, saúde e educação para todos. O candidato ainda fala em estatizar o transporte público, criando uma empresa pública municipal para prestar o serviço.
Eduardo Girão (Novo)
Eduardo Girão entrega um plano de 14 páginas. No documento, ele faz um diagnóstico da Capital e aponta soluções, principalmente nas áreas de “saúde”, “segurança”, “emprego e renda”, "cultura", "meio ambiente" e “esporte”. Termos como “família” e “igreja”, que atendem à base conservadora, também aparecem como os mais citados pelo candidato.
Ele planeja convênios com igrejas para ajudar na reinserção social de pessoas vulneráveis. O candidato sugere ainda, dentro outras iniciativas, o uso de drones e helicóptero para ampliar a atuação da Guarda Municipal. Na saúde, ele propõe criar centros especializados para atendimento de pessoas com autismo e fazer parceria com hospitais e clínicas particulares.
Evandro Leitão (PT)
Evandro Leitão tem um plano de 15 páginas onde ele traça sete grandes objetivos. No documento, as palavras "segurança" e "educação" aparecem com maior frequência. Diferentemente de outros postulantes, Evandro dá ênfase em termos como "deficiência" e "transporte", citados 16 vezes cada um.
O político planeja criar espaços especializados em autismo. Ele sugere ainda a manutenção de equipamentos públicos para garantir a acessibilidade. O petista também traça propostas para garantir a segurança viária, reduzindo as mortes no trânsito, e a segurança pública, com a criação de espaços seguros, especialmente para mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
George Lima (SD)
George Lima apresenta um plano de governo de cinco páginas. O documento dá ênfase a questões econômicas, com propostas para "capacitação", "inovação", "empreendedorismo", "investimento" e "trabalho". O candidato também repete sete vezes a palavra "saúde", com planos para o setor.
Ele planeja a criação de um centro para gerar oportunidades de trabalho, além de incentivar a criação de startups, capacitando e fomentando micro e pequenos negócios emergentes. O político pretende investir em capacitação técnica e gerencial de pessoas, além de oferecer crédito para trabalhadores informais, autônomos e desempregados. O candidato quer implantar uma espécie de aluguel social de R$ 200.
José Sarto (PDT)
Atual prefeito de Fortaleza, José Sarto tem um plano de governo de 27 páginas. No documento, ele enfatiza a importância da participação da sociedade na construção do documento. O político traça 12 valores centrais e sete eixos estratégicos. Como palavras mais recorrentes ele usa "saúde”, "educação" e "segurança". O pedetista cita também "inovação", “renda”, "turismo" e "emprego". Ao todo, Sarto apresenta 200 propostas.
O pedetista planeja fortalecer o uso de armamento pela Guarda Municipal, expandir o videomonitoramento e reforçar a segurança no transporte público. Em todas as áreas, ele reforça a intenção de investir em tecnologia, com uso de inteligência de dados, para otimizar os serviços.
Técio Nunes (Psol)
Em 34 páginas de plano de governo, Técio Nunes divide as propostas em cinco eixos e traz como base a participação popular. Entre os termos mais citados pelos candidatos estão "saúde", "cultura", "juventude" e "mulheres". Ele usa também a palavra "vida" de forma recorrente para ressaltar a busca por garantir "qualidade de vida" e "vida digna" para a população.
O plano fala em ampliar a participação cidadã, reforçando a transparência da gestão e promovendo a igualdade e inclusão social, com políticas para jovens, mulheres, LGBTQIA+ e comunidade negra, garantindo acessibilidade a todos. Na saúde, mais citada pelo político, ele defende o fortalecimento de estratégias de saúde da família e mais transparência à fila de atendimentos.
Zé Batista (PSTU)
Zé Batista apresenta um plano de governo dividido em seis eixos. As propostas estão distribuídas em quatro páginas, que incluem ainda considerações sobre a opressão contra mulheres, jovens, negros e homossexuais. Entre as palavras mais citadas, o candidato usa "salário", "trabalhadores", "moradia", "servidores" e "concurso".
O partido defende a valorização do funcionalismo, o fim da privatização dos serviços públicos e a implementação de políticas que promovam a justiça social e a igualdade. Um dos pilares da proposta é a participação popular por meio de conselhos populares com poder de decisão sobre as políticas públicas e o orçamento municipal.