Quais desafios Evandro deve enfrentar na Prefeitura de Fortaleza, segundo especialistas
Da crise na saúde pública à quantidade de secretarias: o PontoPoder ouviu cientistas políticos para mostrar quais devem ser as prioridades do novo prefeito de Fortaleza
Eleito com uma vantagem apertada de apenas 10,8 mil votos, o novo prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), terá diante de si, a partir desta quarta-feira (1º), desafios históricos da Capital cearense e alguns herdados do seu antecessor, o ex-prefeito José Sarto (PDT).
Com uma cidade dividida, em que quase metade dos eleitores manifestou, nas urnas, o desejo de ser governado pelo adversário direto do petista, André Fernandes (PL), Evandro assume a gestão em meio a uma grave crise na saúde pública da Cidade. Episódios de violência na Capital também tornam o grupo político ao qual ele integra alvo de constantes questionamentos.
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Soma-se a isso uma expectativa da população de respostas rápidas e efetivas para tais problemas diante de um alinhamento histórico da gestão municipal com os governos estadual e federal.
Para o professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas, a cidade polarizada promete ser, de cara, o principal empecilho encontrado pelo petista. Para o analista, diante de um cenário de rejeição, ainda que o gestor implemente agendas positivas, uma parcela da população pode continuar resistente a reconhecer esses feitos.
“Olhando para o que foi a eleição e para o resultado, que de certa forma espelhou o resultado nacional, é um desafio político tentar organizar, unificar a cidade após uma eleição bastante divida. Estamos vendo que o presidente Lula não tem conseguido fazer isso nacionalmente, o seu índice de reprovação continua bastante alto, desde o começo do Governo, mesmo com dados positivos da economia (...) Penso que o Evandro terá como primeiro grande desafio achar mecanismos para que a sua desaprovação oriunda das urnas, que foi metade da cidade, não se transforme em uma rejeição constante e estrutural nos seus quatro anos de mandato”
Saúde Pública
“O segundo desafio é a crise na saúde pública que ele está herdando do prefeito Sarto em vários hospitais. O problema do Instituto Doutor José Frota (IJF), por exemplo, não é só de leito, mas também de alimentação, nos contratos das ambulâncias…”, acrescenta.
Cientista política e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Dionísio reforça o enfrentamento à crise da saúde como mais latente na lista de prioridades do prefeito petista.
“Ele deverá solucionar três questões prioritárias, esquecidas na administração Sarto: falta de pessoal, falta de insumos e infraestrutura deficitária. E esses problemas exigem adequada destinação de orçamento e articulação com setores já desgastados, retomada do diálogo com a categoria dos profissionais de saúde e, principalmente, resgate da credibilidade”
Como vem mostrando o Diário do Nordeste, logo após a eleição, veio à tona a crise que atinge a saúde pública de Fortaleza. Além do IJF, o cenário também se estende a outras unidades, onde há falta de medicamentos e insumos básicos, além de atraso nos pagamentos de profissionais.
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Na última sexta-feira (27), Evandro reconheceu o desafio que terá pela frente e reforçou que apostará na parceria dos governos estadual e federal para resolver os problemas no setor. “Eu já iniciei um processo de diálogo, de tratativa com o Governo Federal, com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e estive com o presidente Lula, para a gente iniciar o ano de 2025 já com algum horizonte para repactuarmos esses valores. A primeira coisa é isso”, disse.
Segurança pública
Além da polarização e da crise na saúde pública, Emanuel Freitas e Mariana Dionísio também apontam a insegurança pública como um desafio que perseguirá a gestão Evandro Leitão.
“Embora a segurança pública seja uma atribuição de competência do Governo do Estado, a violência urbana também é um tema que precisa de enfrentamento municipal. Para o prefeito eleito, a articulação entre as forças de segurança é fundamental e precisa atender a uma demanda pública das mais sensíveis para o fortalezense, além de ser uma questão de ordem na promoção do turismo. Fortaleza vivencia desafios severos nessa área, e precisa de inteligência estratégica na condução do problema”, avalia a professora.
Durante a campanha eleitoral, uma das promessas mais reforçadas pelo petista foi a de integrar a Guarda Municipal com as polícias militar e civil, além de instituições do Governo Federal. Para o professor Emanuel Freitas, o alinhamento entre Evandro, o governador Elmano de Freitas (PT) e o presidente Lula (PT) deve facilitar a integração, mas também há ônus.
“O Evandro é um aliado do governador Estado, que responde pela segurança pública, então todas as críticas ao governo estadual irão respingar no seu aliado em Fortaleza. Especialmente porque, durante toda a campanha, eles fizeram aquela história de ‘Fortaleza quatro vezes mais forte’”, aponta o professor.
Gestão pública e política partidária
Emanuel Freitas acrescenta ainda outros desafios para o novo prefeito de Fortaleza. “Tem um desafio político interno também dentro do PT, e a entrevista da ex-prefeita Luizianne Lins para (a live) do PontoPoder mostra claramente isso. Há um desagrado dela com o Elmano e um não-reconhecimento do Evandro como do PT, ela deixa isso claro, que esse não é um governo do PT, não é de esquerda”, aponta.
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Ainda na esteira da política partidária, Mariana Dionísio reforça a necessidade do novo gestor de atender aos anseios dos aliados.
“A vitória apertada de Evandro sobre o candidato do PL indica que o eleitorado de Fortaleza, mesmo diante da polarização, preferiu manter uma trajetória de políticas institucionais mais alinhadas com a esquerda moderada, com a presença de figuras já estabelecidas no cenário político cearense, além de espelhar a prevalência do antibolsonarismo na capital. Agora, é torcer para que a gestão municipal consiga trabalhar de maneira eficiente e inclusiva, administrando a cidade não apenas para seus apoiadores, mas para a coletividade. É preciso reunir forças e reestabelecer algumas alianças políticas para garantir a longevidade dos apoios”, afirma.
“Ele tem outro desafio que é ter uma prefeitura com tantas secretarias, muitas desnecessárias, que vão precisar produzir muito resultado. Ele vai ter que justificar o porquê de tanta secretaria, obviamente que ele está copiando o tamanho das secretarias do Elmano, que por sua vez copiou o tanto de ministérios do Lula”
Diante de todos esses desafios, para Emanuel Freitas, a solução dada por Evandro Leitão a cada um deles deve ser decisiva para a próxima eleição, em 2026, quando o governador Elmano de Freitas deve disputar a reeleição.
“Esses dois anos serão fundamentais para legitimar ou não em Fortaleza a campanha de reeleição do Elmano. Na reeleição do Cid, em 2010, a Luizianne era prefeita e contribuiu grandemente. Na campanha de reeleição do Camilo, o prefeito era o Roberto Cláudio, que contribui bastante. Na metade do governo Evandro haverá a campanha de reeleição do Elmano, então grande parte da legitimação do Governo do Ceará em Fortaleza vai se dar pela aprovação ou não do governo do Evandro”, conclui.