Fórum de Governadores quer reunião com Bolsonaro para discutir crise entre Poderes
Do Ceará, participou a vice-governadora Izolda Cela, que ressaltou a discussão sobre os precatórios do Fundef
Com a escalada de tensão entre os Poderes, inflamada após ataques do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) ao Supremo Tribunal Federal (STF), os governadores devem tentar atuar como mediadores para solucionar a crise e evitar uma ruptura institucional. Em reunião na manhã desta segunda-feira (23), o Fórum Nacional de Governadores resolveu convidar Bolsonaro para uma reunião, na próxima semana, para tratar sobre o cenário atual.
A decisão ocorreu após série de críticas ao presidente pelos ataques feitos ao Supremo, além do pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes - protocolado na sexta-feira (20). Alguns governadores sugeriram manifesto formal do Fórum de Governadores em repúdio às ações do presidente. Contudo, a ideia dividiu opiniões e acabou sendo substituída pela reunião, com objetivo de pacificar a crise institucional.
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Para isso, também serão enviados convites aos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), e para o presidente do STF, Luiz Fux. Os governadores pretendem agir como mediadores para tentar reverter o clima de instabilidade das últimas semanas.
"O objetivo é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz, de serenidade onde possamos garantir a forma de valorização da democracia, mas principalmente criar um ambiente de confiança que permita atração de investimentos, geração de empregos e renda".
A expectativa dos governadores é de que a reunião com o presidente Bolsonaro possa ocorrer já na próxima semana. "Nós vamos nos colocar à disposição de um diálogo. Agora, o diálogo também depende da outra parte. A gente espera que o presidente, até pelo nível da situação a que o Brasil chegou nesse momento, das disputas institucionais, tenha essa atenção com os governadores", afirmou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Vice-governadora do Ceará
A vice-governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), participou da reunião representando o governador Camilo Santana (PT). Entre os pontos que ela destacou durante a reunião, está a discussão sobre os precatórios do Fundef.
"No momento, o estado do Ceará é um dos credores desse recurso, principalmente para esse momento de superação de toda a problemática que a pandemia vem causando", ressaltou. "É um recurso muito importante para os estados que há anos lutam e batalham por esse direito".
Crítica às ações do presidente
A reunião do Fórum de Governadores já estava prevista, mas a discussão sobre o risco de ruptura institucional e defesa da democracia foi incluída de última hora.
A divergência de visões sobre como tratar a crise com o governo ficou clara nas posições do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que discordava de uma manifestação formal de protesto contra Bolsonaro, e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que adotou um tom mais duro.
"O que temos o dever de fazer é defender a democracia, Moisés, e não silenciar diante das ameaças que estamos sofrendo constantemente", disse Doria. O tucano falou ainda do receio quanto às manifestações que vêm sendo convocadas para o dia 7 de Setembro.
"Não apenas do direito de se manifestar contra ou a favor, mas manifestações ruidosas para colocar em risco a democracia, o estímulo, pelas redes sociais, para que militantes do movimento utilizem armas e saiam às ruas armados. Isso não é defender a democracia".
Quanto à preocupação a respeito da atuação de policiais militares nestas manifestações e na crise política, os governadores assumiram compromisso de que as corporações não serão usadas politicamente.
"Aprovamos por parte dos estados um compromisso de que as polícias dos estados estarão atuando na forma e nos limites da Constituição e da lei. É um compromisso do Fórum dos Governadores", afirmou Wellington Dias.
Impacto na economia
Apesar da divergências, os governadores concordaram nos efeitos econômicos negativos da instabilidade política causada pelos constantes ataques de Bolsonaro. "Sem falar na sua postura autoritária de perseguir os Estados e jogar na conta dos governadores os efeitos dessa política econômica nefasta", afirmou o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
"Precisamos de uma pauta de desenvolvimento. Estamos saindo da pandemia e a gente precisa de um ambiente de estabilidade. Precisamos de um ambiente de governança melhor", completou Ibaneis.
Ainda durante a reunião, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), também propôs que seja criado um consórcio dos Estados com ações em defesa do Meio Ambiente. A ideia foi aprovada e a sugestão é que o consórcio seja batizado de "Brasil Verde" ou "Green Brazil".
"A discussão das questões climáticas vai ter cada vez mais importância", lembrou Casagrande. "Nós temos uma capacidade grande de fazer uma articulação para captar recursos para os nossos projetos. Queremos fazer uma imagem diferenciada. Hoje a imagem do Brasil é muito ruim", lamentou.