Legislativo Judiciário Executivo

Em evento no Ceará, Moro e Girão negam falta debate na aprovação da PEC que limita atuação do STF

Favoráveis ao texto, ambos os parlamentares participaram de um evento ao lado do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em Fortaleza

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Girão e moro
Foto: Bruno Leite / Diário do Nordeste

Os senadores Eduardo Girão (Novo-CE) e Sergio Moro (União-PR) rechaçaram, nesta sexta-feira (24), a ideia de que não houve discussão na aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2021, que limita a tomada de decisões individuais pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo Senado Federal. O texto obteve a chancela dos parlamentares numa votação realizada na quarta-feira (22) e agora deverá ser apreciado pela Câmara dos Deputados.

A versão de que não houve discussão com o principal interessado é dos próprios magistrados do Supremo. Decano da Corte, o ministro Gilmar Mendes foi categórico ao considerar a proposição como "ameaça", que não seria tolerada pelos membros do colegiado. Roberto Barroso, por sua vez, disse que o tribunal "vê com preocupação avanços legislativos sobre sua atuação" e destacou a necessidade de um "diálogo institucional" entre os Poderes da República.

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Moro - que cumpriu agenda em Fortaleza no início da noite desta sexta, ao lado do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), - defendeu que a medida em questão não representa nenhum tipo de revanche. "Não tem nenhuma restrição ao Supremo Tribunal Federal. A PEC não foi aprovada em qualquer espécie de retaliação, tanto que ela é de 2021, apresentada pelo senador Oriovisto Guimarães, inclusive lá do Paraná", alegou. 

"Apenas o que a PEC faz é aumentar o poder do colegiado do Supremo Tribunal Federal, e com isso fortalece o Supremo como uma instituição colegiada e dá mais segurança e previsibilidade para as decisões, que passam a ser coletivas", completou o político. Na visão dele, a proposta prevê um "aprimoramento institucional".

O ex-juiz da Operação Lava Jato atribuiu o sentimento dos integrantes do STF ao contexto atual e apontou que a visão acerca da matéria tende a mudar. "Esse tema vem sendo debatido há bastante tempo e tenho certeza que, passado esse primeiro momento de apreensão em relação à emenda, tudo vai se acalmar e vai ser entendido que a PEC fortalece o Supremo e favorece a institucionalidade", declarou.

A perspectiva do ex-magistrado paranaense foi corroborada por Girão, que esteve no mesmo evento do companheiro de plenário e destacou a função do Congresso Nacional como uma instituição cuja função primária é tomada de decisões no âmbito das leis brasileiras. "Para que fique muito claro que nosso papel é legislar. Ele (Moro) foi eleito pelo Paraná e eu pelos cearenses para que a gente possa fazer nosso trabalho. E qual nossa principal tarefa? Legislar e fiscalizar", disse.

Ao que acusou o parlamentar, a PEC 8/2021 é uma proposição que não se opõe ao Supremo e defende, de forma simultânea, os interesses do Congresso Nacional. Para ele, a Suprema Corte teria "jogado por água abaixo" o trabalho legislativo tocado pelo Parlamento em algumas das suas decisões. 

"(...) Você vê a Lei das Estatais e algumas outras deliberações sobre drogas e outras situações, que 513 deputados federais votaram, 81 senadores votaram, presidentes da República com pensamentos opostos, como o Bolsonaro e o Lula no caso das drogas, sancionaram e, numa decisão monocrática, todo o trabalho legislativo que consome bilhões de reais e tempo, foi jogado por água abaixo", pontuou Girão.

Segundo ele, uma vez promulgada, a emenda irá deixar clara a "independência dos poderes" e fortalecer a democracia. "Acho que cada um tem seu papel constitucional. O Congresso está fazendo com muito equilíbrio, com muito debate", acrescentou o entrevistado, salientando que a proposta de emenda "está mais do que madura para avançar".

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