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Em Canindé, novo prefeito diz ter recebido gestão com apenas R$ 11 no caixa: 'raparam todo o dinheiro'

Os servidores estão com salários atrasados atualmente

(Atualizado às 18:01)
Canindé
Legenda: Coletiva de imprensa da Prefeitura de Canindé. Ao centro, vestido de branco, o prefeito Jardel.
Foto: Divulgação

Como tem sido comum em alguns municípios cearenses neste início de ano, a nova gestão de Canindé tem encontrado dificuldades em cumprir as obrigações financeiras após a troca de comando – e de grupo político – no Executivo. O prefeito Professor Jardel (PSB) relatou, na segunda-feira (6), problemas com a folha salarial, dívidas em R$ 29 milhões e saldo de apenas R$ 11 no fundo geral.

É por esse fundo que os servidores da maior parte das secretarias municipais recebem seus salários. Os demais são pagos por fontes específicas, como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). 

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Neste caso, conforme Jardel, a receita do mês passado foi de R$ 12,8 milhões, mas só sobraram R$ 322 mil desse valor para janeiro. 

“Durante oito anos, ela deixou R$ 7 milhões na conta do Fundeb para pagar o servidor, mas apenas nesse mês, coincidentemente quando se mudava o governo, faltando poucas horas para encerrar o ano, fizeram diversos pagamentos a fornecedores e raparam todo o dinheiro”, afirmou a jornalistas.

“Fez pagamentos de fornecedores, como R$ 1,5 milhão de pagamento de livro, R$ 700 mil de material. Compraram apontador, caneta, resma de papel. Como assim? As aulas nem iniciaram ainda”, completou, indicando, ainda, que a prioridade devia ser o pagamento dos servidores. 

Unindo tudo, segundo o prefeito, a folha de dezembro ficou em torno de R$ 14 milhões, que ainda não foram repassados aos trabalhadores. 

Ao PontoPoder, Jardel explicou que tomou ciência da situação financeira da Prefeitura apenas na segunda-feira, primeiro dia útil do ano. Por isso, ainda não acionou os órgãos de controle, como o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e o Ministério Público do Ceará (MPCE), para acompanhamento. Mas isso deve ocorrer na quarta-feira (8).

“Eles fecharam o acesso a essas informações durante a transição. De forma alguma, deram extrato bancário e nem autorização bancária de forma parcial. Só tivemos acesso depois que assumimos a prefeitura”, disse.

O gestor informou que a sua equipe está construindo um “planejamento estratégico” para sair da dívida sem “congelar o município”.

Jardel x Rozário

A questão da folha salarial parece ser o principal gargalo desse início de mandato, pondo a Prefeitura em situação delicada com os servidores e expondo as rusgas com a gestão passada.

“A prefeita não pagou os funcionários de dezembro e foi em rede social, agora no dia 5, afirmar que tinha deixado a folha de pagamento empenhada e liquidada, querendo confundir o povo”, queixou-se Jardel ao PontoPoder.

Ele se refere a Rozário Ximenes (Republicanos), que comandava o município até então. Adversários – o vice de Jardel é Ilomar Vasconcelos, que foi vice de Ximenes e migrou para a oposição –, ambos têm trocado acusações sobre a administração de Canindé. 

“O prefeito eleito prometeu em campanha, e para a Justiça Eleitoral, pagar todos os funcionários no dia 1º de cada mês. Como em todos os meses da minha gestão, deixei todos os efetivos pagos até o mês de novembro, sendo responsabilidade do novo prefeito pagar o mês de dezembro dos servidores em janeiro”, disse a ex-prefeita em postagem nas redes sociais no último domingo (5). 

“Quanto aos contratados, as folhas de novembro e dezembro ficaram empenhadas e liquidadas, e com os recursos assegurados, conforme previsão da Aprece. Espero do gestor compromisso em cumprir sua palavra e pagar os servidores, tanto efetivos como contratados, com os recursos que entraram da competência de dezembro”, completou.

O PontoPoder buscou Rozário Ximenes para esclarecimentos acerca das declarações de Professor Jardel sobre a situação financeira do município, mas não conseguiu contato. 

A rivalidade no campo político não ficou restrita às urnas: a ex-prefeita apresentou denúncia ao Ministério Público que originou todo o processo investigatório sobre a participação do prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz (PSB), e de outros políticos de peso em suposto esquema de caixa 2, compra de votos e associação criminosa. 

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Segundo ela, a estratégia teria como eixos as eleições em Choró e em Canindé, tendo como beneficiados não só Bebeto, mas também a chapa de Jardel e Ilomar. 

Devido a isso, o Ministério Público Eleitoral pediu a cassação do diploma das duas chapas. Segundo as investigações, Bebeto Queiroz teria fornecido R$ 1 milhão para a campanha dos eleitos em Canindé. O esquema pode envolver ainda chapas que concorreram a prefeituras em outros municípios. 

O PontoPoder questionou o prefeito Jardel a respeito desta investigação. O pessebista não respondeu à pergunta da reportagem.

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