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De boas expectativas a críticas de "golpe" e "farsa": o que dizem pedetistas após novas crises no CE

Racha na legenda se intensificou nos últimos dias, após declarações de Ciro e ausência de Cid em encontro regional

Escrito por Alessandra Castro, Luana Barros ,
PDT
Legenda: Em meio à crise interna, lideranças do PDT tentam chegar a um acordo sobre posicionamento do partido em relação ao Governo do Estado
Foto: Arquivo/Diário do Nordeste

Após novos episódios da crise no PDT do Ceará virem a público na última semana, parlamentares da legenda, mais uma vez, se dividem sobre os rumos que o partido deve tomar nos próximos dias. A expectativa é de que, até o fim do mês de julho, lideranças da sigla cheguem a um acordo sobre a direção estadual da agremiação e a posição em relação ao governo de Elmano de Freitas (PT). 

Enquanto não há consenso, as avaliações sobre o cenário de pedetistas vão de "boas expectativas" a críticas por supostas "farsa" e "tentativa de golpe".

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O mais recente desdobramento da crise do PDT é o anúncio do presidente nacional licenciado, Carlos Lupi, de que vai procurar o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), e o governador Elmano para buscar uma unidade entre as legendas no Estado. A declaração foi dada após novos acirramentos entre alas divergentes.

De um lado, Cid Gomes lidera grupo que quer manter aliança com o Governo do Estado e tenta mudar a presidência estadual, atualmente de André Figueiredo, com o senador sendo alçado à função. Do outro, o ex-ministro Ciro Gomes lidera pedetistas que são contra apoiar o Governo Elmano e defendem a manutenção de Figueiredo na liderança partidária.

Ambos os grupos fortaleceram manifestações públicas na última semana em reuniões do partido. O acirramento culminou com a vinda de Carlos Lupi a Fortaleza nesta segunda-feira (26).

A expectativa é neutralizar a oposição pedetista da ala do ex-ministro Ciro Gomes e manter André Figueiredo no cargo. Assim, o principal impasse, que é falta de consenso sobre o posicionamento do partido em torno do Governo, ficaria resolvido. Atualmente, três dos 13 deputados do PDT fazem oposição ao governador Elmano. 

Diante dessa possibilidade, a carta de convocação de uma nova eleição para a Executiva Estadual ainda não foi apresentada à Executiva Nacional, para dar tempo a Lupi. Inicialmente, a carta trazia a previsão de uma nova eleição no dia 7 de julho, conforme informaram parlamentares pedetista. 

O que dizem os parlamentares do PDT

Nesta terça-feira (27), deputados estaduais da legenda repercutiram os últimos episódios. Para Sérgio Aguiar (PDT), a maioria das representações políticas do partido deseja uma recomposição com o Governo do Estado, mediada pelo senador Cid Gomes. Por isso, ele defende o nome de Cid para a presidência da legenda. 

No entanto, Sérgio Aguiar disse estar com boas expectativas de que haja um consenso no partido com a mediação de Lupi. 

"Nós ontem (segunda) tivemos a oportunidade de fazer com que houvesse a assinatura de uma convocação (de eleição do diretório estadual) para o dia 7 de julho, mas deixamos para que a comissão pudesse conversar com o presidente Lupi e com o presidente André para chegarmos a um denominador comum — que pode ser até o adiamento para o final do mês de julho. É público e notório que nós queremos que haja essa nova decisão e que ganhe no voto aquele que for o melhor. Mas defendo, sim, uma chapa consensual para representar o PDT", ressaltou. 

Reunião de Deputado com Cid
Legenda: Deputado e prefeitos se reuniram com Cid na segunda para tratar de desdobramentos da crise do PDT
Foto: Thiago Gadelha

Presente na reunião convocada por Cid na segunda, o deputado Osmar Baquit (PDT) avaliou a intermediação de Carlos Lupi como uma "farsa". Ele é um dos defensores do nome de Cid para o comando do PDT Estadual. 

"Eu já venho dizendo há muito tempo que isso é uma farsa. Quem não ouviu os meus pronunciamentos aqui? Por que é um teatro? Todo mundo sabe que o presidente Lupi não vai deixar que o André saia da presidência. Nós temos a maioria do diretório, 53 membros. Nós vamos fazer a reunião dentro do partido, na calçada, na rua, numa coxia, não importa, mas o presidente nacional não vai reconhecer. O presidente é ele (André Figueiredo), o vice é o Ciro" 
Osmar Baquit (PDT)
Deputado Estadual

Ainda conforme Baquit, caso não haja um consenso, uma nova eleição do diretório será realizada e, se ela não for reconhecida, o caso será judicializado. Ao todo, o Diretório Estadual do PDT é composto por 84 membros. Segundo Baquit, Cid tem 53. 

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Atualmente, André Figueiredo acumula o comando do diretório estadual com a presidência do diretório nacional do PDT. Com a licença de Lupi para o ministério de Lula, ele assumiu em fevereiro a liderança da sigla por ser o primeiro vice-presidente. Já Ciro Gomes é o segundo vice-presidente nacional do PDT. 

"Tentativa de golpe" 

Integrantes da ala pedetista de Ciro Gomes, os deputados Antônio Henrique (PDT) e Cláudio Pinho (PDT) defenderam a manutenção de André Figueiredo no comando do diretório estadual do PDT até dezembro, quando acaba o mandato da presidência do parlamentar. 

Para Antônio Henrique, o que ala cidista está tentando fazer é uma "tentativa de golpe", ao convocar uma nova eleição enquanto o mandato de André é válido.  

"O André Figueiredo está no exercício do mandato como presidente estadual do partido até dezembro. Qualquer tentativa de tirar o André antes de dezembro, nós consideramos que isso é uma tentativa de golpe. Quem quer tirar o André do cargo que ele ocupa mostrando interesse de ajudar o partido, mostrando interesse de construir um novo partido, não pode fazer isso sem estar sentado na cadeira da presidência?" 
Antônio Henrique (PDT)
Deputado Estadual

Ainda conforme Antônio Henrique, a vinda de Lupi ao Ceará é em busca de unificação. Sobre isso, ele "assina embaixo", desde que o partido não vire um "puxadinho" de outra legenda. 

Reunião Lupi
Legenda: Nessa segunda, Carlos Lupi veio ao Ceará para tentar apaziguar tom entre pedetistas
Foto: Luana Barros

"O que o presidente Carlos Lupi está querendo, eu assino embaixo, porque é exatamente a unificação do PDT, junto com pessoas que hoje não são do nosso grupo, partido, mas que podem, com certeza, ajudar em alguma coisa. Agora, o que eu não concordo é que o PDT seja um puxadinho de qualquer outro partido. 

Também da ala do PDT que hoje se posiciona como oposição ao Governo do Estado, o deputado Cláudio Pinho também aponta que Lupi está tentando fazer o partido se "reencontrar". 

"Eu não vejo motivos para tentar um golpe com o André. Se o mandato dele vai até dezembro, então deixa que ele cumpra o mandato. Falta tão pouco tempo. Agora, toda movimentação política tem que ser observada. Há uma movimentação, eu não posso falar o que se passou na reunião, mas eu posso falar o que vi pela imprensa: o presidente Lupi tentando fazer esse diálogo para que o partido possa se reencontrar e que saia com as coisas definidas", frisou Cláudio Pinho. 

Apesar de acreditar na condução de Lupi, Cláudio Pinho também faz ponderações sobre os próximos passado do PDT. Para ele, o partido não deve botar "pressão" para tomada de decisão a favor ou contra o Governo. 

"Eu tenho a minha liberdade. Algumas matérias, eu voto favorável ao Governo, e outras eu voto contrário. O partido não está colocando cabresto em ninguém. Se as pessoas estão com esse intuito, nós temos que observar. Eu defendo que o diálogo deve ser permanente para que a gente possa encontrar unidade"
Cláudio Pinho (PDT)
Deputado Estadual

A deputada Lia Gomes (PDT), irmã de Cid e Ciro, preferiu não se posicionar sobre o assunto. Já o deputado Queiroz Filho (PDT) disse apenas que vai "aguardar o deslinde disso com muita tranquilidade". 

"Não quero instigar nada de forma nenhuma", acrescentou Queiroz. 

'Puxadinho do PT'

Ao contrário das outras casas legislativas, a Câmara Municipal de Fortaleza reúne o maior número de parlamentares do PDT alinhados ao ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Domina, então, uma defesa da continuidade da gestão de André Figueiredo e também de "autonomia" do partido frente ao PT e ao Governo Elmano. 

Câmara Municipal de Fortaleza, vereadores do PDT
Legenda: Diferente da Assembleia, na Câmara Municipal a maioria dos pedetistas são aliados ao ex-ministro Ciro Gomes e ao ex-prefeito Roberto Cláudio
Foto: Cmfor/Divulgação

Apesar disso, existe otimismo quanto a uma resolução da crise, principalmente devido à mediação do ministro da Previdência, Carlos Lupi. A expectativa é de que a solução venha o quanto antes e possa não ter impactos negativos na eleição de 2024 - na qual muito dos vereadores devem tentar a reeleição. 

O vereador Iraguassú Filho (PDT) ressalta que Lupi é "respeitado" tanto pelo grupo liderado pelo senador Cid Gomes como pela ala alinhada com o ex-prefeito Roberto Cláudio e o ex-ministro Ciro Gomes, algo que pode facilitar o "caminho de conciliação" dentro do partido. 

"A gente precisa encerrar esse ciclo do que aconteceu em 2022. Às vezes, eu tenho o sentimento de que 2022 ainda não virou, do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro", ressalta o parlamentar.

Quanto a isso, a solução encaminhada após reunião de Lupi com comissão formada por aliados a Cid, de aproximação com o Governo Elmano e o PT, não é algo descartado por todos os parlamentares municipais do partido. 

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"Nós vivemos essa recentemente, até o ano passado. Essa aliança vinha de muito tempo", ressalta o líder do PDT na Câmara Municipal, Didi Mangueira. Ele aponta que é possível "uma reacomodação" a respeito da relação entre os dois partidos, inclusive lembrando que existe uma aliança entre PT e PDT a nível nacional. 

"É um grupo que vem caminhando juntos há 16 anos. Então, houve, no momento da eleição em 2022, uma ruptura, uma divergência, mas eu acho que a gente precisa ter a maturidade, todo mundo sentar à mesa", concorda Iraguassu Filho.

O vereador Raimundo Filho (PDT), por sua vez, considera que, no atual momento, "é difícil" essa conciliação, já que o PT deve lançar candidatura própria à Prefeitura de Fortaleza, rivalizando com o prefeito José Sarto. 

Vice-presidente da Câmara Municipal, Paulo Martins (PDT) ressalta a necessidade de "manter o PDT com protagonismo". "O PDT é um partido histórico e a gente vê o senador Cid, com todo o respeito, já quer se aliar  realmente ao PT, (para) ser ali digamos um puxadinho do partido", critica.

O vereador Lúcio Bruno (PDT) também critica a possibilidade de "transformar o PDT num puxadinho do PT". Para o parlamentar, é necessário "maturidade" entre os que lideram o PDT para "entender que há divergências, opiniões contrárias que têm que ser respeitadas". 

"A posição do PDT de Fortaleza, o diretório municipal, já foi tirada, que é uma decisão de oposição ao governo Elmano. Volto a dizer, essa é uma posição do diretório municipal do PDT. Eu acho que o diretório estadual, caso venha, de fato, a ter essa decisão de apoiar o governo, que ele respeite a opinião do PDT municipal". 
Lúcio Bruno (PDT)
Vereador de Fortaleza

Impacto nas eleições

Os vereadores do PDT ressaltaram o desejo por um consenso e uma resolução do conflito, que possa favorecer a unidade partidária. Eles ressaltaram que confiam nos diálogos que estão sendo feitos pelas lideranças, mas admitem que é uma tarefa difícil a resolução da crise, instalada desde a eleição de 2022. 

"Estou há dois anos e meio na Câmara e (...) já vimos coisas mais difíceis do que isso", afirma o vereador Júlio Brizzi (PDT). Ele foi o único parlamentar municipal a integrar a comissão que se encontrou com Lupi na segunda-feira. "Foi um diálogo bom. O Lupi é uma pessoa conhecida e tem uma missão difícil, mas através do diálogo, da conversa, da paciência eu espero que tudo dê certo".

Líder do Governo Sarto, o vereador Carlos Mesquita (PDT) ressalta que é positivo a discussão estar ocorrendo "com tempo para a próxima eleição". "É muito bom que tem essa disputa agora, que está em tempo ainda de se arrumar e as pessoas que se sentirem incomodadas, tem a oportunidade de sair, de ir para outros partidos. Eu espero que não aconteça", disse.

Para ele, existem "briguinhas" e "fofocas" na crise interna do partido que, por vezes, sequer partem "dos protagonistas" do partido. "Eu espero que eles entrem em acordo e tenham no prefeito Sarto nosso candidato à reeleição", defende. 

Faltando mais de um ano para as eleições, os vereadores falam das preocupações que o impasse vivido pelo partido pode ter em 2024 - quando muitos deles devem ser candidatos a reeleição para a Câmara Municipal. 

"Preocupa porque o partido está dividido. (...) A disputa vai ser grande e a gente já tem visto hoje, em 2023, um ano antes da eleição, como é que tá o clima, com os debates bem adiantados", pondera Paulo Martins. 

Raimundo Filho concorda e diz que, atualmente, o PDT é uma "incógnita", já que não se sabe "como é que vai ficar" ou "com quem vai ficar" o partido. "Nós não sabemos ainda como é que vai ficar a questão da chapa, da montagem da chapa. (...) É uma situação que nós vereadores estamos ansiosos pra tentar entender o que irá acontecer até pra gente resolver a nossa própria situação para as eleições do próximo ano", ressalta.

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