Como impasses com Moro e Doria impactam nas estratégias eleitorais no Ceará, segundo especialistas
Movimentações recentes dos pré-candidatos João Doria (PSDB) e Sérgio Moro (Podemos) alteram o jogo político
A terceira via, que pretende se consolidar como uma alternativa à polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições, segue indefinida.
Nesta quinta-feira (31), faltando apenas seis meses para o pleito, pré-candidatos que se destacam nessa via, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), devem anunciar mudanças no tabuleiro político, com uma possível desistência da candidatura à presidência, no caso de Doria, e uma possível mudança de partido, no caso de Moro.
Veja também
Mas, essas movimentações, que são em nível nacional, afetam a disputa eleitoral no Ceará? Em que nível? É possível que, no Estado, alguém se fortaleça ou se enfraqueça diante do novo cenário?
Fortalecimento da oposição
Se sair do Podemos, Moro deve migrar para o União Brasil (UB), partido que, no Ceará, é chefiado pelo pré-candidato de oposição ao Governo, Capitão Wagner.
Dessa forma, mesmo que o ex-juiz desista de se candidatar à presidência do País, visto que o UB ainda busca um nome consensual na coligação para disputar ao cargo, o partido, em âmbito estadual, ganha novos aliados e se fortalece, no entendimento do cientista político Cleyton Monte, que é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Veja também
“O União Brasil é, neste momento, comandado pelo Capitão Wagner, principal nome da oposição. Então, quanto mais espaço, mais força e aliados o partido tiver em nível nacional, isso impacta na disputa, ajuda a oposição aqui no Ceará”, acredita o especialista.
Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), também acredita que Wagner ganha com a chegada de Moro ao UB.
"Se o Moro entra para o União Brasil e ficar candidato a presidente, deixa o Wagner bem colocado entre candidaturas anti-corrupção e anti-esquerda", entende. No entanto, para o cientista político, isso é "uma espada de dois gumes", porque leva a candidatura de Wagner ainda mais para a extrema direita em um Estado que tem histórico de vitória para candidatos da esquerda.
Palanques mistos
Da mesma forma que o grupo governista deve trabalhar com um palanque duplo no Ceará, tanto para Lula como para Ciro Gomes (PDT), que também é pré-candidato à presidência, a ida de Moro para o UB deve fazer com que a oposição também articule palanques mistos, tanto para o presidente Bolsonaro como para Moro ou o candidato que, porventura, o UB decidir lançar ou apoiar.
Em sua filiação ao partido, neste mês, Wagner já disse que não garantiria apoio exclusivo a Bolsonaro no Ceará. "Ele já sinalizou isso como se já soubesse dessa movimentação de bastidor", ressalta Emanuel.
"Nosso palanque é amplo de oposição. (...) Todo apoio que vier, a nível nacional, será bem-vindo. Havia uma dúvida de que 'o Capitão vai estar com o candidato A, com Moro, com Bolsonaro'. A nível estadual, nosso palanque vai permitir, por exemplo, se o MDB vier, que peça voto para o candidato deles à presidência", disse Wagner, à época.
Para Cleyton Monte, "quanto maior a coligação, mais difícil é fechar com um único nome nacional".
PSDB enfraquecido
A saída de Doria da terceira via deve impactar diretamente nas articulações do PSDB no Ceará, segundo Emanuel Freitas. Isso, porque ele entende que a decisão dificulta a manutenção dos quadros do partido nas casas legislativas.
Veja também
O presidente do partido no Ceará, Luiz Pontes, nega que os tucanos fiquem enfraquecidos e defende que a sigla construa um nome mais forte para a disputa. "O PSDB tem que estar trabalhando para trazer um nome que possa tirar o Brasil dessa situação. Em torno de um nome que possa realmente representar a terceira via", disse ao Diário do Nordeste na manhã desta quinta (31).
Com a indefinição sobre a manutenção da pré-candidatura de Doria, o nome do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que foi derrotado nas prévias da legenda como pré-candidato, voltou aos holofotes.
O cientista político Cleyton Monte, acredita, por sua vez, que, no que diz respeito às eleições para o Governo do Estado, a movimentação de Doria não deve ser relevante. "As pré-candidaturas, por exemplo, do Moro e do Doria, são muito incipientes no Ceará. Não vejo muito impacto. Para esses pré-candidatos, o Ceará nunca foi estratégico", pontua.