Com fuzis e helicóptero em busca de Lázaro, parlamentares "justiceiros" expõem politização do caso
Para especialistas, esse tipo de comportamento traz riscos à política e à discussão do combate à violência no Brasil
Com armas em punho e até helicóptero, parlamentares, inclusive do Ceará, têm saído à "caça" de Lázaro Barbosa, foragido há 18 dias, suspeito de cometer assassinatos em Goiás. As cenas de "justiceiros" protagonizadas por membros do Poder Legislativo abrem o debate sobre a politização do caso.
Para especialistas em Ciências Sociais e Segurança ouvidos pelo Diário do Nordeste, esse tipo de comportamento expõe a espetacularização da política e reforça a reprodução de atos violentos por parte do Estado.
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Os "justiceiros"
Há mais de uma semana que o vereador de Fortaleza, Inspetor Alberto (Pros), policial civil aposentado, está no interior de Goiás em busca de Lázaro Barbosa.
Nas redes sociais, o parlamentar exibe armas, coletes à prova de bala e outros equipamentos de segurança.
"Prepara os teus 'coro', porque eu não tô indo para brincar, eu tô indo para fazer o que aprendi em mais de 30 anos de polícia", disse nas redes sociais.
Na semana passada, a deputada federal Magda Mofatto (PL-GO) publicou um vídeo a bordo de um helicóptero e portando um fuzil, afirmando que pegaria o suspeito.
"Te cuida, Lázaro. Se o Ronaldo Caiado (governador) não deu conta de te pegar, eu estou indo aí te pegar", afirmou em seu perfil na internet.
Outro parlamentar que protagonizou cenas de "caça" a Lázaro Barbosa foi o deputado federal da Bahia, pastor Sargento Isidório (Avante).
Camuflado entre folhas, ele aparece em um vídeo com uma Bíblia na mão e um tronco.
"Você não está vendo que isso é coisa do diabo? Lázaro não sai para fora, que nós vamos lhe encontrar. Vamos lhe buscar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", gritou no vídeo publicado em seu perfil.
Efeitos na política e segurança
Para a cientista política Carla Michele Quaresma, professora do Centro Universitário Estácio do Ceará, esses comportamentos expõem a espetacularização da política e são "planejados" para agradar um eleitorado.
É muito mais fácil manter a legitimidade quando você diz o que o seu público quer ouvir. A política nunca foi somente o apelo à racionalidade. As pessoas gostam, de uma maneira geral, de casos apelativos e é a oportunidade que elas têm de aparecer. É uma estratégia. Na política, principalmente, não existe nada gratuito
O filósofo Uriban Xavier, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), vai além e vê que esses "políticos-herois" alimentam a "guerra de todos contra todos", deturpando o papel do Estado no combate à violência.
A gente vê total desvinculamento de alguns políticos do que seria o compromisso com a população. Esse tipo de atitude acaba consolidando na sociedade uma ideia de justiça vingativa, no sentido de Estado repressor, muito mais do que ser reparador e intimidador da reprodução da violência
Pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da UFC, Ricardo Moura diz que ações "espalhafatosas" como essas não contribuem em nada para localizar o foragido.
A caçada a Lázaro transformou-se em uma plataforma pró-armamentos e um desfile de virilidades. A inteligência policial trabalha a partir de uma rede de informantes, do sigilo e do estabelecimento de relações de confiança entre a população e a polícia. Nada disso tem sido demonstrado nessa caçada midiática
Megaoperação
As buscas por Lázaro Barbosa chegaram, neste sábado (26), ao 18º dia. Ao todo 270 agentes da Segurança Pública integram a megaoperação para capturar o homem e contam com a ajuda de helicópteros e cães farejadores.
Além das quatro pessoas da mesma família que foram mortas na chacina em Ceilândia (DF), o homem é suspeito de cometer outros sete crimes, de acordo com o Governo de Goiás.