Pedido para que buscas por Lázaro Barbosa não sejam feitas em templos religiosos é negado

Entidade que representa religiões de matrizes africanas alega que durante força-tarefa houve invasão a templos. Caçada chega ao suspeito 18º dia

Escrito por Redação ,
Buscas por Lázaro Barbosa
Legenda: Juiz considerou que a concessão do habeas corpus seria um "salvo-conduto" para que algum dono de templo religioso resista ao trabalho dos servidores públicos, já que as composições precisam averiguar qualquer tipo de local para encontrar o foragido
Foto: Reprodução/TV Globo

O Poder Judiciário do Estado de Goiás negou o pedido do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro) para que buscas por Lázaro Barbosa sejam feitas em templo religiosos, principalmente na região de Cocalzinho de Goiás. As informações são do G1.

De acordo com a entidade, há registros de agressões, ameaças e destruição de símbolos sagrados pelos agentes da força-tarefa que visa prender o suspeito da Chacina em Ceilândia e de diversos outros ataques. A caçada por ele chegou ao 18º dia neste sábado (26).

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A reportagem perguntou ao Idafro na noite de sexta-feira (25), via e-mail, se a instituição recorrerá da decisão e aguarda a resposta.

Para o juiz Fábio Cristóvão de Campos Faria, que negou o pedido de habeas corpus, o Idafro fez a solicitação sem comprovar previamente que os templos religiosos são, de fato, membros ou associados da entidade.

Em outras palavras, até prova em contrário, a força-tarefa policial age de acordo com as prerrogativas outorgadas no Tema 280 do STF, na medida em que não restam dúvidas de que, em virtude da proporção que o caso Lázaro Barbosa tomou
Fábio Cristóvão de Campos Faria
Juiz

'Fundadas razões'

Também na interpretação do magistrado, há "fundadas razões" para a entrada em qualquer moradia particular, órgão público, estabelecimento comercial, templo religioso de qualquer culto, inclusive no período noturno, sem a necessidade de mandado judicial.

Ele ainda considerou que a concessão do habeas corpus seria um "salvo-conduto" para que algum dono de templo religioso resista ao trabalho dos servidores públicos, já que as composições precisam averiguar qualquer tipo de local para encontrar o foragido.

A decisão do juiz Fábio Cristóvão de Campos Farias foi publicada na quarta-feira (23), mesmo dia em que o Idafro ingressou com a ação.

Megaoperação

Os 270 agentes da Segurança Pública que integram a megaoperação para capturar Lázaro Barbosa  contam com a ajuda de helicópteros e cães farejadores.

Na última quinta-feira (24), o secretário da Segurança Pública do Estado de Goiás, Rodney Miranda, informou que além das quatro pessoas da mesma família que foram mortas na Chacina em Ceilândia (DF), o homem é suspeito de outros sete crimes.

Invasões

Segundo líderes de religiões de matrizes africanas em Cocalzinho de Goiás e Águas Lindas de Goiás, onde a força-tarefa está concentrada, desde 15 de junho, os servidores públicos agiram com truculência durante a caçada pelo criminoso.

Também conforme o Idafro, “pelo menos 10 templos afro-religiosos foram vítimas de incursões policiais abusivas e violentas, sendo certo que, temendo as costumeiras represálias, somente uma parte das lideranças religiosas manifestou-se publicamente”.

Na decisão do magistrado, há relatos de sete templos religiosos que teriam sido invadidos várias vezes em um mesmo dia. Um deles apontou três invasões pelos agentes no dia 17, duas no dia 18 e cinco no dia 19 de junho.

A entidade ainda chamou atenção para um templo religioso que teria sido invadido às 23h do dia 16 de junho, quando um caseiro "foi agredido fisicamente" pela força-tarefa, "gerando Boletim de Ocorrência (B.O).

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Chacina em Ceilândia

De acordo com a Polícia Civil, Lázaro Barbosa cometeu uma chacina contra uma família em Ceilândia no dia 9 de junho. O homem é suspeito de assaltar uma fazenda e matar a tiros e facadas quatro pessoas:

  1. Cláudio Vidal, de 48 anos - pai do jovem e do adolescente, e marido de Cleonice Marques;
  2. Gustavo Vidal, de 21 anos - filho do casal;
  3. Carlos Eduardo Vidal, de 15 anos - filho do casal;
  4. Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos - mãe do jovem e do adolescente esposa de Cláudio Vidal; foi sequestrada e morta. O corpo dela foi encontrado no dia 12 de junho, em uma mata próxima ao imóvel da família.

A tia de Lázaro Barbosa, Zilda Maria, relatou que ele ligou para a mãe, Eva Maria de Souza, dois dias depois do fato e contou que não agiu sozinho na ocasião.  

Segundo a tia, a mãe do suspeito estava em um ônibus, voltando para Barra do Mendes, na Bahia, quando recebeu a ligação do filho.

Na conversa, ele perguntou se a mãe, Eva Maria de Souza, estava bem e falou que não era ele que estava com a mulher (Cleonice Marques, que até então estava desaparecida).

Suspeitos de facilitar fuga são presos

Na última quinta-feira (24), a força-tarefa montada para capturar Lázaro Barbosa prendeu dois suspeitos de facilitar a fuga dele e encontrou o esconderijo onde ele poderia estar abrigado, em Girassol, distrito de Cocalzinho de Goiás.

Na ofensiva, foram apreendidos com os dois suspeitos presos - que não tiveram a identidade revelada - 50 munições e duas armas de fogo. Uma delas havia sido roubada.

O secretário da Segurança Pública, Rodney Miranda, acredita que há uma “rede criminosa” que apoia o "serial killer do Distrito Federal".

Pedido de cela separada

Na segunda-feira (21), a Defensoria Pública do Distrito Federal pediu à Vara de Execuções Penais que, quando Lázaro Barbosa for preso, fique em uma cela separada dos demais internos. No entanto, a Justiça do DF negou a solicitação do órgão no mesmo dia.

A juíza Leila Cury classificou que, agora, o requerimento do órgão é "inoportuno", pois depende "da concretização de fatos futuros e incertos". 

Conforme a magistrada, caso Lázaro seja capturado, ainda não se sabe se ele será transferido ao Distrito Federal, já que as buscas por ele estão concentradas em Goiás. Com a negativa da Justiça, a Defensoria Pública recorreu da decisão.

Fuga da cadeia

Antes de cometer os delitos neste ano, Lázaro Barbosa já havia fugido de presídios várias vezes. A primeira foi em março de 2016, quando ele escapou do Centro de Progressão Penitenciária (CPP), em um "saidão" de Páscoa.

O então presidiário ganhou o benefício depois que ele, que cumpria pena em regime fechado, conseguiu progressão para o semiaberto.

Carta escrita por Lázaro Barbosa e enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a progressão da pena para o regime semiaberto
Legenda: Carta escrita por Lázaro Barbosa e enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a progressão da pena para o regime semiaberto
Foto: Reprodução

Ficha criminal de Lázaro Barbosa

  • 2007: capturado sob acusação de um duplo homicídio no município Barra dos Mendes, na Bahia. Dez dias de ser preso, no entanto, ele fugiu e até hoje é tido como foragido pela polícia local
  • 2009: o criminoso migrou para Brasília, onde ficou em reclusão no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP). Os ilícitos atribuídos a ele era porte ilegal de arma de fogo, estupro e roubo
  • 2013: o mesmo presídio emitiu um laudo psicológico informando que o homem era um "psicopata imprevisível". O diagnóstico foi elaborado a partir da conduta agressiva e impulsiva, assim como pela instabilidade emocional e falta de controle e equilíbrio do preso
  • 2014: a Justiça autorizou a conversão da prisão de Lázaro Barbosa para o regime semiaberto
  • 2016: voltou a sumir do radar das forças de segurança
  • 2018: fora do sistema prisional do Distrito Federal, foi alcançado pela polícia de Águas Lindas de Goiás e novamente preso por porte ilegal de arma de fogo, homicídio qualificado, roubo e estupro. Em julho do mesmo ano, escapou da detenção
  • 2020: foi indiciado por roubo mediante restrição da liberdade de quatro idosos e emprego de arma branca durante tentativa de latrocínio em uma chácara em Santo Antônio do Descoberto, em Goiás

O que é um serial killer?

A série de ataques realizados por Lázaro Barbosa em um curto espaço de tempo e as informações divulgadas pela Polícia Civil sobre sua personalidade levaram os internautas a chamarem o suspeito de 'serial killer'.

Um assassino em série é aquele que comete crimes com determinada frequência e tem um 'modus operandi' para agir, com características do crime que representam sua marca. 

A criminologista especialista em serial killers Ilana Casoy, que escreveu um roteiro sobre o caso de Suzane von Richtofen, afirmou ao portal G1 que esse não é o momento de definir o perfil psicológico de Lázaro.

"Ele é um fugitivo e precisa ser parado, ser preso porque é um cara de alta periculosidade, de grande experiência e está matando no caminho. Não é hora de pensar se ele é um serial killer, se teve uma infância traumática ou não, se ele é frio, psicótico, esquizofrênico, psicopata".

 

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